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‘Zoológico é o segundo ponto mais visitado’ diz o coronel Fábio Lustosa

Grande atração turística no Amazonas, o zoológico do Cigs (Centro de Instrução de Guerra Selva) é, hoje, o segundo ponto mais visitado em Manaus, segundo o coronel Fábio Lustosa, atual comandante do quartel, criado nos anos 1964 e comandado inicialmente pelo lendário, carismático Jorge Teixeira, o Teixeirão, que acaba de completar o seu centenário.

Em termos de atrações, o Cigs só perde mesmo para o Teatro Amazonas, outro gigante monumento do Estado que representa o tempo áureo da borracha. Na realidade, o zoológico funciona como um quartel e cumpre duas funções– um espaço para abrigar pelo menos 450 animais selvagens e ainda para promoção de cursos no qual o mais famoso deles é a sobrevivência na selva, um teste rigoroso para avaliar a resistência de militares às adversidades e intempéries das florestas amazônicas.  

O Cigs esteve fechado para visitação pública durante oito meses por conta da pandemia. E só reabriu em junho deste ano. Mas nada disso foi empecilho para manter as atividades internas de um local que é visitado por, aproximadamente, 150 mil pessoas por ano, entre turistas brasileiros e de outros países, ressalta o coronel Fábio Lustosa, um grande admirador de Teixeirão que o antecedeu no cargo.

“Realmente, tivemos algumas situações complicadas com a pandemia, mas de alguma forma conseguimos contribuir muito para o combate e a prevenção nas medidas de enfrentamento à crise sanitária”, diz o coronel. “Na realidade, passamos oito meses nos preparando para retornar”, acrescenta ele.

O coronel afirma que o zoológico mantém uma interação muito próxima com a população. Serve de local para estudos sobre as peculiaridades da Amazônia. A ‘Oca do conhecimento ambiental’, um espaço onde os estudantes podem aprender sobre os mais variados temas culturais, sociais e econômicos da região, é um dos lugares mais solicitados pelas escolas das redes municipal e estadual.

Lá, há um grande acervo sobre obras da Região Amazônica que está disponível a todos, envolvendo os assuntos mais pitorescos e exóticos da cultura e biodiversidade amazônicas. Mostra também a grande trajetória de Teixeirão que se tornou um personagem mítico por suas ações na política, nas ações econômicas e no desenvolvimento do Amazonas e de Rondônia.

“Teixeirão foi um estadista, um homem que sempre marcará a vida de cada um de nós. Inteligente e empreendedor, tinha um tirocínio em cada ação que ajudou a desenvolver e defender uma região tão inóspita como a Amazônia. A ele podemos atribuir o desenvolvimento que experimentamos hoje, notadamente na consolidação da Zona Franca de Manaus”, avalia o coronel Fábio Lustosa, sem esconder a sua paixão e admiração pelo militar que dedicou pelo menos 25 anos da vida em ações em prol do Amazonas e de Rondônia.

O coronel disse que o Cigs e o CMA (Comando Militar da Amazônia) preparam as comemorações do centenário de Teixeirão. Mas a festa será interna, restrita, reunindo apenas militares. “Jamais nos esqueceremos de um homem que marcou a sua trajetória na região e continua como referencial até hoje para ações de empreendedorismo”, disse.

O coronel falou com exclusividade ao Jornal do Commercio.

Jornal do Commercio – Como a pandemia afetou o Cigs?

Coronel Fábio Lustosa – Realmente, tivemos situações complicadas com a pandemia, mas de alguma forma conseguimos contribuir muito para o combate ao coronavírus e na prevenção na cidade. A nossa maior impossibilidade foi abrir o nosso zoológico, essencial para o lazer da população. Passamos praticamente oito meses fechados.

JC – Além dos animais, afeta todo mundo o zoológico fechado. Como conseguiram ficar todo esse tempo sem atividades?

CFL – Independente de ter público ou não, as nossas atividades não pararam. Elas continuaram diariamente. De alguma forma, passamos oito meses nos preparando para voltar a funcionar, a questão do tratamento dos animais, a reeducação de pessoas que de alguma forma podiam comparecer ao zoológico. Demos essas pequenas aberturas diante de alguma solicitação, evitando aglomerações e tudo mais.

Mas tudo funcionou no dia a dia em relação ao trato com os animais que continuaram sendo resgatados das mãos de traficantes, espécies em situações de vulnerabilidade, resgatados pela Polícia Civil, Polícia Ambiental ou pelo próprio Ibama. Houve manutenção no dia a dia do zoológico. A vida continuou naturalmente.

JC – Quantos animais o Cigs abriga hoje?

CFL – Em torno de 400 a 450 animais. É uma variação muito grande. O zoológico do Cigs é integrado a uma rede de zoológicos, tem ligação com o ICmbio (instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), com o Ibama. Recebemos os animais resgatados da mesma forma que por indicação do Ibama entregamos animais para outros institutos. Há uma variação natural na quantidade.

