O que é o ponto central de todo esforço de monitoração é a ideia de valor. Valor é todo bem que se quer incorporar à inovação para que seja percebido e utilizado pelos usuários ou consumidores finais. Dessa forma, o acréscimo de etapas para o processo de monitoração é justificado quando não houver a possibilidade do valor pretendido não ser incorporado. Acrescentam-se, portanto, etapas, para que haja a garantia de sua incorporação e entrega. O mesmo raciocínio e comprometimento é feito em relação à eliminação de etapas. Todas aquelas que não agregarem valor ao produto ou componente devem ser eliminadas. Simples assim. Os valores a serem agregados são os definidos pela equipe de inovação em forma de atributos, de forma que o processo de inovação se transforma em um esforço de determinação das etapas e procedimentos de agregação de valores que a inovação deve apresentar.
Novamente é importante observar que o processo de inovação é singular. Não existem etapas previstas, determinadas em forma de protocolo, para serem seguidas. A inovação tem justamente esse desafio: a determinação das etapas que, posteriormente, as linhas de produção seguirão para repetir o esquema de produção para que a inovação aconteça e, além disso, incorpore os valores a ela previstos. Em termos metafóricos, a equipe de inovação tem o papel que tem os abridores de trilhas nas matas. Não existe um mapa, um roteiro que leve de um ponto A para um ponto B no espaço geográfico da floresta. Cabe à equipe de abridores de trilha a determinação da rota mais promissora para que outras equipes, de trilheiros e apreciadores de florestas, possam segui-la em segurança, do ponto A ao ponto B.
O que acontece, portanto, nessa determinação de rota do processo de inovação é a constante revisão de procedimentos anteriores, já validados, mas que, devido a novas descobertas em etapas posteriores, levam às necessárias revisões. Essas revisões levam tanto ao acréscimo de etapas, como vimos anteriormente, quanto na eliminação de outras já validadas e protocoladas. No caso da nossa metáfora com os abridores de trilhas, é como se a equipe, já tendo adentrado vários quilômetros na mata, descobrisse que um novo traçado da rota seria mais interessante (porque teria cachoeiras, clareiras, árvores frutíferas no caminho, por exemplo). Depois de submetidas a testes, essas etapas já validadas são, então alteradas para novas validações e confecção de novos protocolos.
Uma equipe de desenvolvimento tecnológico estava finalizando o processo de criação de um braço mecânico para uma linha de produção de automóveis. Um membro da equipe descobriu que um determinado material poderia abreviar a produção de um dos componentes do robô, além de reduzir em mais de sessenta por cento o custo de produção daqueles componentes. Isso daria não apenas mais competitividade ao futuro produto, como também aceleraria o processo de produção com menos riscos de desconformidades, e relação ao material que tinha sido utilizado e validado.
A equipe redesenhou cada etapa dos processos de criação dos componentes, testou-as de diversas formas e chegou à conclusão de que, realmente, o novo material apresentava inúmeras vantagens em relação ao anterior. De posse dessas comprovações, foi documentado o novo protocolo do processo de invenção, eliminando-se duas das cinco linhas de produção de componentes, reduzindo o processo global de inovação em cerca de trinta e cinco por cento, mais de um terço do tempo total.
Certa vez um grupo de pesquisadores já tinham ultrapassado metade das etapas previstas para o processo de criação de um novo fitoterápico. A maior parte das etapas validadas girava em torno da extração e manutenção do princípio ativo das espécies utilizadas na construção do processo de inovação. Depois que a extração e a manutenção do princípio estavam garantidos, as etapas seguintes eram relativamente rápidas para serem executadas e com menos riscos de desconformidades, previam os cientistas. Os testes das etapas realmente levavam à confirmação dessa avaliação.
Um dos pesquisadores, contudo, soube, através de um mateiro, que um descendente de uma antiga comunidade indígena amazônica, já completamente aculturada, ainda dominava uma antiga técnica tradicional de extração do princípio ativo que a equipe trabalhava. De fato, o descendente indígena demonstrou os procedimentos, que foram documentados, para que pudessem ser reproduzidos e testados. Os resultados mostraram que a técnica tribal era muito mais eficiente que a criada pela equipe de inovação. Ainda que houvesse as questões relativas a direitos autorais, depois facilmente resolvidas pelas equipes jurídicas, o processo de inovação se tornou mais rápido e com muito menos riscos de desconformidades. Novamente, aqui, as etapas que já tinham sido validadas e protocoladas foram alteradas, algumas completamente eliminadas.
As etapas de monitoração apresentam e representam esse manancial inesgotável de recursos de aprendizado durante o processo de inovação. Sabe-se onde se quer chegar e sabe-se que valores o produto final precisa apresentar. No entanto, como o caminho até o produto final ainda não foi definido, avanços e voltas são necessários porque é quando se está lá na frente que se pode, muitas vezes, ver melhor o trajeto construído e aperfeiçoá-lo. Evidentemente que o esforço de aperfeiçoamento continuará, mesmo quando todas as etapas forem finalizadas, validadas e protocoladas. O processo de aprendizagem é inesgotável.
Assim, todo o esforço de monitoramento se dá em torno da ideia de valor. O grande desafio das equipes de inovação é apresentar um artefato físico que tenha nele encapsulado os valores que os usuários e clientes demandam. Às equipes de inovação compete a escolha do artefato físico e a construção do caminho que levará à sua materialização. Como não existe caminho prévio, durante as etapas de construção algumas já validadas e documentadas são alteradas, substituídas por outras mais eficientes e eficazes em relação àqueles valores pretendidos e outros atributos de produção, como os relativos a custos. Todo esse trabalho é para evitar ao máximo possível as desconformidades dos atributos incorporados à inovação em relação aos valores demandados.