Aristóteles Drummond
Os três candidatos na disputa, Lula, Bolsonaro e, possivelmente crescendo, Ciro Gomes têm em comum a teimosia e a insistência de não tentarem corrigir pontos fracos que desanimam eventuais eleitores fora de seus núcleos mais fiéis.
Ciro Gomes, o mais bem equipado intelectualmente, mais informado e com bagagem mais positiva, pode vir a ter reais chances na medida em que aparece como o mais viril e convincente nas críticas aos até aqui principais nomes na disputa. E como a rejeição de ambos é grande, poderia receber os eleitores alocados pelas circunstâncias nos dois candidatos radicais. Mas insiste em falar em “ditadura” quando foi eleito para um primeiro mandato pelo PDS, cujo chefe em Sobral era seu pai. Gosta de se apresentar como de esquerda, mas não explica bem que não tem nada com o bolivarianismo do qual Lula é simpatizante. E, pela dificuldade de agregar, demorou até para arranjar um companheiro de chapa. Sua mensagem deveria ser do centro liberal, sem populismos nem teses paternalistas e demagógicas, como a de taxar fortunas, que não deu certo em nenhum lugar do mundo e ele sabe bem.
Lula continua o mesmo, mente ao se apresentar como inocentado pelo STF, que apenas anulou sentenças, não cobradas ao juízo de Brasília ao qual os processos foram remetidos e, ao que parece, engavetados para aguardar a prescrição. Faz olhar de paisagem sobre suas identidades com os bolivarianos da Venezuela, Nicarágua, Chile, Peru e Colômbia. Insiste em prometer anular avanços nas reformas da Previdência e Trabalhista e nos contratos de concessões ou privatizações.
Bolsonaro nem precisava mudar muito sua maneira de ser. Tem um bom acervo de realizações, em obras e diretrizes. Para não se afundar mais e tentar subir um pouco, bastava se calar. Mas gosta de provocar o Judiciário, a mídia, falar inconveniências e passear quase todos os dias de motocicleta, além de polemizar em teses que não despertam interesse na grande massa. Gosta de seus seguidores fiéis, que, por mais numerosos que sejam, não são suficientes para vencer disputa na qual são 156 milhões os habilitados e precisando da metade mais um dos votos. Nunca ouviu o ditado popular de que “não me interessa a cor dos gatos, desde que matem os ratos”. Não quer votos mas submissão.
O alto comando do PT, entretanto, mais experiente e sábio, já cuidou de ordenar silêncio em relação às candidaturas Simone Tebet e Ciro, sem responder a ataques, pois a maioria dos eleitores destas candidaturas pode migrar para o candidato do PT no segundo turno. Bolsonaro e Ciro não têm assessoria e, se tivessem, não ouviriam ponderações.
Esse é o triste quadro de importante eleição, num país que já foi a oitava economia do mundo –no tempo dos militares –e deve ser a décima segunda hoje. Inacreditável!