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Zonas Leste e Norte são onde Manaus cresce

Zonas Leste e Norte são onde Manaus cresce

As zonas Leste e Norte são as mais “jovens” de Manaus e ficam onde a cidade efetivamente cresce. Ambas também encerram muitas contradições. Por um lado, o observador atento poderá perceber um crescimento acelerado, em paralelo com uma ocupação caótica dos espaços urbanos e a necessidade de seguir adiante. Saltarão aos olhos ainda os problemas decorrentes dessa modernização aos trancos e barrancos, como a falta de espaços comuns para lazer, problemas de mobilidade urbana e trânsito caótico, entre outros.

Andar pela zona Norte de Manaus, por exemplo, é ter uma percepção do presente, passado e futuro. O passado dos anos 1980 remete aos desafios pela distância, falta de água e de luz. O presente evidente mostra um comércio ativo, trânsito em transformação, casas reformadas, e outras inacabadas, dado seu crescimento desordenado, marcado pelas invasões de terra.

Segundo o IBGE, (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2019, a zona Norte contabilizava aproximadamente 609.924 mil habitantes, sendo a região mais populosa da cidade. É formada por dez bairros: Cidade Nova, Nova cidade, Santa Etelvina, Monte das Oliveiras, Novo Israel, Colônia Santo Antônio, Novo Aleixo, Colônia Terra Nova e Lagoa Azul. Neles, encontram-se conjuntos habitacionais populares, como o Viver Melhor, além de novos empreendimentos imobiliários.

Mas, é fato que a região, mesmo desprovida de planejamento urbano, caminhou com as pernas de suas comunidades, superando as mazelas sociais, rumo ao desenvolvimento econômico. E despertando nas autoridades municipais a necessidade de criar políticas publicas, para dar autonomia à região, que alcançou um crescimento, responsável pela geração de muitos empregos e renda. E também por oportunidades de empreendeder.

Administrador de empresas e consultor de emprego e carreira, Flavio Guimarães, destaca que esse despertar para os negócios nas pessoas comuns, que costumam trabalhar em empregos convencionais, é mais comum do que se pensa e, quando acontece, rende resultados recompensadores para quem empreende.

“O mais interessante disso é que essa necessidade básica, que obrigou muitos profissionais a trilharem esse caminho, mostrou um grande campo de atuação, que até então nunca havia sido explorado. O resultado disso? Muita gente começando a ganhar muito dinheiro. Alguns passaram a receber três ou quatro vezes mais do que ganhavam no regime CLT”, apontou. 

Necessidade e oportunidade

Mas, o empreendedorismo se manifesta tanto pela vocação, quanto pela necessidade. Rafaela Oliveira mora no bairro Santa Etelvina há 18 anos e transformou a frente da casa em um pequeno mercado, onde vende de tudo um pouco. “Fiquei desempregada e tinha que pensar rápido. Peguei o dinheiro da rescisão e montei um mercadinho. É pequeno, mas garante meu sustento e dos meus filhos”, contou.

Crise pode gerar oportunidade, dependendo da capacidade de adaptação. Um exemplo vem do uso de novas tecnologias no atendimento aos clientes, uma tendência que não passou batida na zona Norte. É claro que os negócios físicos não vão deixar de existir, sejam feiras, lojas, restaurantes. Contudo, o digital é cada vez mais presente no cotidiano do consumidor. A pandemia deixou isto bem claro, quando os serviços de entregas aumentaram em quase 200% em Manaus. Daniel Cavalcante, 26, faz delivery por serviço de aplicativo, e diz que tem sentido o aumento. “Normalmente, eu fazia 15 entregas por dia. Hoje, a média é de 25 a 35 entregas”. 

O empreendedor conta que o desafio atual é ter seu negócio nas mais diversas plataformas, seja na loja física, seja na virtual. “Considerando esse atual contexto, precisamos lembrar que muitos negócios já migraram para a via digital há algum tempo e estão na frente de muitos outros empreendimentos”, observou.

“Periferia carente”

Tão promissores, quanto desafiadores, os caminhos também são cheios de encruzilhadas. Na zona leste, o manauara pode identificar que as rotatórias, as chamadas ‘bolas’, dividem regiões. É assim na Bola do Coroado, que é uma divisão física das zonas Leste e Centro-Sul. A ‘Bola’ do Produtor, por sua vez, é a fronteira da zona Norte com a Leste, enquanto a do Armando Mendes representa o inicio do Distrito industrial. Também dividem bairros, como São José, Coroado, Puraquequara, Zumbi, Jorge Teixeira e Tancredo Neves.

Historicamente os bairros da zona Leste nasceram de ocupações, principalmente nos anos 1970 e 1980, com pessoas que chegavam de outros Estados e do interior, em busca de oportunidades nas fábricas da Zona Franca de Manaus, assim como ocorrido com populações que foram movidas de zonas urbanas ribeirinhas para terrenos mais afastados do Centro. 

Apesar dos bairros terem avançado economicamente, principalmente no setor comercial, o filósofo e doutor em antropologia, Agenor Vasconcellos, ressalta que esse mesmo crescimento foi incapaz de evitar sequelas sociais. “Os dados do IBGE revelam um grande dilema manauara. Ao mesmo tempo em que o Amazonas é uma das dez maiores economias do Brasil, é também uma enorme periferia carente em todos os aspectos básicos: saúde, educação, cultura, saneamento, segurança. Se a zona Leste de Manaus tivesse uma cara, seria a dos trabalhadores da cidade. São aqueles que fazem a cidade girar e pegar no pesado. Indígenas, negros, ribeirinhos, descendentes de nordestinos e muitos outros contextos se encontram nessa região da cidade”, assinalou.

Agenor Vasconcellos destaca ainda que a zona Leste possui um forte traço cosmopolita, como o de “uma grande comunidade indígena” que está sempre a receber novas pessoas em busca de oportunidades e uma vida melhor, apesar dos desafios econômicos e sociais. Daí a necessidade de incrementar políticas públicas voltadas para essa população. “Pessoalmente, observo um projeto político nacional que mantém a gente nessa situação. Enquanto a vida aqui for precária, a mão de obra será barata. Isso, a meu ver, não significa desenvolvimento”, frisou.

Evocação do passado

Para a pedagoga, Gisela Braga, idealizadora do site “Manaus de Antigamente” – também com versões no Facebook e no Instagram –, a população está criando o hábito de buscar sua identidade cultural e histórica. “Essas fotografias causam uma sensação nostálgica nos seguidores. Os idosos lembram das décadas de 1950, 1960 e 1970, enquanto os jovens gostam de preservação do patrimônio histórico e da arquitetura, assim como público mais juvenil gosta de lendas urbanas, fatos curiosos, misteriosos”, informou.

Embora mais recentes em sua ocupação, as zonas Leste e Norte não ficam de fora dessa tendência. Na página do “Manaus de Antigamente”, é possível encontrar fotos da construção da avenida grande circular na zona Leste, assim como os antigos ônibus marrons que circulavam na região, na década de 1980. Ou mesmo os “Manequinhos” (micro-ônibus) e Manecões (vagões de passageiros puxados por cavalos de aço) que atendiam o fluxo entre a zona Norte e o Centro, nos anos1980/1990. 

Gisela Braga costuma realizar com seus seguidores, mediante agendamento, passeios que visam esse resgate histórico de Manaus. “Ali, eles vão se deparar com realidade, cultura, objetos, atmosfera, e circunstâncias que nunca haviam parado para observar, como a fachada de um prédio, sua escultura e sua cor”, acrescentou. 

Reportagem de Sandro Abecassis

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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