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Comércio do Amazonas despenca em janeiro

Em sintonia com o começo da segunda onda de covid-19 e as restrições ao atendimento presencial em comércio e serviços, o varejo do Amazonas começou o ano com um mergulho de dois dígitos nas vendas e na receita nominal. Foi a terceira queda seguida, desta vez em tombo recorde, fazendo o Estado registrar os piores números do setor em todo o país. O desempenho foi ainda pior em segmentos dependentes de crédito, como veículos e material de construção – que estavam na lista de segmentos não essenciais e, portanto, de portas fechadas. Os dados estão na pesquisa mensal do IBGE para o setor, divulgada nesta sexta (12). 

O varejo amazonense retrocedeu nada menos do que 29,7%, na passagem de dezembro de 2020 para janeiro de 2021, reforçando o decréscimo mensal anterior (-3,1%). Foi a maior queda da série histórica do indicador, neste tipo de comparação. Em relação ao resultado de janeiro do ano passado, o volume de vendas do setor recuou 24,3%. O acumulado dos últimos 12 meses, contudo, ainda rendeu crescimento de 4,5% para a atividade. Com isso, o Estado ficou aquém da média nacional em todas as comparações (-0,2%, -0,3% e +1%, na ordem).

Com o decréscimo recorde no volume de vendas em relação a novembro, o Estado despencou do 10º para o último lugar no ranking das 27 unidades federativas brasileiras. Foi precedido por Rondônia (-9,1%) e Ceará (-4,9%). Em contraste, Minas Gerais (+8,3%) encabeçou a lista, sendo seguido por Tocantins (+3,7%) e Acre (+1,1%). O acumulado do ano também colocou o Estado com o pior resultado do país, em um ranking liderado pelo Amapá (+17,7%), Minas Gerais (+11,9%) e Pará (+9,8%).  

A receita nominal do setor – que não considera a inflação do período – apresentou resultados comparativamente melhores. A queda na comparação com dezembro foi de 25,5% – contra os -2% da sondagem anterior. No confronto com janeiro de 2020, o varejo do Amazonas encolheu 9,5%, enquanto o saldo do acumulado dos 12 meses ainda se manteve no azul e na casa dos dois dígitos (+11,1%). As médias nacionais neste cenário, por outro lado, foram todas positivas: +0,7%, +8,7% e +6,3%.

Com a variação mensal negativa na receita nominal, o Amazonas desabou da nona para a última posição, ficando bem abaixo do penúltimo colocado (Amapá, com +8,7%), enquanto Minas Gerais (+7,9%), Tocantins (+5,1%) e Amapá (+2%) dividiam o pódio. O Estado também amargou o pior resultado do ranking acumulado, sendo precedido por Rondônia (-7,8%) e Distrito Federal (-3,8%), enquanto Amapá (+24,1%), Minas Gerais (+22,7%) e Pará (+18,5%) figuravam na liderança. 

Varejo ampliado

Pior desempenho foi registrado no varejo ampliado do Amazonas – que inclui veículos e suas partes e peças, bem como material de construção. O volume de vendas encolheu inéditos 33,9% no confronto com dezembro de 2020, além de retroceder 26,9% sobre janeiro do ano passado. A atividade comercial amazonense ainda conseguiu elevação de 4,4% no acumulado dos 12 meses. As respectivas médias nacionais foram -2,1%, -2,9% e -1,9%.

Já a receita nominal do varejo ampliado desmoronou 32,2%, na comparação com dezembro de 2020, e tombou 17,2%, na variação anual, embora tenha conseguido avançar 10,3% no aglutinado dos 12 meses – contra -0,1%, +7,1% e +3,4% da média brasileira. O desempenho situou o Estado na última posição de ambos os rankings – que foram liderados por Tocantins na variação mensal (+6,3% e +7,1%, respectivamente), e Amapá, no confronto com janeiro de 2020 (+13,4% e +20,1%, na ordem).

“Maus cenários”

Em sua análise para a reportagem do Jornal do Commercio, o supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, assinalou que o comércio amazonense foi duramente afetado pelas medidas de restrições governamentais ocorridas no âmbito da segunda onda. Com isso, prossegue o pesquisador, as vendas caíram sensivelmente, prejudicando diretamente a receita das empresas, em um cenário ainda incerto para o setor. 

“A atividade comercial do Estado começa o ano de forma diferente do que ocorreu em anos anteriores: em queda. O comércio ampliado sofreu retrações até maiores, e é um fator que nos diz que as vendas de veículos, peças e material de construção, foram mais impactadas que o comércio normal. E a média móvel trimestral está com queda acumulada, o que não possibilita bons cenários para o próximo mês”, alertou.

Horários e vacinação

No entendimento do presidente da FCDL-AM (Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado do Amazonas), Ezra Azury, os números da pesquisa não são motivo para surpresa, já que as atividades não essenciais do varejo amazonense seguiram fechadas durante todo o mês de janeiro, inclusive com restrições às vendas pelas modalidades de delivery e drive-thru – especialmente as de autopeças, de material de construção e de veículos. O dirigente acrescenta ainda que a confiança do consumidor estava “muito em baixa”, no período.

“Estamos tentando voltar a trabalhar com turnos de seis horas e de oito horas, mas precisamos ver como vão ser feitas as correções dos horários. No caso das lojas de rua, de 9h às 17h, já está ajustado. Mas, a meu ver, o dos shoppings não foi uma escolha muito feliz, porque 10h às 18h não é um bom horário de vendas. Acho que tem que ser feita uma correção para 12h às 20h, o que melhoraria as vendas. Em março, já devemos ter um dado estável, ou uma queda bem menor, de 4% a 5%, em relação ao mesmo mês de 2020, lembrando que ficamos fechados na última semana de março do ano passado”, avaliou. 

Na mesma linha, o presidente da ACA (Associação Comercial do Estado do Amazonas), Jorge de Souza Lima, concorda que janeiro não poderia apresentar números melhores para o varejo amazonense, em face do “abre e fecha” do setor. O dirigente reforça ainda que o desempenho de curto prazo depende da velocidade e amplitude da vacinação. “Encaminhamos uma carta aberta ao presidente da República. Todos estão nessa expectativa. Esperamos que seja possível estimular a economia a partir do meio do ano”, concluiu.  

Foto/Destaque: Djalma Jr

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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