9 de dezembro de 2024

Análise dos Discursos  

Anderson F. Fonseca. Professor de Direito Constitucional. Advogado. Especialista em Comércio Exterior e ZFM. 

IG: @anderson.f.fonseca    

Neste mês de abril que se encerra fomos brindados com uma série de controversos discursos e porque não dizer bate-bocas das mais variadas causas e dos mais variados autores, em sua maioria personagens da vida pública brasileira.

O ramo da filosofia que em regra é utilizado para analisar este fenômeno é a Dialética que segundo o filósofo grego Aristóteles trata de “uma investigação a dois com o propósito de encontrar a verdade ”. A despeito desse entendimento ser o que baliza os estudos nesta seara filosófica, brevemente aqui trataremos de outro pensador acerca deste assunto, falo de não outro senão o filósofo alemão Arthur
Schopenhauer (1788 – 1860) e de sua obra “Como vencer um debate sem precisar ter razão”.

Desde o final de março vimos o deputado de MG Nikolas Ferreira subir à tribuna da Câmara e de peruca falar sobre a questão trans, sendo posteriormente em outras reuniões da casa ser chamado de “chupetinha”, dentre outros.

Observamos o bate-boca do clã Bolsonaro, em particular a cobrança feita pelo deputado Glauber Braga ao deputado Eduardo Bolsonaro acerca da devolução das joias presenteadas a seu pai e a do deputado Marcon ao afirmar que o evento da facada no ex-presidente teria sido inventada, trazendo novamente o forte e ofensiva resposta de Eduardo.

Em um contexto amazônico temos a discussão ocorrida entre os deputados estaduais Wilker Barreto e Joana D’arc quando aquele usando a tribuna, disse ver uma “inversão de valores” nas redes sociais que estão mobilizadas em prol da multa aplicada ao influencer Agenor Tupinambá e da capivara Filó, deixando de lado outros assuntos como problemas da saúde pública.

O que teriam estes três eventos (dentre outros de nossa política tupiniquim) a ver com dialética e Arthur Schopenhauer, respondo eu: tudo! Ao que parece nossos parlamentares e porque não dizer nós enquanto sociedade desaprendemos a arte da discussão, não interessa mais argumentar, não interessa mais descobrir a razão ou a verdade como dito por Aristóteles, o que vale é ganhar ou melhor parecer ganhar o argumento.

Em seu livro o filósofo alemão destaca 38 estratagemas para vencer um debate sem precisar ter qualquer razão plausível, dentre estes destaco os seguintes:

Uso intencional da mutatio controversie . Se notamos que o adversário faz uso de uma argumentação com a qual ameaça nos abater, não devemos consentir que prossiga neste rumo e chegue ao fim, mas devemos interromper o debate a tempo, sair dele ou desviá-lo e levá-lo para outra questão. Em suma, trazer à baila uma mutatio controversie.

Último estrategema. Quando percebemos que o adversário é superior e que acabará por não nos dar razão, então nos tornamos pessoalmente ofensivos, insultuosos, grosseiros. O uso das ofensas pessoais consiste em sair do objeto da discussão e passar ao contendor, atacando, de uma maneira ou de outra, a sua pessoa.

Ao que parece, mesmo sem perceber, nossa vida política está permeada pelo menos destes dois estratagemas, temas importantes e de relevância vital para o andamento do país e de nosso Estado são substituídos por discursos vazios, carregados muitas vezes de insultos, palavras soltas, sem qualquer fundamento ou pretensão de elucidar algo.

Não sou saudosista mas lembro-me ainda em 1989 dos debates televisivos com os pretensos candidatos a presidência da república quando observávamos pelo menos um mínimo de preparo, de oratória, de retórica, da defesa de ideias (concordasse você com elas ou não, fosse de seu político preferido ou não), hoje parece que isto se perdeu.

Aparentemente o volume de seguidores nas redes sociais, a “embalagem”do discurso vale mais que o seu conteúdo e com isto vamos “emburrecendo”nosso intelecto e capacidade de pensar, de argumentar, de sustentar um pensamento minimamente concatenado com a realidade, baseado em fatos, em ideias.

Precisamos mudar esta triste realidade, com representatividade a altura dos anseios e desafios que temos, com educação imersiva, com estímulo à leitura, com exemplo a começar de casa, por analisar o que nos é dito e como nos é dito, analisar os discursos, conteúdo e não embalagem. 

Que neste segundo mês do segundo trimestre de 2023 sejamos surpreendidas positivamente com uma ressignificação em nossas representatividades, seus discursos e sobretudo atitudes.

Anderson Fonseca

Professor de Direito Constitucional. Advogado. Especialista em Comércio Exterior e ZFM

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