Imagine que você compre o jornal e encontra no ‘classificado’ esta oportunidade de negócio:
“VENDE-SE SANTUÁRIO ECOLÓGICO que produz óleo leve com a melhor qualidade do mercado. SOMOS HISTÓRIA: encaramos o desafio de explorar e produzir petróleo com segurança em plena floresta amazônica, respeitando o meio ambiente e as populações ribeirinhas. SOMOS referência mundial de convivência harmoniosa entre a atividade de exploração e produção e o meio ambiente. SOMOS VENCEDORES: seguimos um conjunto de diretrizes relacionadas à proteção da biodiversidade, à ecoeficiência das atividades e operações, ao controle de contingências e à interface social, econômica e cultural das atividades de exploração e produção de óleo e gás na Amazônia, as quais incluem todo o suporte logístico necessário, como transporte aéreo, terrestre e fluvial, suprimento e infraestrutura. ”
Fui no site da Petróleo Brasileiro S.A. buscar cada palavra para revelar aos nossos leitores o que representa a venda do nosso complexo industrial de Urucu, na Bacia Sedimentar Solimões, localizado cerca de 650 km distante de Manaus.
Podem chamar o ‘anúncio classificado’ de plágio. Há parágrafos inteiros copiados das páginas da Petróleo Brasileiro S.A. …
Assina o anuncio de venda, Roberto Castello Branco, atual presidente da ‘PETROBRAX’.
E assim a boiada do desinvestimento da ‘PETROBRAX’ na Amazônia e no Brasil, sob o comando financista e entreguista do ministro Paulo Guedes, vai sendo tocada com o aval do presidente Bolsonaro, do presidente do Conselho da Amazônia Mourão, eleitos pelo discurso nacionalista e de defesa da soberania do Estado e território brasileiros.
Tenho acompanhado as defesas pífias de nossas autoridades do Governo do Amazonas e das representações parlamentares, subestimando as consequências socioeconômicas e ambientais da saída da Petróleo Brasileiro S.A. do Amazonas.
Pior e lamentável é ver um vídeo produzido por um deputado federal da bancada amazonense, defendendo a venda, justificando que a PETROBRAS nada investiu na região nos últimos 15 anos… Caro deputado, onde o senhor viveu nas últimas duas décadas?
Volto a ressaltar: o desmonte da PETROBRAS e a desmobilização das suas Unidades Regionais já trouxeram, trazem e trarão seríssimos impactos socioeconômicos e de governança ambiental no Amazonas e na Amazônia, como já o fazem na baixada santista, no Nordeste…
É um crime de lesa-pátria, e no caso da venda dos nossos ativos na Amazônia, atingem nossa soberania territorial: entregam a governança estratégica territorial, sem qualquer discussão conosco, moradores da região, ao capital financeiro sem pátria, ou cultura pelo amor a floresta.
Continuamos sendo tratados como a saudosa Bertha Becker denunciava: “Amazônia como um almoxarifado do Brasil”.
Já vimos no início de 2020 como atua a indústria petrolífera no mundo. O ataque ao Irã mostra até onde pode ir o capital selvagem para salvaguardar suas economias globalizadas.
Já entregamos omissos o gasoduto Coari Manaus aos franceses e não duvido de os russos protagonizarem a compra de parte do território amazônico brasileiro.
Tentaram, por anos, monetizar suas reservas de gás herdadas da HRT, e ampliadas no trabalho da russa ROSNEFT, através de negociações sem efeito com a Petróleo Brasileiro S.A.
É que “brasileiro nem sempre é bonzinho”… lembram daquela bela jovem com sotaque americano nos quadros de humor nas décadas de 80.
A Petróleo Brasileiro S.A. operava, neste momento, com inteligência negocial e sabedoria do que representa sua presença na Amazônia.
A atual ‘PETROBRAX’, sob o comando dos financistas e entreguistas Castello Branco e Paulo Guedes, da obsoleta “Escola de Chicago”, opera sob nova direção: ‘um país dentro do Brasil’, com interesses tão nefastos quanto àqueles levantados pela Polícia Federal e a Operação Lava Jato.
É só fazer uma conta simples: em quantos meses a ‘PETROBRAX’ devolverá o dinheiro recebido dos franceses pela compra do gasoduto da Petróleo Brasileiro S.A.?
É que a empresa tem que levar seu gás natural de Urucu até Manaus para atender a geração de 760 MW de energia elétrica das usinas Manauara, Tambaqui, Jaraqui, Aparecida, Mauá, Cristiano Rocha e Ponta Negra (dados do site da PETROBRAS).
Merci! Diriam os franceses e franco-canadenses ao presidente Bolsonaro e ao vice-presidente Mourão.
“Um negócio desse é de pai para filho”, diria meu pai, que me criou vendendo móveis no maior shopping aberto carioca, o Saara.
Como não há ainda “preço final” para a negociata, me permiti, como brasileiro e amazônida, acrescentar ao texto do classificado neste artigo, parafraseando um comercial de cartão de crédito:
NOSSO COMPLEXO INDUSTRIAL PETROLÍFERO DE URUCU NÃO TEM PREÇO!
*Daniel Borges Nava é Geólogo, Analista Ambiental e Professor Doutor em Ciências Ambientais e Sustentabilidade na Amazônia