14 de outubro de 2024

O perigo das milícias para a nação

O artigo reflete sobre a profissão militar e aponta o perigo da expansão das milícias para o Brasil.

A instituição militar é antiga e tem contribuído bastante para manter a ordem, proteger a nação e também para a administração das empresas, graças à organização linear, a unidade de comando, disciplina, direção, estratégias, liderança e os princípios de Clausewitz, valendo à pena ler: 1) As 36 estratégias chinesas <https://bit.ly/3dVqyy0>; 2) Sun Tzu – a Arte da Guerra para Gerentes <https://amzn.to/3mjFEQS>; 3) On War de Carl Von Clausewitz <https://amzn.to/3dTmmPo>.

Nas Forças Armadas, nas Polícias Civil e Militar, bem como no Corpo de Bombeiros, a população conta com o serviço de diversos profissionais valorosos, alguns dos quais arriscam a vida para cumprir a missão da corporação, mesmo não sendo devidamente reconhecidos.

Além de nossa constituição federal, cada organização militar tem seu manual ou código de ética para explicar aos membros sobre a missão, a visão, os valores, a profissão militar, direitos e deveres, etc. Por exemplo, segundo o Manual de Fundamentos EB20-MF-10.101 O Exército Brasileiro, 1a edição 2014 <https://bit.ly/2TBW1fv> há 12 características da profissão militar, algumas são: o risco de vida, sujeição a preceitos rígidos de disciplina e hierarquia, vigor físico, formação específica e aperfeiçoamento constante, vínculo com a profissão, proibição de participar de atividades políticas, etc.

Entre os valores há: o patriotismo, amor a profissão, coragem, etc. E entre os deveres dos militares do Exército pode-se citar: dedicação e fidelidade à Pátria, culto dos símbolos nacionais, probidade e lealdade, disciplina e respeito à hierarquia, rigoroso cumprimento dos deveres e ordens, e trato do subordinado com dignidade.

Apesar do esforço dos gestores, há militares que em nome do enriquecimento ou de poder, desobedecem as normas, o regimento ou o código de ética da corporação. Alguns são punidos ou expulsos, outros são jogados para a reserva e há os que ainda ficam na ativa. E é dentro desse bojo que há um grupo chamado de milicianos, cujo movimento vem crescendo no país, tendo como base o RJ, ampliando presença não somente nas favelas como também dentro do próprio Estado Brasileiro.

Neste sentido, recomendo o estudo do livro “Dos Barões ao extermínio: a história da violência na Baixada Fluminense” <https://amzn.to/2HtvZIl>, fruto de tese de doutorado defendida na USP e que foi escrito pelo Dr. José C. S. Alves, que estuda as milícias há 27 anos.

Segundo Dr. José Alves, a formação das milícias do RJ vem como evolução dos grupos de extermínios do tempo da ditadura. Para este autor, há cinco elementos que fazem a ligação entre os grupos de extermínios e as milícias: 1o) seus líderes são agentes públicos, vinculados ao Estado, eles são o Estado, não tem nada de paralelo; 2o) são especialistas em provocar danos a vida dos outros; 3o) eles têm uma base territorial; 4o) eles possuem financiamento empresarial e comercial; 5o) se projetam politicamente, galgando espaços pelo voto, começando a se eleger no início dos anos 90, como vereadores, deputados, senadores, os quais agem para defender ou proteger seus interesses ao longo do tempo <https://glo.bo/34s5NGW; https://bit.ly/34q3UuC; https://bit.ly/2TlW1Qs; https://bit.ly/3hOpR9Z >;

Segundo o Dr. José Alves, a diferença entre os grupos de extermínio e a milícia, é que o primeiro grupo agia para matar a partir de serviços contratados, enquanto que a milícia além de possuir matadores de aluguel <https://bit.ly/35WSpvJ>, eles também atuam de forma “empresarial”, tentando dar imagem de benfeitores para a comunidade, se infiltram em associações comunitárias e em igrejas evangélicas, chegando até a vender votações inteiras de áreas que eles controlam, sendo capazes de dar votação expressiva aos seus candidatos, bem como impedir que candidatos de fora do grupo tenham acesso na comunidade para sua campanha <https://bit.ly/3jvjc5v>.

