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Arquiteto Severiano Mário Porto morre aos 90 anos

‘Arquiteto da Amazônia’, Severiano Porto morre aos 90 anos

Considerado um dos grandes nomes da arquitetura, Severiano Mário Porto, mineiro de Uberlândia, faleceu na manhã de ontem (10) na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro, vítima do coronavírus. Aos 90 anos, o conceituado arquiteto deixa um legado por meio de grandes projetos executados na capital e no interior de Manaus.  

Casa do arquiteto foi um dos projetos premiados

Suas obras, símbolos da arquitetura amazônica compõe importantes projetos no Amazonas entre eles: o Estádio Vivaldo Lima, 1965, Edifícios como a Petrobrás, 1979, sede da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), 1971, e o Campus da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), 1973.

Projetos utilizando materiais regionais são destaque

Em nota enviada à imprensa, o Governo do Estado do Amazonas manifestou profundo pesar pelo falecimento do arquiteto Conhecido como arquiteto da Amazônia, Severiano Mário Porto fez parte da história do Amazonas, assinando importantes obras, como o antigo estádio Vivaldo Lima.

“O Governo do Amazonas reconhece a contribuição de Severiano Mário Porto para o Amazonas e presta suas condolências aos familiares e amigos”, diz a nota.

Por sua vez, o superintendente da Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus),  Algacir Polsin, lamentou a morte do arquiteto em suas redes sociais. “Expoente da arquitetura, Severiano Mário Porto projetou inúmeros prédios históricos, dentre os quais o da sede da Suframa, em Manaus. Lamento seu falecimento e me solidarizo com familiares e amigos pela perda”.

Para o arquiteto e urbanista Jean Faria, presidente do CAU-AM ( Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Amazonas), a vida de Severiano Porto está enraizada na história da Amazônia. 

“Estamos todos tristes com essa perda. O CAU/AM lamenta profundamente. Severiano é um grande expoente da arquitetura no Brasil e certamente fará falta”, lamentou Jean.

Premiado na Bienal Internacional de Arquitetura de Buenos Aires, em 1985, ele alcança renome internacional, que é confirmado em 1987, quando é homenageado como o homem do ano pela revista francesa L’Architecture d’Aujourd’hui.

Sede do Banco da Amazônia na Avenida Sete de Setembro

Em Manaus, Severiano também exerceu a função de professor de arquitetura e urbanismo na Faculdade de Tecnologia da Universidade do Amazonas, de 1972 a 1998. Depois de 36 anos vivendo em Manaus, o arquiteto retorna ao Rio de Janeiro, e transfere o escritório para Niterói, onde passa a morar. Em 2003 recebe o título professor honoris causa da URFJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

O presidente do Crea-AM (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Amazonas), Afonso Lins destacou que Severiano Mário Porto deixa um legado insuperável para o Amazonas e como mestre deixa a sua chancela. “Particularmente, ele foi meu professor na Universidade do Amazonas e muito contribuiu tanto na minha formação profissional quanto pessoal. No Crea Amazonas, foi fundamental para a criação do Conselho que reunia engenheiros e arquitetos. Hoje é um dia triste para o Amazonas e fica a memória dos grandes feitos realizados por este grande homem”, destacou.

Devido às restrições da pandemia, o velório será reservado apenas aos familiares. O enterro será nesta sexta-feira,11, às 13h, no cemitério Parque da Colina, em Niterói (RJ).

Homenagem

Em agosto deste ano, no Centro Cultural Palácio da Justiça, a exposição de fotografias ‘Severiano 90 Anos’, homenageando o arquiteto mineiro de Uberlândia, Severiano Mário Vieira de Magalhães Porto ou, simplesmente Severiano Porto, não por acaso cognominado de ‘Arquiteto da Amazônia’, ou ‘Arquiteto da Floresta’, afinal de contas Severiano Porto veio a Manaus, em 1963, fazer turismo e, dois anos depois, a convite do governador Arthur Cesar Ferreira Reis (1964/1967) voltou para trabalhar na reforma do palácio do governo, então no Palácio Rio Negro, e daqui só foi embora em 2001 deixando uma vasta coleção de obras que marcaram, e marcam, o imaginário do manauara. Luçana Mouco, idealizadora da exposição, ainda produziu jóias inspiradas nas obras de Severiano. A curadoria de ‘Severiano 90 Anos’ é da arquiteta Ana Lúcia Abrahim.

A designer e fotógrafa Luçana Mouco começou a pensar a exposição em homenagem a Severiano, em 2015, após a Copa do Mundo, quando viu o Vivaldo Lima ser totalmente demolido para a construção de um novo estádio, num desrespeito à obra do arquiteto.

“Desde criança as obras de Severiano me chamavam a atenção, porque meu pai, engenheiro, falava dele sempre que passávamos por alguma delas. Quando comecei a estudar design, lia tudo o que encontrava sobre ele e fiquei fã do seu trabalho que valoriza as técnicas indígenas e caboclas de construção. Suas obras aproveitam ao máximo a iluminação natural e a ventilação ambiente, situações que só agora estamos dando valor”, falou.

Para a arquiteta, Ana Lúcia Abrahim, Severiano não é só uma referência em arquitetura. Ele é importante para todas as artes. É uma referência para a cidade e futuras gerações. Sou professora da faculdade de arquitetura e sei o quanto a gente estuda o que ele fez em Manaus, e ainda estudamos pouco, porque as obras dele começam a ser demolidas e vamos deixando de ter acesso físico àquele elemento de memória. Severiano é uma figura internacionalmente respeitada, símbolo da arquitetura amazônica, que deixamos de ter e estamos destruindo”, lamentou Ana Lúcia Abrahim.

A arquiteta calcula que, em 36 anos de Manaus, Severiano tenha concretizado umas cem obras, e muitas residências particulares.

“Possivelmente o Vivaldão, em área construída, tenha sido a sua maior obra. Apesar de termos grande número de trabalhos dele em pé, foi muito significativa a insensibilidade do governo ao demolir o Vivaldão, mas os governos locais costumam ser insensíveis a patrimônios. Como o Estado manda destruir a obra de um arquiteto que você mesmo contratou? Achei isso de uma insensibilidade absoluta”, falou.

Andréia Leite

é repórter do Jornal do Commercio
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