JC – Parece que os animais também, de alguma forma, sentem saudades da população, como acontece com os domésticos. Os de cativeiros têm essa mesma percepção, afetou o emocional deles durante o fechamento?

CFL – O zoológico recebe em torno de 150 mil visitantes por ano. É o segundo ponto mais visitado de Manaus. Perde somente para o Teatro Amazonas. Nesse tempo de fechamento, os animais reagiram de maneiras distintas.

Os animais são selvagens, não estão ali pra agradar ninguém ou deixar de agradar. Mas há animais que ficam mais contentes com a movimentação. Por exemplo, na ilha dos macacos, é muito clara a interação desses animais com o público.

Também dos papagaios com as crianças, as pessoas ficam estimulando algum tipo de contato. Mas pra outros animais é diferente, a vida segue naturalmente normal.

JC – Coronel, o zoológico é o segundo ponto mais visitado de Manaus. Ele já ficou pequeno para receber um público tão expressivo?

CFL – O zoológico remonta à criação do próprio Cigs. Ele foi criado em 1964. Em 1965, assumiu o comando o coronel Jorge Teixeira. Em 1967, foi inaugurado o zoológico que tinha a finalidade de ser auxiliar de instrução de oficiais e sargentos que  vinham do Centro-Sul e precisavam ter esse tipo de educação, ter contato com animais silvestres, e tudo mais.

Como o zoológico cresceu, em 1969 ele foi aberto ao público – já tem mais de 50 anos que ele atende à população manauara. Recordo que, na década de 1990, eu  era tenente, cheguei aqui em 1994, fiquei até 1997, e no meu último ano já havia sido iniciada a ampliação do zoológico para a estrutura que ele possui hoje.

E o  zoológico foi  reaberto em 1999. Quando caminhamos hoje pelo local é certo que a gente identifica uma série de oportunidades de melhorias. Teríamos condições de realizar ampliações de viveiros, novos recintos até pra gente atender vários animais. Muitas vezes temos que encaminhá-los pra outros institutos por falta de local.

Mais isso envolve interesses financeiros, políticos, pra termos incrementos turísticos e de outras atividades. Estamos em conversação com vários órgãos e com o próprio governo do Estado, governo municipal, pra  gente tentar empreender um novo caminho.

Mas sem crescer mais. Acho que ele tem um tamanho ideal e adequado às nossas atuais demandas. Mas talvez seria bom uma melhoria de mentalidade, trocar quatro a cinco viveiros por um viveiro maior de aves, por exemplo, incrementar também alguns espaços pra que eles tenham uma melhor convivência e um espaço maior aos animais. Hoje o zoológico segue todas as regras, as medidas, mas a gente quer sempre melhorar. E  repetir a própria experiência das pessoas se aproximarem dos animais, uma atividade que já acontece em outros zoológicos pelo Brasil. Mas é coisa a longo prazo, não é algo imediato.

JC – Um zoológico vai além do objetivo de abrigar animais para visitação pública. Outros trabalhos importantes são realizados. De que forma o Cigs e a cidade de Manaus contribuíram para o Brasil e o mundo conhecerem um pouco mais da Amazônia?

CFL – Com a abertura do zoológico em Manaus,  a transformação de uma atividade em turismo e lazer na cidade é um primeiro ganho. Isso não fica fechado dentro dos muros do quartel.

O zoológico é um quartel. Abrir as portas para a comunidade e a forma como a gente faz é algo com bastante relevância. Há uma interação junto à Secretaria Municipal de Educação. Então,  há professores que permanecem lá ao longo da semana. Recebemos inúmeras escolas ao longo do ano, isso é muito natural.

A gente acorda com as escolas, atendemos às solicitações para fazer essas visitas. E recebemos os visitantes por meio de uma instalação chamada ‘Oca do conhecimento ambiental’, onde esses professores fazem suas pesquisas e estudos.

JC – O sr. fala que o Cigs é um quartel. Sem dúvida, é o que tem maior interação com a sociedade. Alguém pode pensar que esses animais poderiam estar na selva, mas de repente eles estão ali sendo bem cuidados…

CFL – Tem uma série de exemplos. A dinâmica amazônica tem que ser vista com os olhos amazônicos. Quando a gente encara, por exemplo, um ribeirinho que tem uma dificuldade imensa de alimentação no canto que ele mora. Então, ele busca na cidade mais próxima uma criação de ovelha, suíno. E esses animais são mortos por uma onça, e ela acaba morrendo.

Aí surgem os filhotes órfãos que não têm condições de sobreviver no interior do Amazonas sozinhos. Isso abrange todos os tipos de animais. É um que é atropelado na AM-010, é recolhido para trato, senão ele morreria. E a reinserção desses animais é muito complicada.

Nosso zoológico dispõe hoje de quatro veterinários e uma bióloga. Sempre que a gente tem um animal cuja reinserção é possível ela é  feita. Temos este ano casos de reinserção com  sucesso de macacos.

