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‘ZFM tem solução para o País’ diz Wilson Perico

Presidente do Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas), Wilson Perico avalia que o modelo ZFM (Zona Franca de Manaus) é a grande solução para os problemas atuais do País. E ainda reúne poder de fogo, muita munição, para as próximas gerações enfrentarem as adversidades e os desafios no futuro.

Ao contrário do que muitos dizem, Wilson Perico sustenta ser o polo incentivado importante para alavancar a economia brasileira, contribuindo para a geração de empregos, não só no Amazonas, como também em outros Estados do Brasil.

“Antes de ser um peso para o País, a ZFM traz grandes contribuições. Nosso Estado carrega boa parte das soluções dos problemas atuais e dos que se apresentarão futuramente”, ressalta o líder empresarial.

Perico alerta que, hoje, a instabilidade política também preocupa o segmento da indústria, em especial na Zona Franca, afugentando potenciais investidores que acabam levando seus negócios para países próximos.

Um governador de Estado na condição de réu, por suspeita de participação em esquema de superfaturamento de preços, é outro grande entrave para novos investimentos no Amazonas, segundo analisa Wilson Perico.

Apesar de toda essa turbulência política que impacta negativamente nos setores mais essenciais das atividades econômicas, a ZFM consegue se erguer aos poucos, salienta o empresário. “Só em agosto, passamos dos 102 mil empregos diretos”, destaca ele. 

Para o empresário, a pandemia deixou uma grande lição a todos. “Foi um aprendizado para todo mundo. Hoje, estamos muito mais preparados para enfrentar desafios no futuro. Não foi fácil e não está sendo fácil”, acrescenta.

De acordo com Wilson Perico, faltam, hoje, insumos para as empresas da ZFM. “Tem indústria que está fazendo pedidos para 2023”, revela. “Como projetar ações para o mercado daqui a um ano e meio?”, questiona, com preocupação.

Wilson Perico falou com exclusividade ao Jornal do Commercio.

Jornal do Commercio – Parece que a ZFM, que antes vivia sempre em campo minado, está  tranquila agora….É impressão?

Wilson Perico – Como dizemos aqui, o problema ‘pra nós não acaba e nem fica pouco’. O País passa por uma turbulência política muito grande e os assuntos do nosso Estado acabam ficando em segundo e terceiro planos, principalmente os da Zona Franca.

Mas o Distrito Industrial vem se recuperando, trazendo bons resultados. Para o Amazonas, a geração de empregos na ZFM é muito mais importante que o faturamento, interessando mais para o governo federal.

Só em agosto, passamos dos 102 mil empregos diretos com a retomada das atividades. No ano passado, o mundo ficou parado por três meses no ano passado. Agora, na segunda onda, durante várias semanas.

Existe uma demanda reprimida e as indústrias têm se esforçado pra atender os pedidos. E isso tem fatores positivos e negativos – o positivo é a geração de emprego.

E o negativo são as dificuldades que as empresas estão tendo hoje pra conseguir insumos para atender na velocidade que o mercado espera.

Tem indústrias aqui no distrito que estão colocando pedidos para 2023. Como é que você consegue conceber e planejar um mercado no Brasil pra daqui um ano e meio?

E ainda, então como vai ser o mercado brasileiro em 2023 com toda essa instabilidade política de que estamos vivendo? Mas as empresas estão sendo forçadas a fazer isso pra garantir os seus insumos.

JC – Em 2023 teremos um novo presidente ou continuaremos com o atual….

Wilson Perico – Tem esse fator que traz um ponto de interrogação e esfria os anseios dos investidores no País, até que tenha um cenário mais clarificado.

Aconteceu lá atrás na transição de FHC para o Lula. Foi um momento de continuidade, e toda aquela celeuma por conta do impeachment da presidente Dilma e depois a eleição do Bolsonaro. O mercado fica num compasso de espera pra ver qual é o cenário em que ele vai estar inserido.

JC – O presidente tem se envolvido em vários embates. Como vê esse novo Bolsonaro que está buscando equacionar falhas do governo para uma maior interlocução com outros países?

Wilson Perico – Não vou entrar na questão do viés político. Ficamos muito apreensivos um dia após o 7 de Setembro, sobre o que iria acontecer. Graças a Deus, a solução que veio foi de pacificação.

