A vida é um sopro divino. E é este sopro criador de Deus que nos permite viver material e espiritualmente. É a tradução perfeita da vida na sua totalidade e plenitude. Assim aprendemos na Sagrada Escritura: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente” (Gênesis 2,7).
Se a origem da vida nos é perfeitamente compreensível, aceita e louvada, o mesmo não pode ser dito a respeito da morte. Se, de um lado, temos celebração do nascimento da vida; doutro, encaramos a dor, a perda, a ausência daquele ser humano querido que deixou de viver entre nós.
A morte ainda é um mistério nos aflige. Não que as religiões não possuam as suas explicações sobre a morte; sim, as religiões, em geral, possuem um amplo acervo de explicações metafísicas e teológicas. Este não é o problema em si.
A questão toda reside na percepção que nós, leigos e sofredores neste vale de lágrimas, temos dessa realidade enigmática diante de nós. A morte não é só uma explicação. É a dor que sentimos quando perdemos um ente querido que tanto amamos.
No último dia 10 de fevereiro, meu amado pai foi vitimado por complicações causadas pela covid-19. José Taveira Leite Filho cumpriu a sua caminhada na terra e nos deixou como lição a importância de se ter uma vida digna, do respeito ao próximo, do valor do trabalho árduo e da retidão do caráter.
Criado nos longínquos seringais de Carauari, à margem esquerda das águas do rio Juruá, era filho de nordestinos, desbravadores das florestas da Amazônia. Meu pai teve a típica infância de um menino interiorano, isto é, uma vida de muito sacrifício, mas também de muita ludicidade que só uma vida fora das grandes capitais pode propiciar.
Ainda criança, meu pai veio viver em Manaus e logo iniciou a sua vida na ordenação religiosa. Tornou-se seminarista e, por um tempo, pensou seriamente em seguir a vocação sacerdotal. A recordação de meu pai sobre a experiência como seminarista foi a melhor possível. Numa certa conversa que tivemos, ele chegou a me confessar ter se arrependido de não ter seguido a vida religiosa como padre ordenado. Meu pai foi um católico devoto e nutria um profundo amor pela Igreja de Cristo.
Na sua adolescência, já distante do seminário, ingressou nas fileiras do Exército brasileiro. Serviu com honra as nossas Forças Armadas, tendo recebido várias menções honrosas por atos de bravura e dedicação à instituição. Servir nas FFAA nos anos de 1970 era uma prática comum que ajudou a forjar o espírito patriótico numa geração inteira.
Na vida adulta, seu Taveira, como era conhecido por todos, começou a sua vida como comerciante, onde tornou-se um vendedor destacado da Jaú Camiseiro. Mais experiente decidiu abrir um bar em sociedade com seu primo Brito. Os dois abriram um conhecidíssimo bar no São Raimundo, localizado quase em frente à principal igreja do bairro.
O boom econômico da cidade possibilitou que meu pai atuasse nos mais diferentes setores. Foi proprietário de bar, restaurante, lojista e até dirigente esportivo no bicampeonato do Sul América Esporte Clube no início da década de 1990. Viveu de tudo um pouco na metrópole das grandes oportunidades.
Um homem de vida saudável que nunca ficava doente. Cuidar de sua saúde era quase uma obsessão. Fazia caminhadas diárias, tinha uma alimentação regrada e estilo de vida estoico. Confesso que até agora não consigo entender como o meu pai teve uma morte tão rápida. Os desígnios de Deus são perfeitos. Depois de alguns dias de dor, meu pai deixou a vida dormindo serenamente. Oro para que sua alma esteja sob as bênçãos de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Afinal, depois de tudo, resta apenas a resignação, as boas lembras e a paz no coração. As palavras de Santo Alberto Hurtado são um alento para aqueles que ainda estão aqui chorando pelos seus mortos: “Para o cristão, a morte não é a derrota, e sim a vitória: o momento de ver a Deus; a morte para encontrá-lo, a eternidade para possuí-la… A morte para o cristão não é o grande susto, e sim a grande esperança”.