No segundo dia da competição oficial no Festival de Cannes, o inglês Mike Leigh, vencedor da Palma de Ouro por “Segredos e Mentiras”, em 1996, exibiu seu novo filme, “Mr. Turner”. Apesar de não ter empolgado como em anos anteriores, Leigh não deve ser considerado carta fora do baralho.
O longa sobre os últimos anos do pintor Joseph Mallord William Turner (1775-1851) foi aplaudido de forma comedida em sua primeira exibição mundial, nesta quinta (15). Mas o tema, a fotografia de Dick Pope e a interpretação de Timothy Spall (“Harry Potter”) como Turner colocam o filme em uma posição confortável no início da competição.
“Turner era um revolucionário e achei que sua vida renderia uma história fascinante, porque existe uma clara tensão entre um indivíduo defeituoso e seu trabalho épico”, disse o cineasta após a sessão. “Ele enxergava o oceano e o sol diferentemente de todos nós.”
Conhecido como “o pintor da luz”, Turner era um sujeito de modos rudes, físico grotesco e sexualmente voraz -apesar de ter problemas com intimidade, o que o fazia abusar sexualmente da sua empregada ou pagar prostitutas.
“Ele era um homem misterioso”, resumiu Timothy Spall, que tomou lições de pintura por dois anos antes de assumir o papel. “Para mim, Turner prova que nem todos os gênios vêm em pacotes bonitos e românticos. Ele era um homem bruto, de coração duro, mas possuía uma alma incrível, poética.”
Leigh, com a ajuda de Pope, conseguiu equilibrar essa natureza primata do pintor brincando com a paleta de cores e os cenários bucólicos da costa sul da Inglaterra.
“As cores de Turner estão documentadas na [galeria] Tate Britain e eu já pesquisava seu trabalho anos antes de começar a rodar”, disse Pope.
Largada
O primeiro filme da competição foi apresentado nesta quarta (14) à noite e foi bem recebido em Cannes.
“Timbuktu”, do mauritano Abderrahmane Sissako, é baseado no caso real de uma cidade no Mali invadida por fundamentalistas islâmicos, que chegaram a matar um casal em um apedrejamento apenas por não ser marido e mulher.
Com uma certa dose de humor negro, o longa trata os radicais religiosos como adolescentes cegos e perdidos.
“O que me fez filmar foi o fato de ninguém ter falado sobre o caso”, disse o cineasta. “Quando um modelo de celular é lançado, a imprensa cobre à exaustão. Esse caso mostra que estamos anestesiados ao horror no mundo.”
Novo filme de Mike Leigh não empolga
Redação
Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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