14 de outubro de 2024

As nações mais competitivas digitalmente

O artigo apresenta os países mais competitivos digitalmente, bem como alguns gargalos que o Brasil precisa resolver para entrar na era da transformação digital. 

Desde 2020, a Covid-19 forçou a humanidade a encontrar novas formas de se relacionar, valendo a pena estudar as políticas, as inovações e as tecnologias adotadas por estes países modelos em salvar a sua população: NZ <https://bit.ly/3wbqZha>, Taiwan <https://bit.ly/2Xz3sGd>, Tailândia <https://bit.ly/3mVdQ7a> e Vietnã <https://bit.ly/2YX0eQw>. 

Além disso, graças ao uso de tecnologias digitais e cooperação global, as primeiras vacinas contra a Covid-19 foram desenvolvidas em tempo recorde, e ao chegar até a população, elas estão reduzindo drasticamente o número de casos mortais. Isto permite que as nações comecem a voltar ao “novo normal”, atuando para dar competitividade para suas economias, sendo que na agenda dos países mais competitivos há: a adoção da 5G ou 6G, a transformação digital, bem como a transição para uma economia descarbonizada, com forte uso de cidades inteligentes, tecnologias disruptivas (Inteligência Artificial, Blockchain, Cloud, Big Data, etc), veículos elétricos, hidrogênio, energia solar, etc.

E para ter sucesso neste desafiante ambiente global, um país e seus cidadãos necessitam ser capazes de adotar e explorar novas tecnologias digitais que modernizam tanto o Estado, quanto as empresas e outras organizações. Nesse sentido, recomenda-se a leitura do relatório “World Digital Competitiveness Ranking 2021” publicado anualmente pelo Institute for Management Development <https://bit.ly/39255oA>. 

Este estudo analisa e classifica os países, a partir de sua capacidade em adotar e explorar tecnologias digitais, visando transformações nas práticas dos governos, modelos de negócios e sociedade em geral. Para tanto, eles  avaliam 52 indicadores de 64 economias, classificando-os em três principais fatores, cada um contendo outros três sub-fatores, conforme explicado abaixo:

1. Fator Conhecimento

É o know-how necessário para descobrir, entender e construir novas tecnologias. Seus sub-fatores são Talento, Treinamento e Educação, Concentração Científica. No Talento, alguns dos indicadores são: a avaliação do país no PISA, a experiência internacional, o gerenciamento das cidades, as habilidades digitais, etc. No Treinamento e Educação, eles analisam: o treinamento dos empregados, o investimento público em educação, o número de graduados em ciências, a participação das mulheres com nível superior, etc. Em relação à Concentração Científica, são observados: o investimento em P&D, o P&D per capita, Mulheres Pesquisadoras, Produtividade de P&D por publicação, Empregabilidade Técnica e Científica, etc.

2. Fator Tecnologia

Foca no contexto geral que permite o desenvolvimento de tecnologias digitais. Seus sub-fatores são Estrutura Regulatória, Capital e Estrutura Tecnológica. 

Na Estrutura Regulatória eles observam o Início de um negócio, Leis de imigração, Leis para pesquisa científica, etc. No Capital analisam o Fundo para desenvolvimento tecnológico, investimento em telecomunicação, a nota de crédito do país, etc. E na Estrutura Tecnológica analisam as tecnologias de comunicação, usuários de internet, velocidade da internet, etc.

3. Fator Preparação Futura

Analisa o nível de preparação do país em explorar a transformação digital. Seus sub-fatores são Atitudes Adaptativas, Agilidade nos Negócios e Integração das Tecnologias da Informação (TI). Nas Atitudes Adaptativas eles estudam a participação eletrônica, o varejo na internet, posse de smartphones, posse de tablets, etc. Em relação à Agilidade dos Negócios, são analisadas oportunidades e ameaças, distribuição dos robôs, agilidade das empresas, uso de big data e analítica, transferência de conhecimento, etc.  E na Integração das TI, são analisados o Governo Eletrônico, Parcerias Público Privadas, Segurança Cibernética, e Pirataria dos Softwares.

