12 de dezembro de 2024

Chapecoense, uma lição de superação

Passados mais de cinco anos do terrível acidente que dizimou seu time, os catarinenses do oeste daquele Estado estão dando uma lição de superação. Ao visitar a arena Índio Condá, pode-se sentir isso em todos os departamentos. Ninguém esconde as feridas que ainda não cicatrizaram, porém todos sabem que, embora a dor da perda não esteja esquecida, é necessário continuar. A humildade está presente na diretoria e no time como um todo transborda o espírito de luta expresso em frases de estímulo por todas as dependências.

O presidente da Associação, Nei Roque Mohr que todos conhecem por “Maidana”, numa referência à vila interiorana da qual nasceu, continua seu trabalho com o mesmo afinco que moveu sua juventude na lavoura da região. Nos recebeu de bermuda, que parece ser parte do seu traje costumeiro e explicou o trabalho intenso que é manter um clube, sempre no limite do orçamento, disputando de igual para igual com os maiores times do Brasil. “Nem sempre o maior time ou o que joga melhor vence, muitas vezes vence o que luta mais, que é mais organizado dentro e fora de campo, que tem o respeito e parceria entre a diretoria e os atletas”. Resume de maneira simples e otimista.

Maidana não esteve na delegação de Medellin por uma questão familiar. Sua filha pequena se apresentaria num balé da escola naqueles dias. “Eu já a tinha frustrado tantas vezes com a minha ausência que, desta vez, preferi ser pai e não dirigente e fiquei. Isso salvou minha vida”, relata emocionado. 

A homenagem aos atletas, dirigentes e repórteres mortos no acidente está em dois locais bem visíveis da sede, com os dizeres: “Campeões Sul-americanos”. Mas, afinal, o que aconteceu depois? As especulações sobre as causas ainda patinam na mesma origem: ganância do proprietário do avião em não abastecê-lo, provocando a pane seca que também causou a própria morte. A Associação Chapecoense não busca indenização para o clube e sim justiça para com as famílias das vítimas que ainda não foram atendidas. Indenização alguma cobre a dor da perda de um ente querido. Mas, será que um dia essas famílias receberão algum tipo de compensação por esta tragédia?

Coube ao mascote da Associação Cleiton a apresentação da sede. A sala de imprensa, sala de preparação física, a sala de recuperação e fisioterapia de atletas lesionados e a confecção de camisas do time. As camisas são adquiridas, porém toda a estampa é colocada ali mesmo na sede, grande parte dela por um trabalho pessoal do senhor Cleiton. A harmonia é sensível em todos os setores do clube, desde a recepcionista Jacque, ela própria viúva da tragédia que atingiu o time, até a figura do presidente.

A Associação Chapecoense mantém escolas de esportes para crianças a partir de seis anos de idade até a fase adulta, para ambos os sexos. Participa de competições nas mais diversas categorias como, por exemplo, a sub-20. Muitos jovens começaram lá sua atividade esportiva e hoje brilham no mundo inteiro.

O time da Chape pode não acumular títulos no acirrado campeonato nacional na mesma quantidade que outros times milionários. Assim como conquistou o Campeonato Sul-americano sem jogar, uma vez que seu time foi vitimado, também merece muitos títulos por sua superação, trabalho humilde, porém com profissionalismo. A Associação representa não só a cidade, mas toda a região que contribui com ela. No ano que vem vai completar os primeiros 50 anos. Que venham outros mais, o clube está alicerçado para ter uma longa vida. (Luiz Lauschner)

Luiz Lauschner

é empresário

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