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A esquerda nas mãos dos pequenos partidos

Na semana passada se discutiu aqui nesse espaço as eleições como cristalização das lutas que ocorrem no seio da sociedade civil. E, nessas eleições especificamente as candidaturas majoritárias de Dilma Roussef (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) seriam adversárias dentro de um mesmo campo de interesses, que com diferenças muito sutis gravitam em torno de um mesmo núcleo de política econômica e de projeto político dominante.
Nesse sentido, rigorosamente, a polarização real não estaria entre Dilma Roussef e José Serra como tem sido difundido massivamente pela grande mídia. Pode-se até dizer que são as forças majoritárias, com maior densidade eleitoral e têm quase cem por cento de chance de ganhar as eleições. Mas, a disputa de projetos antagônicos, na sua essência, está entre esse campo de interesses e o campo das candidaturas da esquerda materializadas nas candidaturas do PSTU, PSOL e PCB.
Esses pequenos partidos encarnam um projeto de país que se contrapõe, pelo vértice, ao projeto das candidaturas que estão no eixo dos considerados grandes partidos. Em temas relevantes como pagamento da dívida pública, reforma agrária, desenvolvimento autônomo, privatizações de estatais e democracia podem-se notar, apenas num exame minimamente atencioso, a semelhança das candidaturas tidas como principais e as posições diametralmente distintas das formulações programáticas dos pequenos partidos de esquerda.
Evidentemente, essas diferenças essenciais que têm um background histórico e que permitem um raciocínio capaz de conduzir a um esclarecimento dos interesses de classes em jogo não são interessantes de serem ressaltadas. A nitidez dessas agudas diferenças que estão no seio da sociedade civil e se cristalizam nas candidaturas, numa eleição, só pode ocorrer quando há um nível elevado de mobilização em que as distintas forças se confrontam aos olhos das massas.
E, esse não é o caso nas atuais eleições. Os oito anos de Frente Popular, conduzida por um presidente de origem operária, não têm permitido que as contradições de fundo apareçam nitidamente ante aos olhos das amplas massas. Os partidos de esquerda que herdaram a defesa de um programa socialista o fazem na contracorrente da história. São forças embrionárias que têm o mérito de resguardar um rico patrimônio programático esquecido por partidos como o PT e PCdoB.
Diferente das eleições passadas em que esses pequenos partidos estavam unidos numa Frente de Esquerda, cuja candidatura a presidente obteve mais de seis milhões de votos, nessas eleições estão cada um com uma candidatura. A fragmentação dessas forças, embora revele diferenças estratégicas e táticas ante as eleições burguesas, não deixa de reduzir a capacidade das mesmas no sentido de poder se apresentar sob uma mesma base programática e orientação comum.
O fato político importante é que as atuais eleições não se resumem a um confronto entre grandes partidos do mesmo bloco no poder. Talvez esse seja o mais importante papel dos pequenos partidos de esquerda. Demonstrar, nos escassos segundos que terão no “horário eleitoral gratuito” e em seus parcos recursos de propaganda a existência de forças sociais e políticas que brotam todos os dias dos enfrentamentos cotidianos numa sociedade cindida em classes.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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