A concorrência entre marcas de automóveis sempre foi bem acelerada. Às vezes, em primeira marcha ou até em ponto morto na descida ela nunca deixou de ser antropofágica. Como diz a gíria popular, é cobra engolindo cobra. No Brasil, pelo menos seis marcas grandes, isto é, cujos produtos foram comercializados em todo o Brasil, não viram a chegada do novo milênio. No mundo todo não é muito diferente.
Alguém se lembra do Fenemê, o caminhão o caminhão gigantesco, com seu motor a Diesel, de seis cilindros, todo em alumínio facilmente reciclável? Fábrica Nacional de Motores estatal que foi vendida para outra estatal da Itália. Sumiu há mais de 40 anos e agora parece estar ressurgindo com veículos elétricos, como Fábrica Nacional de Mobilidade.
Dos caminhões Dodge e dos carros Didge Dart, Charger RT, Le Baron, alguém já ouviu falar? Pois é, foram vendidos pela controladora Chrysler para Voskswagen, também há mais de 40 anos. Esta, ao menos continuou e dela surgiram os caminhões VW que antes não existiam.
Alguém lembra da Willys Overland do Brasil? Aquela do Jeep Willys, Rural, Aero Willys e mais alguns? Ele que fabricara os primeiros utilitários com tração também nas quatro rodas. Encampada pela Ford depois do fracasso do lançamento do Gordini. Essa mesma que tinha adquirido a francesa Simca que Juscelino Kubitschek se esforçara para trazer ao Brasil? Do Simca Tufão, Esplanada, Alvorada, Jangada e o famoso Chambord? Motor de 8 cilindros, porém de baixa potência. A Willys chegou a ter três unidades fabris no Brasil, uma delas em Pernambuco.
E da DKW Vemag, que fabricava aqueles carros de três cilindros e dois tempos com um ronco irritante exclusivo? Quem nunca ouviu falar do Candango, da Vemaguete o do Bellcar? A primeira a produzir no Brasil o carro com tração dianteira com roda livre, como bicicleta. A história dela é muito mais complicada. Essa fábrica, com sede na Alemanha “Deutsche Kinder Wagen” DKW (numa tradução livre “Carro alemão para os filhos”) era um braço da Daimler & Benz, a famosa Mercedes, que a controlava através de uma outra empresa, chamada Auto Union. A Mercedes talvez tenha desistido de produzir carros populares e vendeu a Auto Union para a Volkswagen que fechou as fábricas no mundo e no Brasil inclusive. Abandonou os galpões, mas usou a tecnologia para fabricar o Passat, o Gol e outros.
A Ford também sofre pela concorrência acirrada dos asiáticos. Fábricas que haviam surgido muito após ela se mostram concorrentes fortíssimas. Por exemplo: a Hyundai coreana lançou seu primeiro carro em 1974. Honda lançou sua primeira motocicleta em 1944 e a Toyota seu primeiro veículo em 1937. A Nissan vem chegando desde 1938. Todas elas começaram a fabricar automóveis, em seus países de origem, muito depois que a Ford se instalou no Brasil em l919.
Isso tudo é para ilustrar porque as empresas são incorporadas, mudam, migram ou simplesmente encerram suas atividades. A Ford chegou a, literalmente, enterrar dinheiro no projeto no Pará para a produção de borracha para os pneus e câmaras dos seus automóveis. O projeto que começo na década de 1930, foi encerrado na década de 1940, entre outras coisas porque a borracha natural foi substituída por sintética.
Agora ela vai embora do Brasil. Por que? Porque está encolhendo. Talvez mantenha a linha de camionetas. Talvez possa ressurgir. O certo é que já fez história.