26 de julho de 2024
Pesquisar
Close this search box.

Turismo receptivo

Quero contar uma história que pode muito bem ilustrar o título deste artigo. Em junho de 1980 morava em Santa Catarina e haveria uma convenção em Blumenau. Onde residia, distava mais 500km daquela cidade e fomos em quatro carros, cada um com quatro pessoas para participar da tal convenção. 

Ao chegarmos, aproximadamente às 14 horas, com o sol alto e fomos barrados no acesso à cidade naquilo que imaginávamos ser uma blitz da polícia. Realmente havia dois policiais fardados, talvez para que o motorista não se sentisse barrado por motivos perigosos. Quem se aproximou do carro foi um casal que nos cumprimentou e se apresentou como comerciantes. 

– Pela placa do carro identificamos a cidade – disse o senhor. – O que vêm fazer em Blumenau?

– Viemos participar da convenção do comércio lojista – respondeu o colega que estava ao volante.

– Já têm reserva em hotel?

– Sim, nossa reserva é no Himmelblau Palace – continuou o motorista.

– Muito bem! Já conhecem a cidade?

– Muito pouco.

– Então vamos colocar dois adesivos. Um na parte dianteira e outro na traseira do carro. Se vocês cometerem alguma gafe no trânsito da cidade, o que é normal, uma vez que desconhecem, os guardas estão orientados para não multar e sim prestar todos os esclarecimentos e orientação que se fizeram necessários. Em todo o caso, aqui tem um mapa para vocês e os folhetos do encontro.  Sejam bem-vindos à convenção.

Não pediram documentos, nem do veículo e nem pessoais, porque isso seria feito numa etapa seguinte. Quando ficamos sozinhos, comentamos a recepção: sem pompa, sem bandeiras coloridas, mas com muita objetividade e cordialidade. Não podemos esquecer que, naquela época, as abordagens policiais em veículos podiam ser bastante truculentas. Não raramente, o policial parava um carro, mandava todo mundo sair e ele próprio entrava no veículo e vasculhava tudo. Então se justifica porque nos sentimos bem e, de certa forma, aliviados.

Na convenção estava convidado o prefeito de Blumenau, Renato Vianna. Foi dele que ouvi a primeira vez a expressão “indústria sem chaminé” referindo-se ao turismo. Blumenau estava se preparando para se tornar um polo receptivo do turismo. Durante a palestra dele, dirigida a empresários, usou de uma linguagem direta. “Estamos nos preparando para o turismo de qualidade. Estamos interessados no turista com potencial. O mochileiro que acampa na praça não é nosso foco…”  Continuou falando que a indústria da malharia e demais eram muito importantes, mas o turismo era o que traria gente para a cidade. Naquela época ainda não se podia prever o desastre que a enchente do rio Itajaí-Açu causaria. Alguns anos depois a cidade seria devastada pela enchente e desmoronamentos. Houve uma comoção nacional tratando a região com muito coitadismo, algo que não condizia com a garra do povo, por mexeu com os brios.

Por causa disso, para mostrar a alegria de sua gente, Blumenau criou o Oktoberfest, que se transformaria na segunda maior do mundo no gênero. O evento, que parece uma festa só para bebedores de cerveja, tem uma estrutura que merece ser estudada. 

Por que conto isso? Porque a cidade havia se preparado internamente para o turismo. 

No Amazonas, a natureza preparou a região toda. O que está faltando para o turismo deslanchar?

Compartilhe:​

Qual sua opinião? Deixe seu comentário

Notícias Recentes

No data was found
Pesquisar