Há animais que vivem em bandos e têm um referencial de área que podem ser reinseridos. Mas outros não, como a onça que perdeu a mãe muito cedo, aos 20 dias, não tem como sobreviver. Outra coisa interessante – na selva, uma onça vive de 10 a 15 anos, em cativeiro vai de 15 a 25 anos. É bom até pra cruzamento e preservação da espécie. O que podemos afirmar é que os animais que vêm de maus-tratos não sofrem isso conosco. São tratados com muita atenção e devoção por nós.

JC – Este ano marca os 100 anos de Teixeirão, o patrono, que foi o primeiro comandante do Cigs. Ele tem uma história fantástica e seu nome está muito presente no zoológico. O coronel teria criado, não se sabe se é lenda, esse brado ‘selva’, tão caraterístico dos militares que lidam com os guerreiros de selva. Esse centenário vai ser lembrado….?

CFL – Essa pergunta é muito interessante. O coronel Jorge Teixeira é daquelas figuras que são ímpares, aparecem uma vez na vida de cada um de nós.

Esse militar, sendo um major de artilharia nascido em 1921, este ano marca o centenário dele, ele é chamado pelo ministro do Exército, general Costa e Silva, para Brasília, que disse ‘você vai comandar e dar andamento ao Cigs que foi criado no ano passado (1964).

E vem pra Manaus, mas estamos falando de vir em 1965, quando a maior parte das estruturas e infraestruturas sobre tudo que se vê na cidade inexistiam ou simplesmente eram bastante tímidas.

Então, ele chega e encara esse desafio realmente como um soldado. Em 12 meses, implanta um curso e vai num modo contínuo, comanda o Cigs, posteriormente cria e dirige  o Colégio Militar de Manaus, passa à reserva do Exército. Foi prefeito de Manaus e o último governador do território de Rondônia e o primeiro governador do Estado de Rondônia.

Ele passou 20 anos na Amazônia. O Cigs e Comando Militar da Amazônia vão comemorar o centenário de Teixeirão, mas as festas serão apenas para os internos, não sendo abertas ao público externo.

No século 20, tivemos também nomes como o Marechal Rondon, a questão do Acre, com Plácido de Castro, Assis Brasil, são grandes personagens que fundaram lotes, cidades, pra que hoje não tivéssemos nenhum problema nos 17 mil quilômetros de fronteiras com os nossos países vizinhos. Temos que olhar pra essa Amazônia que brilha pro futuro e que depende da gente.

JC – Nós queremos a solução, não problemas…

CFL – Eu acho que nós já somos a solução há muito tempo.

JC – Coronel, o sr. falou que é bom a gente não deixar de valorizar nossos heróis, principalmente integrantes das Forças Armadas que deram sua contribuição histórica. Mas vira e mexe tentam desconstruir tudo isso com narrativas. E tentaram isso até com o patrono do Exército, Duque de Caxias. Como avalia essa questão?

CFL – A gente tem que dar atenção àquilo que é, realmente, importante. Uma história que é construída sobre valores não é desconstruída da noite pro dia. Então, a gente segue adiante fazendo o nosso trabalho. Atualmente, estamos no aspecto de defesa e desenvolvimento da Amazônia muito forte.

Acho que respondemos isso com trabalhos. São inúmeros os programas voltados hoje em dia para a Amazônia. O Amazônia conectada que chegou com fibra ótica de internet de alta velocidade em São Gabriel da Cachoeira é um exemplo.;

Temos um sistema de monitoramento de fronteiras. Temos o Sivam, o programa Calha Norte, resgatando infraestruturas na Amazônia tão carente.

Operações de fiscalizações, exercícios de defesa externa, como tivemos no ano passado a Operação Amazônia 1. Isso é uma demonstração de que o Exército é um exército profissional.

Existe toda uma infraestrutura das Forças Armadas atuando, como o trabalho hercúleo da nossa Marinha Brasileiro no combate à pandemia. Então, todas essas narrativas são um discurso que não se sustenta. A verdade liberta e  o trabalho também é libertador.

JC – Os cursos de guerra na selva foram prejudicados pela pandemia?

CFL – Não, de forma alguma. A instituições das Forças Armadas se caracterizam pela prontidão, pela permanente prontidão. Recebemos no primeiro curso de oficiais e sargentos 108 militares, com nenhum caso de Covid. No segundo foram 100, também sem nenhum registro da doença. Graças a Deus, nós fomos abençoados.

JC – Como está funcionando o zoológico, há uma demanda reprimida?

CFL – Está funcionando de terça a domingo, abrindo às 9h da manhã e fechando às 16h40. O último visitante sai do zoológico às 17h. As solicitações continuam  normais, a gente vai ajustando as atividades.

Temos uma capacidade diária para receber em torno de 4 mil pessoas visitando o zoológico, mas determinamos que esse público seja pela metade como medida de prevenção nessa época da pandemia.

A data da reabertura do zoológico foi dia 5 de junho, Dia do Meio Ambiente. Aproveitamos a data para reabrir as atividades.

Foto/Destaque: Divulgação

Marcelo Peres

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