27 de julho de 2024
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O Oscar por salvar vidas contra a covid-19

O artigo apresenta resultados preliminares de pesquisa internacional que o autor está realizando na Universidade de Manchester.

Tenho recebido de amigos, tabelas feitas em planilha ou à mão, colocando o Brasil em uma posição “favorável” em relação a alguns países, quando comparado como casos totais ou fatais de Covid-19. Um olhar crítico sobre o material levanta uma série de questões: print alarmista, sem fonte confiável, sem explicação sobre os números nem sobre o processo de escolha dos países, etc… Em síntese, cálculos tendenciosos ou fora do contexto, que induzem o leitor menos crítico ao erro.

Diante do exposto, qual o desempenho do Brasil em termos de casos fatais, quando comparado com outros países, especialmente os que foram ou ainda são os mais críticos? Por outro lado, quais os países que deveriam receber o prêmio Oscar por conseguir adotar medidas que efetivamente protegeram e salvaram vidas em seus territórios? Vejamos então os resultados preliminares de pesquisa que estamos realizando no Reino Unido:

1o) Comparação do Brasil com outros 9 países

A comparação levou em conta os seguintes pressupostos:

1a) a principais fontes são: o site worldometers <https://bit.ly/3dpMErI> para coletar os valores diários de casos fatais de covid-19 em cada país escolhido; e o Centro de Modelagem Matemática de Doenças Infecciosas (CMMDI) da London School of Hygiene & Tropical Medicina <https://bit.ly/30N6qtj>  o qual publica periodicamente um relatório contendo estimativas de porcentagem de casos sintomáticos notificados em países com mais de dez mortes. Esse percentual aponta o quanto o valor oficial divulgado representa em relação ao total de casos reais existentes em cada país.

1b) análise dos 100 primeiros dias de enfrentamento da Covid-19, por cada país da amostra;

1c) Por limitação de espaço, a amosta aqui contará com apenas 10 países que foram considerados os mais críticos em termos de número total de casos entre o dia 31/12/19 e 16/06/20: EUA, Brasil, Rússia, Reino Unido, Espanha, Itália, Alemanha, França, Irã e China. A criticidade está no fato de terem passado por um tempo mais longo no topo em relação a outros países.

Ao analisar o valor de casos fatais acumulados ao longo dos cem primeiros dias, os resultados foram: 1o lugar) EUA com 61655 mortes; 2o) Brasil com 32547 mortes; 3o) Reino Unido com 31547 mortes; 4o) Itália com 30395 casos fatais; 5o) Espanha com 26478; 6o) França com 24760; 7o) Alemanha com 8843; 8o) Irã com 7627; 9o) China com 3335; 10o) Rússia com 1827 casos fatais.

Este resultado é bem diferente das planilhas fakes ou tendenciosas que são espalhadas pela milícia digital instalada no planalto e/ou simpatizantes bolsonaristas. No entanto, é preciso tomar alguns cuidados adicionas, pois quando levamos em conta o número real estimado de casos fatais por um milhão de habitantes ao longo dos primeiros cem dias de enfrentamento da covid-19, o resultado fica o seguinte: 1o) Espanha (46,42); 2o) Itália (36,78); 3o) França (26,47); 4o) Reino Unido (24,94); 5o) Brasil (7,66); 6o) EUA (5,95); 7o) Alemanha (2,43); 8o) Irã (1,78); 9o) Rússia (0,19) e 10o) China (0,02). Aqui vale lembrar que para chegar ao valor estimado de casos reais foi usada a média dos percentuais de casos sintomáticos estimados pelo dos três últimos relatórios do CMMDI (19/5; 28/5 e 2/6).

A média do Brasil é de 20%, ou seja, os números oficiais representam cerca de 20% dos casos reais sintomáticos de covid-19 no Brasil. No 100o dia, o número total de casos fatais no Brasil reconhecidos pelo worldometers é de 32547 mortos, em termos reais, a estimativa do CMMDI, levando em consideração o valor de 26% apontado no Relatório do dia 02/06/20 (o mais próximo da data que completou cem dias – 03/06/20), o número real de falecidos é de 125180.

Se levamos em consideração a média dos 3 últimos relatórios (20%), o número real estimado de falecidos é de 162.735, ou seja, 130188 casos fatais que não foram registrados como morte por covid-19. Assim, a situação é muito mais alarmante do que estão tentando esconder ou pregar para a população, pois há muita gente morrendo, sendo enterrada, sem entrar nas estatísticas oficiais do governo federal e dos governos estaduais. A situação fica pior quando testemunhamos militares do governo federal mascarando na maior cara de pau os números ou tentando escondê-los da população.

2o) Comparação dos países que mais salvaram vidas

Para responder à pergunta acima, levou-se em conta os pressupostos 1a, 1b e 1c acima, com a diferença de que a amostra envolveu 108 países, os quais foram analisados por 12 rankings internacionais que avaliam sistemas de inovação, sistemas de seguridade ou de cuidado da saúde, sustentabilidade, transparência, competitividade digital, qualidade de vida, etc. Cada ranking tem score de 0 a 100 pontos, a média, mediana, desvio padrão e coeficiente de variação foram calculados. Para cada ranking, foram classificados apenas os 50 melhores países, e ao cruzar o resultado dos 12 rankings, no final, 48 nações foram selecionadas, usando como critério, estarem presentes em ao menos seis dos rankings aplicados.

Estes 48 países foram considerados como os mais conceituados internacionalmente. Em seguida, para cada um, foi calculado o número real estimado de casos fatais por milhão de habitantes, durante os cem primeiros dias de enfrentamento da pandemia.

Após o cálculo, foi feita a classificação e o Oscar vai para estes 10 países: 1o) Vietnã (0,0); 2o) Taiwan (0,0026); 3o) Hong Kong (0,0056); 4o) Tailândia (0,0089); 5o) China (0,0242); 6o) Cingapura (0,0299); 7o) Malásia (0,0338); 8o) Austrália (0,0429); 9o) Eslováquia (0,0740); e 10o) Nova Zelândia (0,0880).

Estes resultados são preliminares, mas mostram que o Brasil está mal na foto, perdeu tempo e ainda segue sem rumo. Há muita dor e aflição nos lares de nosso país, que poderiam ser evitadas, se nossos governantes e demais atores tivessem ouvido a OMS, os cientistas, agido com rapidez, transparência e sinergia.

A pesquisa continua <https://ufam.typeform.com/to/UL7R8M> para investigar as boas práticas adotadas pelos países exemplares. Então concluo resgatando o sábio Rei Salomão “Quando os justos governam, alegrasse o povo, mas quando o ímpio domina, o povo geme” (Provérbios 29:2).

*Prof. Dr. Jonas G. da Silva – Prof. da Eng. de Produção da UFAM. Atualmente, pesquisador visitante do Instituto de Pesquisa em Inovação da Escola de Negócios da Universidade de Manchester (RU). E-mail: [email protected]

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