26 de julho de 2024
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Reino da Vagabundolândia

Vagabundolândia era um reduto feudal que alimentava aspirações de grandeza. Era uma nação composta, em grande parte, de gente trabalhadora, mas o lado podre concentrava aspectos execráveis do ser humano. O senhor máximo das terras, que sonhava ser rei (e assim exigia ser tratado), era o eminente Pilantronyldus Vagabbolynus que comandava seus domínios com mão de ferro. A composição da estrutura social envolvia camponeses, artesãos e pequenos comerciantes, que integravam a classe oprimida. Esse povo sofrido habitava o lado externo de fortificações que protegiam a cidadela e seus moradores ilustres, compostos, pelo senhor feudal e pelo restante da nobreza. O gentílico de Vagabundolândia é vagabundo, assim conhecido pelos feudos vizinhos. 

Como ninguém da nobreza trabalhava, o sustento e a vida luxuosa desses notórios vagabundos dependia dos saques e das extorsões patrocinadas pelo rei Pilantronyldus, que, periodicamente mandava seus mercenários pilhar as casas dos pobres trabalhadores. Inclusive, dentro das fortificações, aconteciam também vários roubos e mortes entre os integrantes da nobreza. Na verdade, cada um era pior que o outro. A vagabundagem imperava total e absoluta. 

Eis que entre os senhores feudais havia surgido um movimento de formação dum Estado, onde vários territórios vinham organizando suas estruturas institucionais para se juntar ao bloco de poder que crescia em tamanho e importância. O rei Pilantronyldus cuidou então de modernizar seu reduto para cumprir os requisitos exigidos. Desse modo, e com base na ordem religiosa, ele instituiu um colegiado de notáveis vagabundos que ficaram incumbidos de estabelecer os mandamentos reais, cujo nomeado para o cargo máximo foi o nobre camarada Corrupcínyus Puxchassácoos. Tais mandamentos visavam fixar códigos de conduta e de ordenamento social. 

Foi necessário também, criar um grupo de sábios para dirimir conflitos de uma sociedade que começaria a observar tais mandamentos. Para o comando de tão nobre missão foi escolhido o camarada Whysthagrossa Conyventts. Na verdade, tais figuras eruditas eram tão vagabundas quanto os demais. Na sequência, a nova elite empossada cuidou de trazer meio mundo de amigos e parentes para ajudar na árdua missão real. Era gente aos montes, todos escolhidos, com cargos e funções, onde uns trabalhavam direitinho enquanto outros passavam o dia todo coçando o saco numa vagabundagem ostensiva e descarada. 

Mais um especial conjunto de pessoas habilidosas precisava ser reunido para organizar as pilhagens, que, daquele ponto em diante iria acontecer como sempre aconteceu, só que ornamentadas por uma roupagem ideológica. Isto é, os mercenários continuavam subtraindo o patrimônio dos plebeus, mas então diziam que os valores roubados eram revertidos em benefícios de todos, na forma de proteção armada do reino e de construção de estradas. O pior é que o povaréu passou a acreditar no papo furado do rei Pilantronyldus. Só que, de fato, tudo servia para enriquecer mais ainda os nobres vagabundos. O escolhido, então, para sistematizar a captação de recursos foi o camarada Jahoubbas Prahcarambas. 

Prevalecia no reino uma roubalheira desenfreada, onde todo mundo da nobreza roubava, e, com isso, vários plebeus pés-de-chinelo seguiam no mesmo caminho. A situação de modernidade não comportava tamanha bagunça, sendo necessário punir os salteadores. O rei se viu num dilema: Como proteger os ladrões da nobreza e ao mesmo tempo punir os ladrões de galinha? A resposta estava na construção do paradigma de que só pobre vai pra cadeia. O rei não poderia de forma nenhuma atacar a roubalheira do alto escalão, já que ele próprio era o mais vagabundo de todos. Desse modo, as masmorras foram sucateadas até torná-las quase inabitáveis. E, sendo impossível manter malfeitores graduados em condições insalubres, o sábio Whystagrossa mandava soltar célebres figurões nas audiências de custódia. O povo honesto e trabalhador ficava revoltado com tanta impunidade, mas a gentalha não poderia se acostumar com o sabor nem com o cheiro de Justiça, uma vez que, se o arquétipo de Justiça prevalecesse no imaginário popular, toda a sociedade iria se insurgir contra a pilantragem dos governantes. Curta e siga @doutorimposto. Outros 445 artigos estão disponíveis no site www.next.cnt.br

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