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Câmbio aumenta custos da indústria

Câmbio aumenta custos da indústria

A variação cambial pesou mais nas despesas industriais no primeiro trimestre deste ano, em um período ainda anterior à crise da covid-19. Em paralelo, o custo de capital de giro também aumentou para as empresas no mesmo período, ajudando a afunilar ainda mais as margens de lucro das companhias, conforme sondagem da CNI (Confederação Nacional da Indústria).

O Indicador de Custos Industriais avançou 2,4%, na comparação do acumulado de janeiro a março de 2020, com o último trimestre do ano passado. A variação ocorreu, em decorrência do incremento de 6,8% no valor dos insumos importados e de 7,9% no preço de óleo combustível. O maior peso no passivo da indústria aponta para perda de lucratividade do setor, já que a correção nos preços de seus produtos não passou de 1%, no mesmo período. 

De acordo com a base de dados do BC (Banco Central), o dólar começou o ano cotado em R$ 4,03 e encerrou março valendo R$ 5,19, o que equivale a uma valorização de 28,78%. E a tendência é que os custos industriais tenham sido ainda mais vitaminados no período da pandemia, dado que o preço da moeda americana continuou escalando e abril – quando encostou nos R$ 6 – até voltar a se situar no patamar dos R$ 5,30, em média, entre maio e junho.

Por outro lado, a CNI aponta que a desvalorização do real em relação ao dólar aumentou a competitividade dos produtos brasileiros no exterior e no mercado doméstico. O preço, em reais, dos produtos manufaturados nos Estados Unidos aumentou 7,4%, enquanto o preço dos produtos manufaturados importados, em reais, teve um aumento de 6,1%. 

O dado negativo é que o percentual da produção do PIM destinada a vendas externas ainda é irrisório, residual e não ultrapassa um dígito, já que o foco da indústria incentivada de Manaus é, desde sempre, o mercado doméstico brasileiro. A Suframa informa que as exportações de motocicletas, televisores, barbeadores e outros produtos do Polo somararam US$ 95.54 milhões no primeiro trimestre de 2020, alta de 12,81% sobre o mesmo período do ano anterior (US$ 84.69 milhões). Em contrapartida, o faturamento do PIM superou os US$ 5,70 bilhões, no mesmo período. 

O custo com capital de giro foi outro fator que comprometeu as margens do setor. Cresceu 3,7% no primeiro trimestre de 2020, apesar de um recuo de 15% na média trimestral da taxa Selic, na comparação do primeiro trimestre deste ano com o período que vai de outubro a dezembro de 2019. A CNI observa que houve aumento da inadimplência na carteira de crédito de capital de giro de pessoas jurídicas dos bancos, segundo o Banco Central. O aumento significativo da incerteza e da aversão ao risco, em virtude do começo da pandemia, completam o quadro apresentado pela entidade.

Custo Brasil

O presidente do Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas), Wilson Périco, salienta que a variação cambial é um problema que vai existir sempre e lembra que há outros dados do Custo Brasil que ainda pesam sobre o setor, como encargos trabalhistas, carga tributária, logística e energia, que tiram competitividade do setor.

“O aumento se dá por conta disso. Os insumos que adquirimos, em sua grande maioria, são produzidos na Asia, especialmente eletroeletrônicos. O Brasil exporta insumos primários, a exemplo de aço e cobre, ao mesmo tempo em que importa derivados desses produtos. Isso de dá justamente pela falta de competitividade do país, em razão dessas deficiências. Não é surpresa esse aumento”, frisou.  

Segundo o dirigente, esse ganho de competitividade pelo câmbio para os manufaturados brasileiros remetidos ao exterior é tão volátil quanto a taxa de câmbio. “Hoje, a variação nos torna favoráveis, mas amanhã vai virar e o Brasil vai deixar de ser competitivo de novo, se não corrigirmos essas deficiências que nós citamos. Nós vamos ser competitivos para vender para quem e por quanto tempo? O mercado precisa de previsibilidade e segurança”, questionou.

O presidente do Cieam destaca que o capital de giro está associado ao nível de atividade e lembra que o governo federal fez seu trabalho, ao oferecer linhas de crédito às empresas, embora ressalve que os recursos estão custando caro para a iniciativa privada. “Isso está sendo oferecido pelos bancos privados, que estão pedindo uma contrapartida muito alta. Temos que acompanhar isso”, asseverou.

“Lento progresso”

Para o presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas) e vice-presidente executivo da CNI, Antonio Silva, os dados mostram as consequências da valorização do dólar frente ao real, como o aumento do custo de produção para o mercado interno. “Por outro lado a desvalorização da nossa moeda melhora a competitividade dos nossos produtos para a exportação. Porém, os negócios externos estão ainda em lento progresso, em consequência da crise provocada pela pandemia também nos países que importam nossos produtos”, ponderou.

Para os próximos meses, prossegue o dirigente, a expectativa é de melhora, mesmo que não seja tão boa como a desejada. “O faturamento da indústria vem crescendo, as horas trabalhadas e a utilização da capacidade instalada. Tudo isso nos leva a sermos otimistas quanto a melhores resultados da indústria e da economia brasileira”, afiançou.

Repasse impossível

Já o presidente da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos), Jose Jorge do Nascimento Junior, considera que, pela necessidade da obtenção de insumos importados e a impossibilidade de repassar plenamente todos os custos de produção aos preços finais, a variação cambial elevada não é algo que se deve comemorar, mesmo sendo, de alguma forma, uma proteção da indústria nacional contra o produto final importado. 

“Por isso, termos a variação menor seria bem mais interessante para os produtos fabricados na ZFM, por exemplo, que são de consumo. Esperamos que até o fim do ano tenhamos uma redução no câmbio, posto que, no momento, a exportação ainda é um desafio imenso e o mercado interno é o foco principal da indústria. Esperamos que, até o fim do ano, tenhamos um reequilibro e um melhor ambiente de negócios, aliado à retomada do consumo e à melhoria da economia”, arrematou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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