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Amazônia pode ganhar novas usinas

O Brasil planeja votar uma lei nas próximas semanas para reabrir grandes áreas da Amazônia Legal para usinas de cana-de-açúcar, reacendendo temores de que a produção de etanol acelere o desmatamento e crie um enorme desafio para a indústria de biocombustíveis do país.
Ambientalistas estão preocupados que a votação do Congresso consiga derrubar uma proibição da expansão da cana na região, estabelecida em 2009, e aumente a pressão sobre o uso da terra em áreas que equivalem a quase um terço da Amazônia Legal (região que vai além da floresta e responde por 58 por cento do território brasileiro).
Enquanto isso, a expansão das áreas ambientalmente sensíveis poderia prejudicar os planos dos produtores de etanol de abrir novos mercados de exportação, dizem os economistas. O projeto diz que o plantio poderia ser permitido em áreas desmatadas e nos biomas cerrado e campos gerais da Amazônia Legal.
Investidores dizem que o alto custo de transportar combustíveis ao norte do Brasil torna a produção local de etanol um investimento econômico atraente, enquanto senadores da região apoiando o projeto acreditam que mais usinas poderiam na verdade ajudar a conter o desmatamento ilegal, e criaria empregos.
“Não é como se fosse haver uma inundação de novas usinas de repente”, disse o senador do Estado de Rondônia, Acir Gurgacz, um dos apoiadores do projeto. “As usinas ainda têm que seguir leis ambientais… e a soja e o gado são permitidos, então por que não a cana?”
Caso o projeto, aprovado pela Comissão de Meio Ambiente do Senado em maio, passe pelo Senado e pela Câmara dos Deputados nas próximas semanas, isso causará a derrubada da proibição durante um momento delicado.
A principal associação de etanol de cana do Brasil está tentando convencer a Comissão Europeia em reconhecer o etanol como sustentável, o que poderia lhes dar um acesso especial a um importante novo mercado.
O retorno do plantio de cana na região pode fazer com que seja mais difícil para os produtores serem reconhecidos no cobiçado mercado europeu.
A lei propõe limitar a cana a áreas que somadas podem chegar a quase o tamanho da África do Sul, 1,25 milhão de quilômetros quadrados, na Amazônia legal. As áreas foram desmatadas há décadas, e são mais parecidas com savanas, e portanto mais adequadas para a cana do que a floresta tropical.
Apesar de seis usinas de açúcar operarem atualmente na região, novos projetos não conseguiram obter o licenciamento do Ibama, agência ambiental, ou acesso a créditos agrícolas a taxas subsidiadas dos principais bancos estatais do país desde 2009, quando a proibição entrou em vigor.
A Amazônia Legal inclui áreas de cerrados e pastos desmatados nas últimas décadas, espalhadas pelos Estados do Amazonas, Pará, Roraima, Rondônia, Acre, Amapá, Rondônia, Maranhão, Tocantins e Mato Grosso.
Somente um pouco mais que dois terços dos cerca de 5 milhões de quilômetros quadrados da Amazônia Legal são realmente florestas, que devem permanecer livres do plantio de cana das usinas.
As áreas que poderiam receber a cana na Amazônia Legal poderiam ser de seis a dez vezes o tamanho do cinturão produtor de cana do Brasil na região Centro-Sul, onde há 8 milhões de hectares de cana sendo cultivados.
No entanto, um grande aumento no plantio na Amazônia legal parece improvável, uma vez que o etanol lá produzido seria principalmente para o mercado local, e teria dificuldades para competir com os biocombustíveis mais baratos e mais eficientes do Centro-Sul.
Desafio de imagem
Apesar de a Unica, principal associação da indústria de açúcar e etanol do país, afirmar que não conhece a forma final do projeto, e que até o momento não apoia ou se opõe oficialmente o retorno do plantio na região, ela já preferiu que a região permanecesse fechada para a cana no passado.
A ampla distância entre o cinturão de cana do Centro-Sul e as áreas de grande desmatamento na Amazônia tem sido o ponto principal da argumentação que defende a sustentabilidade de seu etanol.
Se as usinas de cana começarem a aparecer na região amazônica, mesmo que de maneira limitada, o poder de tal imagem poderia ser suficiente para gerar dúvidas na Europa e nos EUA, o que poderia impor barreiras contra as exportações brasileiras de etanol.
“Permitir a cana… Cria algumas óticas desafiadoras sobre o uso indireto da terra… E de maneira mais generalizada sobre se a produção de cana causa o desflorestamento”, disse Avery Cohen, um economista que está estudando o impacto do uso global da terra no Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica em Boulder, no Colorado.
Ambientalistas estão alarmados com os riscos de médio prazo do projeto de lei. Edgar Oliveira Rosa, um especialista em conservação do World Wildlife Fund, no Brasil, disse que a maior ameaça deve ser o deslocamento dos atuais donos de terras, caso a cana seja expandida. “Os preços da terra podem subir, e deslocar ranchos e fazendas existentes”, disse Rosa. “Mesmo que as usinas não derrubem árvores, ela pode levar outros a fazê-lo”.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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