O Madeira não foi convidado para fazer o acordo de R$ 11,7 milhões em sua filial de Borba através Termo do Convênio 3872/2019 (prefeitura e Ministério do Desenvolvimento Regional), que seria executado pela Costaplan Construções Ltda, e derrubou mais uma vez o muro de arrimo em março passado.
O Rio Amazonas também não fez acordo com Parintins, e parte do muro de arrimo caiu ontem, 31 de março de 2021, pela enésima vez, uma obra de R$ 2,3 milhões.
Sem entrar no mérito do preço das obras (uma é 5 vezes mais cara que a outra), o material desmoronado já estará em parte num processo de deposição na costa do Amapá, local para onde são levadas as partículas em suspensão pela correnteza dos dois rios ao longo do processo natural, se juntando inclusive ao material que vem dos Andes.
As curvas dos dois pliocênicos rios que forçam e erodem os barrancos das duas cidades em suas margens direitas, pela dinâmica hidráulica de suas águas durante todos os segundos que já duram cerca de 2,5 milhões de anos, precisaria de “acordos fluviais” para a reconstrução das beiradas das orlas das cidades após as quedas de março pelas “águas de março”, e, se não feitos, o próximo março não está longe para que as terras caiam novamente.
Outras margens de outros rios vêm sucumbindo na Amazônia como em Borba, pelo fenômeno conhecido como “terras caídas”, tragando outros tantos milhões de reais. Umariaçu/Tabatinga, Parintins e Santo Antônio de Olivença no Amazonas, Arapixuna em Santarém e tantos outros, são apenas alguns exemplos.
Com 20 mil quilômetros navegáveis pela região, são potencialmente 40 mil quilômetros de margens que estão em processo contínuo e inexorável de queda.
O sucesso para continuar a desenvolver o Amazonas será tão mais eficiente e barato quanto puder considerar em seus projetos o seu clima, seu relevo, sua dinâmica hídrica e florestal, e a influência deste ambiente junto à sua população, único motivo para a busca do progresso.
Dos 62 municípios do estado, 58 estão localizados às margens de um rio, e é este o cenário em que se concentraria a maior parte das bases econômicas para a prosperidade.
Além das “terras caídas”, o fenômeno do movimento do nível das águas chega a variar mais de 15 metros duas vezes ao ano nas grandes calhas fluviais, e as estruturas para o assentamento e operação de bases socioeconômico-produtivas, como as cooperativas, as escolas, o comércio e as agroindústrias, são reféns desta sazonalidade, incluindo os problemas graves com as populações que precisam ser socorridas pela defesa civil nas secas e nas cheias, normalmente duas vezes por ano.
Estes reflexos naturais e inamovíveis, ou pode-se dizer, este “custo amazônico” sobre a população, que é ao mesmo tempo a força econômica e o próprio objeto do processo econômico, precisam estar considerados no planejamento de médio e longo prazo, e isto é possível. O Amazonas tem o custo Brasil como todos os demais estados, e mais este “custo amazônico”, produzindo com isto um déficit nos gastos que, se ignorado, vai exigir anualmente o desembolso para a assistência social perene, a interrupção de processos produtivos, o atraso na formação dos jovens, o desestímulo ao empreendedorismo e a dificuldade de mobilização, além de consumir recursos que seriam mais produtivos, mas são perdidos na turbulência das eternas correntezas.
Sem o “acordo fluvial”, o desenvolvimento ideal fica cada vez mais distante.
“Acordo Fluvial” representa simbolicamente a ciência aplicável, e que parece não vendo sendo aplicada, ao ancestral desejo do homem de domínio da natureza, até aqui a vencedora. Se ela é vencedora, sabemos o nome do perdedor.