Continuo afirmando que a estratégia que está sendo usada por setores da indústria para manter os incentivos fiscais do PIM está equivocada e vai continuar deixando, e até com reais possibilidades de aumentar, milhões de amazonenses na extrema pobreza no interior do estado fruto de um modelo concentrador de renda na capital. E tem mais um detalhe, aqui na capital temos mais de 500 mil pessoas na pobreza. A entrevista com o vice-presidente da FIEAM no “Em Tempo” trouxe a seguinte manchete: “…Se a ZFM acabar haverá mais desmatamento e o narcotráfico vencerá…”. Discordo, totalmente, dessa afirmativa. Confesso que não me animei nem um pouco para ler a entrevista do amigo Nelson Azevedo, mesmo sendo um grande parceiro, presente e estimulador do comitê de Agronegócios FIEAM/FAEA (CADAAM). Já vi e ouvi várias defesas técnicas de alto nível e bem fundamentadas para a necessária manutenção do modelo do PIM/ZFM, portanto, sem a menor necessidade de usar o argumento do aumento do desmatamento, do narcotráfico e a criminalização da agricultura e pecuária sustentável no Amazonas.
Hoje, com todo o estudo dos pesquisadores da Embrapa não existe a necessidade de desmatamento para a prática da agricultura e da pecuária. Para ficar ainda mais clara essa afirmativa, e para não ter o trabalho de acessar o site da conceituadíssima Embrapa transcrevo o seguinte texto:
“…Diante desse cenário, o sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) torna-se uma alternativa viável de produção para recuperação de áreas alteradas ou degradadas. A integração de árvores com pastagens e ou com lavouras é conceituada como o sistema que integra os componentes lavoura, pecuária e floresta, em rotação, consórcio ou sucessão, na mesma área. Possibilita que o solo seja explorado economicamente durante todo o ano, favorecendo o aumento na oferta de grãos, de carne e de leite a um custo mais baixo, devido ao sinergismo que se cria entre lavoura e pastagem…”. Portanto, precisamos respeitar os pesquisadores, a ciência.
O narcotráfico está vencendo no interior porque os 97% preservados da floresta não levou renda ao interior, nem o modelo (ZFM/PIM) concentrador de renda na capital levou renda a essa população. Temos metade da população do estado que vive no interior sem se beneficiar do PIM há 50 anos, e mesmo assim nosso estado tem 97% preservado. Portanto, não houve desmatamento onde o PIM não chegou, mas tem fome, desemprego, desnutrição, violência e o narcotráfico. Isso tem que mudar! Concordo que precisamos, unidos, defender os incentivos fiscais do PIM com argumentos técnicos (já vi muita gente preparada para essa tarefa), mas não vamos criminalizar o nosso setor primário, os nossos 330 mil produtores rurais que lutam para sobreviver em nosso estado. As duas coisas podem caminhar juntas, mas o discurso não está nessa direção.