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Luto oficial em Manaus pela morte de Thiago de Mello

O poeta Thiago de Mello morreu nesta sexta-feira em Manaus. Reconhecido mundialmente pelo talento, Thiago estava com 95 anos. A causa da morte ainda não foi informada. O Prefeito de Manaus, David Almeida, decretou luto oficial por três dias em Manaus.

“Filho dessa terra, Thiago de Mello se consagrou um ícone da literatura amazonense. Seu reconhecimento atravessou as fronteiras do Estado e sua poesia alcançou o Brasil e vários países, com suas obras traduzidas em 30 idiomas. Que Deus seja o alento da família, de amigos e de todos os amazonenses neste momento. Que sigam firmes na esperança da ressurreição e na breve volta de Jesus Cristo”, declarou o prefeito.

“Thiago de Mello é um dos poetas mais respeitados do País, e, neste momento de dor, presto minhas condolências à família e aos amigos deste grande ícone da cultura amazonense. Que Deus possa confortar a todos nesse momento tão doloroso”, lamentou o diretor-presidente da Manauscult, Alonso Oliveira. 

Amadeu Thiago de Mello nasceu em Porantim do Bom Socorro, município de Barreirinha interior do Estado do Amazonas, no dia 30 de março de 1926. Thiago é considerado um dos poetas mais influentes e respeitados do Brasil e reconhecido como um ícone da literatura regional. 

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“A passagem de Thiago de Mello é uma nota triste para a cultura brasileira. Sua poesia e seu legado ficará como testemunho de sua presença e da humanidade e beleza de seu canto” declarou o presidente do Concultura, Tenório Telles. 

O vice-prefeito Marcos Rotta também lamentou a morte do poeta. “Meus sentimentos à família e aos amigos do grande Thiago de Mello, que deixa um importante legado, inclusive, para gerações futuras”, disse.

Entre suas obras destacadas mundialmente, estão “Os Estatutos do Homem”, “Faz escuro, mas eu canto”, “Silêncio e palavra” e “Manaus, amor e memória”. Além da dedicação à literatura, exerceu o jornalismo e serviu no Itamaraty, como adido cultural no Chile, onde cultivou uma grande amizade com Pablo Neruda e Salvador Allende.

No ano passado, em celebração aos seus 95 anos de vida, a Prefeitura de Manaus realizou a exposição virtual “Thiago de Mello 95 anos de vida, poesia e amor por Manaus”, a partir de acervos pessoais e públicos do poeta, com fotos, entrevistas e vídeos, disponível no link https://vidaecultura.manaus.am.gov.br/. Peças publicitárias nas redes sociais e pelas ruas da cidade também fizeram reconhecimento ao poeta amazonense.

O velório será realizado no Centro Cultural Palácio Rio Negro, na Avenida Sete de Setembro, número 1546, Centro de Manaus, com o horário a confirmar. O poeta vem recebendo diversas homenagens pelas redes sociais. Antes de sua morte, Thiago recebeu homenagens que não pode comparecer por motivo de saúde.

Leia, a seguir, o poema mais conhecido de Thiago de Mello, Os Estatutos do Homem, de 1977:

Os Estatutos do Homem
(Ato Institucional Permanente)

A Carlos Heitor Cony

Artigo I.

Fica decretado que agora vale a verdade.

que agora vale a vida,

e que de mãos dadas,

trabalharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II.

Fica decretado que todos os dias da semana,

inclusive as terças-feiras mais cinzentas,

têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III.

Fica decretado que, a partir deste instante,

haverá girassóis em todas as janelas,

que os girassóis terão direito

a abrir-se dentro da sombra;

e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,

abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV.

Fica decretado que o homem

não precisará nunca mais

duvidar do homem.

Que o homem confiará no homem

como a palmeira confia no vento,

como o vento confia no ar,

como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo Único:

O homem confiará no homem

como um menino confia em outro menino.

Artigo V.

Fica decretado que os homens

estão livres do jugo da mentira.

Nunca mais será preciso usar

a couraça do silêncio

nem a armadura de palavras.

O homem se sentará à mesa

com seu olhar limpo

porque a verdade passará a ser servida

antes da sobremesa.

Artigo VI.

Fica estabelecida, durante dez séculos,

a prática sonhada pelo profeta Isaías,

e o lobo e o cordeiro pastarão juntos

e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII.

Por decreto irrevogável fica estabelecido

o reinado permanente da justiça e da claridade,

e a alegria será uma bandeira generosa

para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII.

Fica decretado que a maior dor

sempre foi e será sempre

não poder dar-se amor a quem se ama

e saber que é a água

que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX.

Fica permitido que o pão de cada dia

tenha no homem o sinal de seu suor.

Mas que sobretudo tenha sempre

o quente sabor da ternura.

Artigo X.

Fica permitido a qualquer pessoa,

a qualquer hora da vida,

o uso do traje branco.

Artigo XI.

Fica decretado, por definição,

que o homem é um animal que ama

e que por isso é belo.

muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII.

Decreta-se que nada será obrigado nem proibido.

tudo será permitido,

inclusive brincar com os rinocerontes

e caminhar pelas tardes

com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único:

Só uma coisa fica proibida:

amar sem amor.

Artigo XIII.

Fica decretado que o dinheiro

não poderá nunca mais comprar

o sol das manhãs vindouras.

Expulso do grande baú do medo,

o dinheiro se transformará em uma espada fraternal

para defender o direito de cantar

e a festa do dia que chegou.

Artigo Final.

Fica proibido o uso da palavra liberdade.

a qual será suprimida dos dicionários

e do pântano enganoso das bocas.

A partir deste instante

a liberdade será algo vivo e transparente

como um fogo ou um rio,

e a sua morada será sempre

o coração do homem.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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