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Reconstrução (02)

Bosco Jackmonth *

Continuando o texto lavrado por Márcio Souza, como constou in Reconstrução (01), tem-se  ademais que tal articulista busca no contista autor do livro ao invés da tradição extrativista e a figura dos dramas ribeirinhos, como já se o disse acolá, por outra, ainda que tomando a busca aos personagens do cotidiano prosaico da província, põe-se a refletir sobre o mundo medíocre que se cola ao extrativismo pelo reverso, pois assim entende. Daí a repercussão da obra … 

Logo, sustenta, dada a contradição extrativista o homem atira-se, ao invés, com a impossibilidade na capital onde reina a mediocridade. É que o medíocre sempre é um homem de certeza, daí nunca conhecer os limites. Segue-se, a propósito, “antes da nomenclatura”, por exemplo, dá-se a abertura das portas de uma repartição pública, tida como um cadinho de burrices que nutre as pretensões cretinas da classe média; por incrível que possa parecer, o contista não traça um absurdo, já que é um quadro comum, ou uma particularidade provinciana.

Na verdade, o articulista brinca com seu tema, não deixando de compor com certos tons sombrios, à moda do conto “Rosa de Carne” que é o mais notório do livro. Ali, destacando as pétalas da ferida, como o seu pequeno personagem de “Rosa de Carne” sofria na pele, essa literatura parece liberta, pois sustenta-o. Dá-se que o tempo há de confirmar tal conjectura.

Compondo o elenco de cronistas que se mostram no posfácio da publicação, temos em seguida a contribuição de Antônio Paulo Graça, posta em artigo publicado no jornal Amazonas em Tempo, a sustentar que em seu livro Mundo Mundo Vasto Mundo dá-se que a mesquinhez burocrática, aliada ao provincianismo, além da falsa cultura são desmistificas pelo senso de humor do autor. 

Além do mais as misérias cotidianas de uma sociedade que se sabe injusta são postas sem retórica, nem discursos efusivos e sobretudo demagógicos. A propósito, para estampar sua sintonia com as questões filosófico-existenciais do presente tempo, o literata aglutinou alguns contos onde os personagens se mostram perdidos às voltas com um mundo absurdo. Um mundo (não vasto, como diz o título), cuja lógica é a dominação econômica e política.

Nesta altura, cabe justificar por certo posicionar-se o Resumo e Análise da Obra, ao lado da Informação Bibliográfica, relatando-se que o autor Carlos Gomes nasceu em Manaus no dia 15 de julho de 1936. Formou-se em Direito, foi funcionário do Banco do Brasil, professor na Escola Estadual Solon de Lucena e, posteriormente, na Universidade do Amazonas sendo que quando da publicação do livro trabalhava na Justiça Federal, Seção Judiciária do Amazonas.  

Embora destacado em todos os ramos de suas atividades, firmou-se como professor em que a humanidade, a excelência das informações e o senso de humor conviveram pacificamente com posições políticas firmes e claras. A propósito, na Universidade do Amazonas, ministrou cursos na área de sintaxe com absoluta proficiência. Entretanto, o escritor que sempre foi acabava transformando suas aulas em verdadeiras lições de estilo e da arte de escrever.   

Ligou-se ao Clube da Madrugada e à União Brasileira de Escritores – UBE, que publicaria a primeira edição de Mundo mundo vasto mundo. Ademais, embora discreta, sua participação política sempre foi firme. Participando de grupos progressistas, evitou o dogmatismo, mas jamais deixou de cultivar os ideais de justiça social e liberdade humana.

Passando adiante ao contexto em curso temos o Golpe Militar de 64, sendo que o livro em questão foi publicado três anos depois do Golpe, medida política cuja figura parece que dormitava até os dias atuais, tendo-se os rumores na administração Bolsonaro. A apurar …

Naquela altura, embora Carlos Gomes estivesse com apenas 28 anos, o panorama de seu livro e das idéias de concepção de mundo que o sustentam se vinculam aos conflitos da sociedade brasileira daquele período em que o mundo se dividia entre as duas possibilidades de construção social: o capitalismo e o socialismo.

Dava-se que na América do Sul os golpes militares batizados erroneamente de revoluções, se espraiaram por todo o continente, quase sem exceção. Tratava-se da reação capitalista capitaneada pelos Estados Unidos, à possibilidade de revoltas e revoluções socialistas como havia acontecido em Cuba. Eram tempos de oposições rígidas: ou se era de esquerda ou de direita. Sendo a esquerda revolucionária, socialista, progressista e defendia a justiça social, enquanto a direita era autoritária, conservadora, capitalista e não hesitava em recorrer à violência, à tortura, à extradição e a execução de opositores do regime. Portanto, bem pertinente a cuidadosa e firme postura do autor. (Continua).

                                                                                                                                                                  —

É advogado (OAB/AM 436). ex-bancário BEA e Bco. Brasil, Cursou Direito, Contabilidade, Com. Social (Jornalismo), Lecionou Hist. Geral. Contactos 99294-8544/@jackmonth.com.br.

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