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Comércio do Amazonas entrou em campo negativo nos últimos 12 meses

Marco Dassori

Twitter: @marco.dassori  Instagram: @jcommercio

O varejo amazonense registrou novo aquecimento em maio, o “mês das mães e das noivas”. A alta foi de 1% em relação a abril, em meio ao anúncio de novas lojas e contratações sazonais. Foi um resultado positivo, embora menos vigoroso do que o anterior (+4,5%). Mas, o confronto com o mesmo mês do ano passado – período de restrições sanitárias para lojistas, mas de níveis mais baixos de inflação e juros – mostrou retrocesso de 4,3% nos resultados. O Estado ficou abaixo da média nacional, que conseguiu garantir estabilidade graças ao crescimento de segmentos de menor valor agregado.

O comércio do Amazonas segue no azul nos cinco primeiros meses de 2022 (+6%), mas entrou em campo negativo no acumulado dos últimos 12 meses (-2,5%). Em todo o país, houve aumento de 1,8% e decréscimo de 0,4%, respectivamente. Em sintonia com o aumento dos juros e das taxas de endividamento, subsetores dependentes de crédito, como veículos e material de construção, tiveram desempenho ainda pior. A inflação, por outro lado, segue inflando artificialmente o faturamento das empresas e inibindo vendas. É o que revelam os dados da PMC (Pesquisa Mensal do Comércio), divulgada pelo IBGE, nesta quarta (13).

Na passagem de abril para maio, o varejo apresentou resultados positivos em 18 das 27 unidades federativas brasileiras. Os destaques positivos vieram de Minas Gerais (+3,6%), Rio Grande do Sul (+3,1%) e Roraima (+3,1%). No extremo oposto, Rondônia (-2,8%), Rio Grande do Norte (-2,3%) e Tocantins (-2,1%) tiveram os piores números. O crescimento de 1% no mesmo período, por outro lado, fez o Amazonas despencar da primeira para a 12ª colocação.

A despeito do tombo anual de 4,4%, o Estado subiu do 25º para o 23º lugar no ranking nacional do IBGE, em meio a dez resultados negativos e duas estagnações. Roraima (+11%) e Amapá (-10,6%) protagonizaram os extremos.  No acumulado de janeiro a maio, o comércio amazonense caiu da quarta para a nona colocação, em uma lista iniciada também por Roraima (+11,4%) e encerrada por Pernambuco (-5,5%).

Receita e crédito

Vitaminada novamente pela inflação, a receita nominal do varejo amazonense foi melhor em todas as comparações de longo prazo. Houve alta de apenas 0,1% na variação mensal, em performance mais fraca do que a de abril (+3%), a despeito do recuo efetivo no volume de vendas no período. Em relação a maio de 2021, a elevação chegou a 4,8%. Os acumulados do ano (+14,1%) e dos últimos 12 meses (+8,5%) seguiram no azul e também foram mais generosos. O Amazonas ficou atrás da média nacional (+0,4%, +17%, +16,8% e +13,6%) em todas as comparações.  

Em todo o Brasil, o comércio foi alavancado por seis das oito atividades investigadas pelo IBGE, entre abril e maio. As melhores influências vieram de livros, jornais, revistas e papelaria (+5,5%); artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (+3,6%); tecidos, vestuário e calçados (+3,5%); combustíveis e lubrificantes (+2,1%); equipamentos e material para escritório informática e comunicação (+2%); e hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (+1%). Na outra ponta, móveis e eletrodomésticos (-3%), e artigos de uso pessoal e doméstico (-2,2%) encolheram.

Em razão do tamanho da amostragem, o IBGE ainda não segmenta o desempenho do comércio no Amazonas. Sabe-se apenas que o varejo ampliado local, que inclui veículos e material de construção, teve desempenho ainda pior. Houve queda de 3,1% entre abril e maio, eliminando parte do ganho anterior (+6,2%). Mas o tombo ante maio de 2021 (-4,8%) também foi maior, influenciando nos acumulados do ano (+4,1%) e dos 12 meses (-3,6%). As médias nacionais foram +0,2%, -0,7%, +1% e +0,3%, na ordem. 

“Contenção de consumo”

O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, explicou à reportagem do Jornal do Commercio que o cálculo dos números do varejo amazonense na pesquisa é dessazonalidado, não levando em conta datas comemorativas, mas apenas o “mês limpo”, que também teve três dias úteis a mais. Na análise do pesquisador, a conjuntura macroeconômica desfavorável é o principal motivo para as oscilações de desempenho amargadas pela atividade, o que também dificulta projeções.  

“A comparação com o mês anterior foi boa. Mas, todos os outros indicadores mostraram quedas.Os dados do comércio ampliado tiveram quedas até mais expressivas, demonstrando que automóveis, peças e materiais de construção, tiveram vendas ainda mais baixas que o comércio normal. A alternância entre aumentos e quedas não possibilita cenários positivos para os meses futuros. Há o peso da inflação e contenção de consumo por parte da população, assim como influência da alta dos juros sobre vendas à prazo”, frisou.

Em texto veiculado pelo site da Agência IBGE de Notícias, o gerente da pesquisa, Cristiano Santos, assinalou que os números nacionais da pesquisa mostram um cenário de estabilidade na passagem de abril para maio. “Mas, apesar de vir de quatro resultados positivos, as taxas foram decrescentes. Observamos uma retomada no comércio varejista, mas que vem de uma base baixa, dezembro, e sempre fazendo um acúmulo menos intenso ao longo desses meses”, ressalvou.

O pesquisador lembra também que o segmento de móveis e eletrodomésticos, uma das atividades do comércio brasileiro que amargaram queda na variação mensal de maio, não superou seu patamar pré-pandemia, pois teve perdas consideráveis no ano passado. “Durante a pandemia, esses itens tiveram um ganho importante devido às substituições que as pessoas fizeram pelo fato de estarem mais em casa. Após essa demanda extraordinária, esses produtos passaram a ter menos importância no orçamento das famílias, sobretudo eletrodomésticos”, analisou.

“Famílias precavidas”

Em entrevistas anteriores à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente da assembleia geral da ACA (Associação Comercial do Estado do Amazonas), Ataliba David Antonio Filho, reforçou que o varejo amazonense vem sofrendo os impactos da escalada da inflação e, principalmente, dos preços dos combustíveis, em razão do avanço do custo dos fretes. Para o dirigente, as restrições orçamentárias e o aprendizado acumulado nas duas ondas da pandemia estão impactando no comportamento do consumidor.

“As famílias estão mais precavidas, não apenas pelas dificuldades sofridas nesse período, mas porque também criaram uma consciência maior em relação aos seus gastos. Mas, acredito que o dinheiro deve circular bem pelo setor até certo ponto. Pelo menos até outubro, que é mês de eleições. Daí em diante, fica uma interrogação”, finalizou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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