9 de dezembro de 2024

Deserto de homens e ideias

Aristóteles Drummond

Oswaldo Aranha, político brasileiro que marcou a era Vargas, cunhou a frase histórica de que o Brasil era “um deserto de homens e ideias”. Talvez na época, final dos anos 1940, nem fosse. Mas hoje parece que é.

Saímos de uma decisiva eleição em que a maioria dos que foram votar fez a pior opção, jogando o país numa perigosa aventura. Mas a outra opção, embora vinda de um bom mandato, era personificada numa figura menor, sem condições comportamentais de dirigir um município de porte médio. Ambos não atendiam o que a sociedade desejava e o eleitor votou por exclusão na sua grande maioria. Lula, mais esperto e articulado, deixou que o oponente caricato fizesse campanha por ele. 

O deserto de homens ficou patente quando não se conseguiu uma terceira via que inspirasse confiança à sociedade. E mesmo fora daqueles cogitados, o universo político do Brasil está pobre a ponto de não ter surgido um bom nome. Caso o primário Bolsonaro tivesse percebido a derrota, poderia ter tido o gesto de indicar para o pleito um de seus notáveis ministros, o hoje governador de São Paulo, Tarcísio Freitas, ou a senadora Teresa Cristina. Qualquer um dos dois ganharia a maioria entre os 38 milhões de eleitores que se abstiveram ou votaram branco ou nulo. E uma chapa unindo os dois notáveis então teria votação consagradora. O tosco, ao invés de estar às voltas com encrencas, seria reconhecido pelos acertos.

No campo das ideias, o deserto é muito claro. Ambos os candidatos que disputaram o segundo turno são homens de pouca leitura. Não sabem nem interpretar a linha de pensamento que imaginam representar. Bolsonaro  fez uma opção melhor e teve precioso  auxiliar na economia em Paulo Guedes .Lula poderia ouvir mais o seu vice-presidente, de bom senso e experiência. 

Neste momento, não existem muitos nomes no Congresso, mesmo entre os bons parlamentares que lá estão prontos a comandar uma oposição de bom senso, racional, pragmática. Entre os descontentes com os rumos deste governo dificilmente haveria união em torno de um nome experiente, com comprovada sabedoria política. Com a aprovação dos aloprados bolsonaristas.

No Parlamento, o deputado Aécio Neves, vai se recuperando depois da campanha comandada pelos que invejam seus exitosos mandatos à frente do governo de Minas e a quase vitória na eleição de 2014. Outros nomes seriam os ex-presidentes José Sarney, com mais de 90 anos, e Michel Temer, este comprometido pelas ligações tóxicas. FHC não une e sempre andou como linha auxiliar do PT.

Com o passar dos anos, os erros repetidos podem fazer surgir nas forças vivas da nacionalidade uma liderança. Mas vai exigir tempo e o preço a ser pago pelo país pode ser grande.

Tudo vai depender do Congresso e da manutenção da ordem pública. Mas sem dispensar um projeto realista de garantir o progresso. O programa socializante do governo, anacrônico, nos fez lembrar o deserto de ideias que se referia Aranha. Ou, pior, péssimas ideias.

Aristóteles Drummond

É jornalista e presidente da Associação Comercial do Estado do Rio de Janeiro

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