Para complicar ainda mais a vida do brasileiro, maioria das áreas dominadas pelos milicianos no RJ já tem pontos de venda de drogas, e essa parceria criminosa agora ganha um novo nome, a narcomilícia.

Segundo matéria do Oglobo <https://glo.bo/2TC0ZsF>:

a) nas áreas dominadas pelas milícias, os espaços são vendidos ou alugados para o tráfico vender drogas, o acordo é feito apenas com uma facção. Além disso traficantes são contratados pelos milicianos para vender drogas ou fazer cobranças aos inadimplentes;

b) nas áreas em que os traficantes dominam, os bandidos adotam práticas da milícia, como cobrar taxas ou extorquir comerciantes;

c) as atividades ilegais exploradas enriquecem os milicianos <https://bit.ly/31C9ok7; https://bit.ly/37EJpfJ> destacando: c1) taxa de segurança de comerciantes e moradores; c2) controle de transporte alternativo; c3) exploração de vendas de botijão de gás e/ou água mineral; c4) fornecimento de TV a cabo clandestina e internet; c5) cobrança de taxa de moradores que têm imóvel alugado; c6) cobrança de taxa sobre transações imobiliárias; c7) invasão de áreas públicas; c8) construção de imóveis para venda ou aluguel; c9) expulsão de moradores para vender os imóveis; c10) venda de cestas básicas; c11) cobrança de taxa sobre o fornecimento de água; c12) distribuição de energia furtada da Light; c13) tráfico e vendas de armas.

Com o passar do tempo, a milícia começou a mudar de cara, inicialmente formada por policiais, bombeiros, agentes penitenciários e políticos, hoje também conta com apoio de traficantes.

De acordo com Estudo da Secretaria de Polícia Civil/RJ, a narcomilícia avançou até 2018 para 355 bairros, sub-bairros ou comunidades do RJ. E uma matéria do Estadão aponta a presença da milícia em Brasília e 23 Estados do país, incluindo o Amazonas <https://bit.ly/3op5jtl>.

Alguns dos discursos de candidatos ou políticos alinhados e com fortes indícios de apoio de grupos de extermínios e dos milicianos durante as eleições são: bandido bom é bandido morto, vamos aprovar a pena de morte, vamos armar a população, vamos proteger a população. Não sendo novidade, a forte ligação do clã Bolsonaro com essa gente muito perigosa, com direito a discursos públicos de apoio <https://bit.ly/32OArJK; https://bit.ly/3koNVCu>, diversas condecorações e homenagens públicas <https://bit.ly/37T3G1l; https://bit.ly/35y3TE7>, bem como distribuição de cargos com fortes indícios de participação em esquemas nos gabinetes do clã ao longo do tempo <https://bit.ly/35WSpvJ; https://bit.ly/3dhDCNT>.

Finalmente, se desejamos ser patriotas, ter um país forte, democrático, soberano, sustentável e respeitado internacionalmente, precisamos mudar a lógica de muitas coisas no país, peço aos nossos nobres militares, homens e mulheres de bem, para não endeusarem políticos, pois esse erro os tucanos, os companheiros e camaradas já cometeram. Sejamos críticos, servidores do Estado brasileiro, é preciso melhorar o recrutamento e formação dos militares, lutar para que essas instituições sejam transparentes, prestem contas regularmente para a sociedade, tenham coragem de identificar e expulsar os corruptos, isso reduz o surgimento de malucos, apoiados por outros militares que desonram a farda, chamados milicianos <https://bit.ly/34segKo> e essa gente representa um grande perigo para a ordem e progresso da nação.

Jonas Gomes

Prof. Dr. Jonas Gomes da Silva - Professor Associado do Dep. de Engenharia de Produção com Pós Doutorado iniciado no ano de 2020 em Inovação pela Escola de Negócios da Universidade de Manchester. E-mail: [email protected].

Veja também

Pesquisar