As informações de 32 indicadores são coletadas a partir de estatísticas internacionais e de fontes nacionais, enquanto que as de 20 indicadores são coletadas em um survey realizado junto aos experts e executivos. Ao final, cada país recebe uma pontuação de 0 a 100, e o relatório apresenta várias classificações, bem como o desempenho de cada nação.

Como resultado,  os 15 países mais competitivos digitalmente são: 1) EUA (100); 2) HK (96,58); 3) Suécia (95,19); 4) Dinamarca (95,16); 5) Cingapura (95,14); 6) Suíça (94.94); 7) Holanda (93,31); 8) Taiwan (92,24); 9) Noruega (91,30); 10) Emirados Árabes (90,52); 11) Finlândia (90,13); 12) Coreia do Sul (89,72); 13) Canadá (87,31); 14) Reino Unido (85,83) e 15) China (84,43). 

Por outro lado, os quinze países menos competitivos são: 64) Venezuela (23,47); 63) Botsuana (33,00); 62) Mongólia (40,69); 61) Argentina (43,64); 60) África do Sul (43,64); 59) Colômbia (45,45); 58) Filipinas (47,16); 57) Peru (47,23); 56) México (48,74); 55) Croácia (49,75); 54) Ucrânia (50,07); 53) Indonésia (50,15); 52) Bulgária (50,78); 51) Brasil (51,48); e 50) Romênia (51,97).

Ao observar o desempenho dos EUA, entre 2017 e 2021, eles permanecem no topo, tendo como ponto mais forte a Preparação Futura, permanecendo entre os dois melhores do planeta desde 2017. Neste fator, os EUA tem se destacado na participação eletrônica (1), varejo pela internet (1), posse de tablets (1), distribuição de robôs (4) e transferência de conhecimento (6). Nos outros fatores, os pontos mais fortes são: capital de risco (1), concessões de patentes  de alta tecnologia (1), uso de robôs na educação e na P&D (3), produtividade de P&D por publicação (3), etc.

Ao analisar o desempenho do Brasil, observa-se que o país tem estado entre os 15 menos competitivos desde 2017, apesar de ter evoluído da 55a posição para a 51a posição em 2021. Em relação aos fatores, o melhor desempenho foi na Preparação Futura (45o lugar), enquanto que o pior foi em relação à Tecnologia (55o lugar). Alguns dos principais gargalos do Brasil em termos de Conhecimento são: Habilidades Digitais/Tecnológicas, Experiência Internacional, Gerenciamento das Cidades, Desempenho da Educação Superior, Graduação em Ciências, etc. 

Em termos de Tecnologia, os gargalos são Iniciar um Negócio, Desenvolvimento e Aplicação de Tecnologias, Legislação de Pesquisa Científica, Direitos de Propriedade Intelectual, Nota de Crédito do País, Fundo para o desenvolvimento tecnológico, Tecnologias de Comunicação, etc. Em termos de Preparação do Futuro, os gargalos são Parceria Público Privada, Segurança Cibernética, Transferência de Conhecimento, Uso de Big Data e Analítica, etc.

Finalmente, para entrar na era da transformação digital, o Brasil precisa mudar, adotar uma agenda inclusiva, amigável à ciência, tecnologia e meio ambiente. E para mostrar como fazê-lo, nos próximos artigos, abordaremos sobre como os países mais competitivos estão usando as tecnologias disruptivas para modernizar o Estado, melhorar o gerenciamento das cidades, compartilhar seus benefícios aos cidadãos, bem como dar mais competitividade para suas empresas.

Jonas Gomes

Prof. Dr. Jonas Gomes da Silva - Professor Associado do Dep. de Engenharia de Produção com Pós Doutorado iniciado no ano de 2020 em Inovação pela Escola de Negócios da Universidade de Manchester. E-mail: [email protected].

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