Passados mais de cinco anos do terrível acidente que dizimou seu time, os catarinenses do oeste daquele Estado estão dando uma lição de superação. Ao visitar a arena Índio Condá, pode-se sentir isso em todos os departamentos. Ninguém esconde as feridas que ainda não cicatrizaram, porém todos sabem que, embora a dor da perda não esteja esquecida, é necessário continuar. A humildade está presente na diretoria e no time como um todo transborda o espírito de luta expresso em frases de estímulo por todas as dependências.
O presidente da Associação, Nei Roque Mohr que todos conhecem por “Maidana”, numa referência à vila interiorana da qual nasceu, continua seu trabalho com o mesmo afinco que moveu sua juventude na lavoura da região. Nos recebeu de bermuda, que parece ser parte do seu traje costumeiro e explicou o trabalho intenso que é manter um clube, sempre no limite do orçamento, disputando de igual para igual com os maiores times do Brasil. “Nem sempre o maior time ou o que joga melhor vence, muitas vezes vence o que luta mais, que é mais organizado dentro e fora de campo, que tem o respeito e parceria entre a diretoria e os atletas”. Resume de maneira simples e otimista.
Maidana não esteve na delegação de Medellin por uma questão familiar. Sua filha pequena se apresentaria num balé da escola naqueles dias. “Eu já a tinha frustrado tantas vezes com a minha ausência que, desta vez, preferi ser pai e não dirigente e fiquei. Isso salvou minha vida”, relata emocionado.
A homenagem aos atletas, dirigentes e repórteres mortos no acidente está em dois locais bem visíveis da sede, com os dizeres: “Campeões Sul-americanos”. Mas, afinal, o que aconteceu depois? As especulações sobre as causas ainda patinam na mesma origem: ganância do proprietário do avião em não abastecê-lo, provocando a pane seca que também causou a própria morte. A Associação Chapecoense não busca indenização para o clube e sim justiça para com as famílias das vítimas que ainda não foram atendidas. Indenização alguma cobre a dor da perda de um ente querido. Mas, será que um dia essas famílias receberão algum tipo de compensação por esta tragédia?
Coube ao mascote da Associação Cleiton a apresentação da sede. A sala de imprensa, sala de preparação física, a sala de recuperação e fisioterapia de atletas lesionados e a confecção de camisas do time. As camisas são adquiridas, porém toda a estampa é colocada ali mesmo na sede, grande parte dela por um trabalho pessoal do senhor Cleiton. A harmonia é sensível em todos os setores do clube, desde a recepcionista Jacque, ela própria viúva da tragédia que atingiu o time, até a figura do presidente.
A Associação Chapecoense mantém escolas de esportes para crianças a partir de seis anos de idade até a fase adulta, para ambos os sexos. Participa de competições nas mais diversas categorias como, por exemplo, a sub-20. Muitos jovens começaram lá sua atividade esportiva e hoje brilham no mundo inteiro.
O time da Chape pode não acumular títulos no acirrado campeonato nacional na mesma quantidade que outros times milionários. Assim como conquistou o Campeonato Sul-americano sem jogar, uma vez que seu time foi vitimado, também merece muitos títulos por sua superação, trabalho humilde, porém com profissionalismo. A Associação representa não só a cidade, mas toda a região que contribui com ela. No ano que vem vai completar os primeiros 50 anos. Que venham outros mais, o clube está alicerçado para ter uma longa vida. (Luiz Lauschner)