Ao término do texto logo anterior (5) se disse do movimento de deputados em busca de conferir uma constituição à França. Segue-se, essa atitude rebelde pareceu enrijecer a decisão do rei. Eis que a 23 de junho sua majestade convocou os deputados e ordenou-lhes que votassem sobre questões importantes, como três entidades separadas. Sucede, quando ele saiu do salão, acompanhado pelos deputados do Primeiro e do Segundo Estados, os que representavam o Terceiro Estado conservaram-se onde se achavam, desafiadoramente, e Mirabeau lançou a um alto funcionário real as suas famosas palavras: “Ide dizer aos que vos mandaram que não nos moveremos de nossos postos aqui, a não ser à ponta de baionetas”. Informado dessa insubordinação, o rei teve uma reação característica: “Bem, com os diabos! Pois então, fiquem!” Quatro dias mais tarde, deu ele a ordem que assinalou sua capitulação oficial, instruindo todos os três Estados a se reunirem juntos como Assembleia Nacional.
Mas essa inversão de posição não representava mudança sincera de ânimo da parte do monarca. Em vez de aproveitar a nova oportunidade para colocar-se à frente do movimento de reforma, continuou a seguir os conselhos do chamado “partido da Rainha”, de orientadores reacionários. Vários regimentos de tropas leais foram secretamente transferidos para Versalhes e espalhou-se o boato de que o rei estava preparando a dissolução da Assembleia pela forca. E a 11 de julho, o rei demitiu Necker, o ministro que era considerado como o mais favorável à reforma.
Deu-se, logo que as notícias da exoneração de Necker chegaram a Paris, o descontentamento popular inflamou-se. Incitados por um jovem demagogo chamado Camille Desmoulins, grupos começaram a assaltar lojas de armas e arsenais e, na manhã de 14 de julho, uma turba armada avançou contra a Bastilha, antigo castelo real, então usado como prisão. O objetivo dos insurretos era apodarem-se da pólvora ali armazenada, mas, quando o governador da prisão recusou abrir os portões, sitiaram o local. Começou o tiroteio e, após breve batalha, a guarnição rendeu-se. O governador foi morto e todos os sete prisioneiros da Bastilha libertados. Nas semanas seguintes, a própria prisão foi demolida.
A queda da Bastilha veio mais tarde a ser considerada como o símbolo da vingança popular contra a autocracia arbitrária e a injustiça. Embora na realidade fosse apenas um episódio de violência do populacho, seu efeito prático sobre a Revolução foi tremendo. Mais uma vez o rei resolveu capitular ante dos rebeldes. Necker foi chamado de volta ao seu posto e, poucos dias mais tarde, o rei, em vez de punir os parisienses, fez uma espécie de visita de penitência à cidade, dando assim o selo de sua aquiescência ao que ocorrera. A Assembleia Nacional não tinha mais a temer uma dissolução pela força; podia livremente elaborar seu programa de reforma. O primeiro grande passo dado pela Assembleia Nacional foi a abolição dos privilégios da aristocracia e do clero. Isso se verificou durante uma sessão noturna, a 4 de agosto, depois que um deputado da nobreza, arruinado, propôs que a Assembleia abolisse todos os direitos feudais e o privilégio da isenção e tributos. Numa dessas ondas curiosas de emocionalismo que às vezes inundam reuniões públicas, outros deputados da nobreza e do clero levantaram-se apoiando a sugestão. Ao amanhecer, a Assembleia havia votado a liquidação de quase todos os remanescentes de prerrogativas de classe. (Continua).