26 de julho de 2024
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Mulheres de Cabul, Mulheres do Brasil

Aproximadamente 13.595 Km é a distância que separa o Brasil do Afeganistão. Dependendo do aeroporto de origem, são cerca de 30 horas de voo entre os dois países. Mesmo assim, não devemos fechar os olhos para passado e presente de qualquer país, principalmente na questão humanitária, nos direitos vilipendiados e na forma como as mulheres são tratadas (ou maltratadas, o termo mais correto).

O retorno do Talibã, 20 anos depois, representa muito mais do que a derrota dos americanos. Acende a preocupação com a possibilidade de extremismo, terrorismo e separatismo, até porque o que se promete muitas vezes não se cumpre, ainda mais num país destruído e desorganizado em vários aspectos.

Na literatura podemos conhecer melhor a realidade. O livro ”Mulheres de Cabul”, da premiada fotógrafa inglesa Harriet Logan, amplia, de forma mais realista, o universo afegão apresentado em ‘O Caçador de Pipas’, de Khaled Hosseini (autor dos livros A cidade do sol e A memória do mar), e em ”O Livreiro de Cabul”, de Asne Seierstad (jornalista e escritora norueguesa conhecida por relatos da vida em zonas de guerra, principalmente em Cabul, Bagdá e Grózni).

Trata-se de uma reportagem viva, emocionante, quase inacreditável, que supera qualquer ficção. Harriet visitou o Afeganistão para ouvir e fotografar dezenas de mulheres durante o regime e depois dele.

Entre setembro de 1996 a outubro de 2001 as afegãs foram submetidas a absurdas leis repressoras, como não poder trabalhar fora nem frequentar escolas. Era proibido rir em público, ouvir música, empinar pipas, e fotografias eram consideradas formas de idolatria. Um período de trevas.

Para Andressa Reis, “Harriet fez algo extremamente perigoso e valoroso. Perigoso porque viajou ao Afeganistão durante a tomada de poder pelos talibãs em 1997 e retornou em 2001 após a invasão americana, numa tentativa de entrevistar o mesmo grupo de mulheres nos dois períodos. Vocês imaginam o que foi uma mulher entrar no Afeganistão nestes anos de guerra? Em uma narrativa sucinta a autora discorre sobre o planejamento, dificuldades, desafios e vitórias dessa empreitada, para cumprir um objetivo muito valoroso: “dar voz às afegãs”! Quem eram essas mulheres que na década de 70 viveram uma época de muitas liberdades, de conquista de direitos e depois viveram diversas invasões, diversas trocas de poder, mas com uma linha mestra de semelhança: a sucessiva perda de direitos para o machismo, a preponderância de práticas misóginas, a generalização da miséria e da violência. Durante anos, as afegãs ficaram inacessíveis ao mundo”.

Mesmo distantes, as brasileiras não precisam de nenhum regime como o Talibã pra sofrerem. Algo urgente deve ser feito, pois as leis brandas e a impunidade fazem com que os agressores e assassinos de mulheres se multipliquem a cada ano.

Conforme pesquisa recente da Datafolha, dentre as formas de violência sofridas, 18,6% responderam que foram ofendidas verbalmente, 6,3% sofreram tapas, chutes ou empurrões, 5,4% passaram por algum tipo de ofensa sexual ou tentativa forçada de relação, 3,1% foram ameaçadas com faca ou arma de fogo e 2,4% foram espancadas. E se fosse a sua filha?

Em 2020, um terço das mulheres mortas no Brasil morreu apenas por ser mulher. A taxa de Feminicídios no país é uma das mais altas do mundo. E sem Talibã.

O governo federal oferece vários canais de denúncia: Disque 100, Ligue 180, mensagem de zap para o número (61)99656-5008, Telegram no canal “Direitoshumanosbrasilbot”, Aplicativo “Direitos Humanos Brasil (para iOS e Android).

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