Por Juarez Baldoino da Costa(*)
No centenário de seu nascimento neste ano, merecidamente destacado pela imprensa, e apreciando sua obra de mais de 50 anos de sua vida dedicada à Amazônia, o cenário da região seria diferente se os seus gestores pudessem ter aplicado alguns dos ensinamentos do mestre Samuel Benchimol.
A “justiça social”, um dos 4 elementos da equação preconizada por Samuel, ainda não atende o que ele desejou, como revelam os dados do IBGE que mostram quão distante a Amazônia se encontra de um patamar mínimo de bem estar para muitos de seus habitantes.
Também não se pratica o “ambientalmente sustentável”, um segundo elemento da equação, na maior parte das intervenções de exploração da região, outro alerta de destaque com o qual ele, um dos mais reconhecidos e respeitados pesquisadores amazônidas, tentou legar.
O terceiro elemento chamado de “politicamente correto”, o fator mais estruturante do conceito de Samuel, é o que mais dificulta a evolução de seu povo, que precisaria ter uma política de Estado sempre de médio e longo prazos. Esta política tem sido incompatível com o sistema brasileiro de gestão pública onde os planos são refeitos a cada 4 anos, alimentado ainda pela nefasta tentativa praticada por alguns gestores de anulação dos feitos de mandatos adversários anteriores.
Desde o governo militar até os dias atuais, ora o desmate aumenta, ora diminui; ora se constrói mais estradas ora se inibe suas aberturas; ora se facilita áreas para o gado ora se quer reduzir sua expansão; ora se fomenta a exploração mineral, ora se a inibe; ora há um novo plano de um novo gestor, ora se retoma planos requentados anteriores; ora a diretriz é validar a teoria dos rios voadores benéficos para a atividade agrícola do Centro-Oeste, e, portanto, a floresta preservada é a base da tese, ora se trabalha para a diminuição de reservas florestais, ignorando ou invalidando ou conflitando com a mesma tese.
A prática tem sido um política de retalhos.
O quarto elemento da equação, o “economicamente viável”, por ter dinâmica própria, se realiza sem relação com as outras condicionantes, como é o caso do gado, da agricultura intensiva, da extração de madeira ou do garimpo, mesmo quando enquadradas em parte como criminosas ou imiscuidas com o crime organizado.
Muni Lourenço, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Amazonas (FAEA), em recente pronunciamento, lembrou que o Amazonas não pode ter seus irmãos do interior como “irmãos de segunda classe”, assim como a Amazônia analogamente também não pode.
Um interior pobre não permite que um estado seja justo e próspero.
Os próximos 100 anos de Samuel começaram a ser contados, e o futuro da Amazônia dependerá do que possam fazer as crianças de hoje, já que a atual geração mal enxerga 2024.
O mestre fez, e bem, a parte dele.
(*) Amazonólogo, MSc em Sociedade e Cultura da Amazônia – UFAM, Economista, Professor de Pós-Graduação e Consultor de empresas especializado em ZFM.