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Amazonas era um dos mais despreparados para enfrentar a Covid-19

Pesquisa divulgada nesta segunda (5), pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostra que o Amazonas era uma das unidades federativas mais despreparadas para evitar as mortes por covid-19, no segundo ano da pandemia. A média mensal de disponibilidade de leitos para internação era a segunda menor do país, em 2021, superando apenas Sergipe. A situação era ainda pior no caso dos leitos para beneficiários de planos privados, onde foi registrado um corte pela metade, em dez anos. Em acréscimo, a taxa de tomógrafos e de profissionais de saúde por habitante também apresentava um dos dados mais desfavoráveis do Brasil.

Como resultado, a escalada de mortes em geral – e não apenas pelo novo coronavírus – foi mais intensa no Estado do que na média nacional no primeiro ano da crise sanitária. As estatísticas nacionais atingiram alta de 15,3% em 2020 (+15,3%), sendo que o Amazonas apresentou o dobro dessa taxa: 35,1%. Em 2021, os números já estavam mais equilibrados, mas seguiram na casa dos dois dígitos (+16,8% e 16,5%, respectivamente). Os óbitos no Estado eram mais comuns entre homens (4.668) do que entre mulheres (3.729), replicando a dinâmica brasileira. É o que revela a pesquisa Síntese de Indicadores Sociais, do IBGE, que levou em consideração informações do Ministério da Saúde e Fiocruz. 

A sondagem mostra que, no Amazonas, a média de leitos por habitantes era uma das menores do Brasil. no ano passado. Tanto na rede pública quanto na rede particular. Entre 2010 e 2017, a quantidade decresceu 4,48%, de 5.935 para 5.669. Mas, a partir de 2018, a quantidade voltou a subir, tendo incremento mais expressivo nos dois primeiros anos da pandemia, quando alcança supera o pico de 2010 (6.025). Ainda assim, o número mensal médio de leitos de internação por 10 mil habitantes caiu sem interrupções, entre 2010 (16,7) e 2021 (12,1). A oferta proporcional é uma das menores do país, empatando com São Paulo e melhor apenas do  que a de Sergipe (10,4).

Dentre os 6.025 leitos disponibilizados para internação no Amazonas em anos mais recentes, 5.187 eram do SUS – média de 12,1 leitos para cada 10 mil habitantes. Conforme o IBGE, os leitos de planos privados apresentaram oscilações em uma década e, mesmo na pandemia, tiveram apenas pequena variação positiva, partindo de 786 leitos (2019) para 838 (2021). De 2010 para 2021, a média de leitos para cada 10 mil beneficiários para os pacientes que não recorriam ao sistema público passou de 33,6 para 17,6 – a menor média da série histórica e o dado mais baixo em todo o Brasil.

Tomógrafos e profissionais

A taxa de tomógrafos computadorizados por habitantes do Amazonas, por outro lado, era uma das menores do país, sem “aquisições expressivas na pandemia”. Segundo o CNES (Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde), a quantidade absoluta passou de 2.679 (2010) para 5.595 (2021) unidades, e atingiu 0,26 aparelhos para a cada 10.000 habitantes. O Estado só foi melhor do que Roraima (0,11) nesse quesito, mas ficou bem atrás de Mato Grosso (0,37) e Distrito Federal (0,62). “Em 2019, haviam 23 tomógrafos computadorizados disponíveis no SUS do Amazonas. Em 2020, foram 24, e em 2021, 25. Ou seja, mesmo com a pandemia, não houve variação significativa de disponibilidade do equipamento, no Estado”, pontuou o IBGE-AM.

O crescimento foi de estabelecimentos de saúde quase ininterrupto entre 2010 e 2021, atingindo 2.668 unidades. Os estabelecimentos de atendimento ambulatorial do SUS (1.233 unidades) e particulares (1.025) também expandiram. Já a oferta média mensal para internação pelo SUS subiu de 101 para 111, de 2019 para 2021. Na rede hospitalar, o número saltou de 14 (2019) para 21 estabelecimentos no ano passado, mas ainda ficou aquém do registro de 2015 (25).

O crescimento foi muito mais expressivo no número de profissionais de saúde, durante os dois anos iniciais de pandemia. A elevação mensal média rendeu o acréscimo de 252 médicos, em 2020, e de mais 186, em 2021. Mesmo assim, a média de médicos para cada 10 mil habitantes deixou o Amazonas (9,9) nas últimas posições do país, à frente apenas de Pará (7,9), Amapá (9,2) e Maranhão (7,8). O contingente de enfermeiros, saltou de 4.242 para 5.676, em dois anos.  No caso dos técnicos e auxiliares de saúde, o salto foi de 14.229, para 16.369, na mesma comparação.

Mortalidade maior

As deficiências hospitalares contribuíram para que o custo da pandemia em vidas fosse maior no Estado. Em 2010, muito antes da pandemia, ocorreram 13.300 mortes por motivos diversos, no Amazonas. Em 2021, o registro de óbitos (28.853) – não apenas pela covid-19 – já havia escalado 216,9%. Em paralelo, a taxa de mortalidade disparou de 3,7 para 6,8 a cada mil habitantes, em uma década.

Na comparação de 2020 com 2019, houve crescimento da taxa de mortalidade dos homens para todas as unidades federativas, sendo que Amapá (33,5%) e Amazonas (33,3%) tiveram os piores índices. O Estado também liderou as estatísticas nacionais de mortes de mulheres (32,9%), sendo seguido por Roraima (29,9%). O Rio Grande do Sul teve os menores percentuais do país para ambos os sexos (5,4% e 1,5%, respectivamente).  

O IBGE destaca que, nos anos iniciais da pandemia, o número de mortes por doenças infecciosas e parasitárias “cresceu de forma significativa”, sendo esse o grupo de causas mais importantes de mortes no período, sob o impacto da covid-19 e em meio à mudança do perfil das causas dos óbitos ocorridas no país. Em 2019, foram 983 mortes registradas no Amazonas nesse grupo de causas, mas os números decolaram em 2020 (6.982) e 2021 (9.707). As doenças do aparelho circulatório foram as causas de 4.111 óbitos, seguidas pelas neoplasias (2.699) e doenças infecciosas e parasitárias (2.897).

“Os dados demonstram que, de maneira geral, o Amazonas investiu na área para o enfrentamento da pandemia. Houve aumento de ofertas de leitos, médicos, enfermeiros e unidades de atendimento. Mas, os números também mostram que havia deficiências na oferta de leitos e equipamentos importantes. A pandemia vitimou mais pessoas do sexo masculino, assim como pretos e pardos. No caso dos homens, isso aconteceu porque eles estão sempre mais expostos à contaminação. Já a ocorrência maior entre pardos e pretos se explica porque ambas as etnias são a grande maioria de nossa população”, concluiu o supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques.

Por Marco Dassori

Twitter: @marco.dassori

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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