4 de outubro de 2024

Produto tipicamente brasileiro

Com o aparecimento do Covid-19 o mundo todo teve que se “adaptar” rapidamente as novas exigências, principalmente no campo comportamental, tecnológico, educacional, econômico e social. Quanto ao avanço desse vírus, estatísticas apontam que os países, as culturas, as pessoas, que fizeram o “dever de casa” estão levando vantagem frente aos que não fizeram.

E o que dizer do Brasil? Como ele se preparou? Será que ele fez o dever de casa? Infelizmente o Brasil não soube lidar com essa doença, e as coisas só pioram a cada dia. Por exemplo, no momento em que escrevo esse artigo, o país já alcança a impressionante marca de 60 mil mortos pelo Covid-19. E o pior de tudo isso, ou o mais impressionante, para não dizer absurdo, é ainda ver pessoas negando a existência desse vírus. Até quando isso vai acontecer?

Concordo com o historiador inglês Eric Hobsbawm (1917-2012) quando afirma que vivemos uma “Era dos extremos”. No Brasil, esses extremos, em primeiro lugar, é constato na política. Desse ponto de vista, temos um Presidente que não consegue unir o país em torno de um projeto nacional. Governa como se estivesse num eterno comício, pensando apenas na próxima eleição, apenas nos seus próprios interesses, na sua própria família, nos seus próprios eleitores, no poder pelo poder.

Por abandonar pautas como combate à corrução, zelo pela república, antigos aliados começam abandoná-lo. No Congresso já se acumulam mais de 30 pedidos de impeachment. Com medo de perder o cargo, faz acordos com partidos e políticos não muito republicanos. E assim, a cada semana, sua popularidade despenca. A sensação é que estamos num barco sem comandante!

Do ponto de vista econômico, o Brasil nunca passou por uma crise como essa. As crises de 1929, de 2008 e 2014 são “fichinhas” diante da atual crise. No entanto, essa não é uma crise propriamente nossa, é uma crise global. O que é tipicamente brasileiro, e isso você há de concordar comigo, é a incapacidade do Governo Federal de elaborar um projeto de recuperação da economia, do trabalho, e do desemprego.

Enquanto isso não acontece, milhares de empresas fecharam as portas e com elas milhões de trabalhadores perdem seus empregos. O endividamento das famílias brasileiras só aumenta, o poder de compra vem caindo quase à zero e os pedintes estão por todas as partes, nas ruas e praças. Assim, é urgente e necessário que o Governo crie um projeto para acabar com à fome e à miséria que se espalham por todos os estados da Federação.

Quando o país sairá dessa crise não se sabe. Sabe-se, no entanto, que é urgente um programa de recuperação da econômica nacional. Um programa que não separe economia de saúde, educação de emprego. Nesse aspecto, o Brasil precisa da união de todos, de todos os cidadãos, de todas as instituições, de um projeto de nação.

Precisa-se, ainda, de um líder que entenda o momento presente, que seja estadista, que não pense apenas em projeto de poder, mas em projeto de nação. Que o atual presidente seja mais transparente, menos arrogante e prepotente, enfim, que não fique fazendo piada com um vírus que já matou mais de 60 mil brasileiros. Prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém!

*Luís Lemos é filósofo, professor de Filosofia e palestrante

Luís Lemos

É filósofo, professor universitário e escritor, autor, entre outras obras, de "Filhos da Quarentena: A esperança de viver novamente", Editora Viseu, 2021.

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