Não acho que o Bolsonaro tenha mudado, é o mesmo deputado que se tornou presidente da República, fala e se comporta da mesma forma. Daí os pontos de interrogação porque ele passa a ser chefe do Estado brasileiro.

Todo mundo cobra dele uma postura diferente, mais polida, mais assertiva, menos provocativa. Ouvi todo o discurso dele na ONU e a mim agradou. Ele foi muito assertivo, autêntico, não se curvou, tem as convicções dele sobre as ações durante a pandemia. Ele respeita o livre arbítrio das pessoas.

E ao mesmo tempo mostrou que pode ser uma pessoa que pode representar assertivamente  o tamanho que nosso país é. Da mesma maneira, eu questionou e não me curvo quando falamos de Amazonas em qualquer canto.

Que não somos o patinho feio da história do Brasil, mais que Paulo Guedes e Carlos da Costa achem que os incentivos daqui sejam danosos para o País, e não são.

Então, o presidente da República se portou com essa estatura a estatura de um país que tem dimensões continentais, que abastece o mundo hoje de alimentos, que tem uma cobertura florestal intacta que supera os 60% que ele citou. Diferente de qualquer outro país do mundo, principalmente daqueles que atacam as políticas ambientais. Não que eu seja a favar do desmatamento, muito pelo contrário. Muita falácia foi vendida pelo mundo afora de queimadas aqui no Amazonas que não acontecem.

JC –Vemos uma instabilidade política em nosso Estado, muito complicada. O governador virando réu. Isso também pesa um pouco nas articulações da Zona Franca?

Wilson Perico – Nos últimos sete anos, tivemos quatro governadores no nosso Estado

José Melo, que foi cassado. David Almeida, Amazonino Mendes e, agora, Wilson Lima.

Quando se está negociando com o Estado para aportar um recurso, um investimento, sai um e entra outro, impondo outras regras, atrapalhando os negócios.

Para o bem do nosso Estado, espero que o atual governador resolva essa situação, consiga provar que nada é verdade, porque isso realmente afugenta investidores.

JC -Em relação à exploração dos recursos naturais, como vê essa situação de ‘não pode’ vindo de pessoas que não conhecem a nossa realidade, as nossas necessidades, como convencê-las do que precisamos fazer?

Wilson Perico –Vamos falar das nossas potencialidades. Quando fizemos a prospecção de nossa jazida de potássio que é a segunda maior do mundo. Um grupo de investidores bancou essa prospecção e tudo mais, buscou as licenças pra começar as atividades de exploração dessas atividades.

E o potássio é um dos insumos pra produção de fertilizantes. E o nosso Estado, que não foi o governo federal, não foi atrás do fabricante de fertilizantes.

A exploração atenderia não só o mercado brasileiro, mas se tornaria um hope de distribuição e exportação. O fabricante de fertilizantes exporta para o Brasil 95% do que consumimos.

O Estado do Amazonas, em vez de tomar essa atitude, estava pensando em como tributar o potássio. E até hoje, por questões outras, a exploração dessa jazida ainda não foi regularizada.

É a mesma coisa que acontece com a BR-319, que é uma coisa que os três Estados – Amazonas, Rondônia e Roraima -,  querem e sabem da necessidade e importância da rodovia pavimentada para que ela seja trafegável o ano todo.

Temos um presidente que disse que comeria a boina dele se a estrada não saísse. Temos o ministro da Infraestrutura que dá prioridade, inclusive o ministro anterior do Meio Ambiente defendeu a importância de recuperar a estrada, porque todos não veem malefício nenhum.

O governo federal tem papel para punir ilícitos, mas a coisa não sai. É a mesma coisa que aconteceu com o potássio.

Com lideranças industriais, estamos pleiteando junto com os governos dos três Estados encaminhando um ofício novamente ao presidente da República e ao ministério fazendo esses questionamentos. É uma questão de soberania nacional, uma questão de vida. E pra derrubar essas barreiras ambientais que de ambientais não têm nada, os interesses são outros.

JC – O polo de Manaus está com 102 mil empregos diretos. Qual o principal deles, estão bem distribuídos…?

Wilson Perico – Temos duas grandes concentrações – o polo eletrônico e o polo de duas rodas. Estamos falando de quatro cinco produtos, na verdade – o televisor, a motocicleta, a bicicleta, o ar-condicionado e aparelhos de informática.

Por isso, falo temos que diversificar a produção do polo industrial, mas precisamos mudar de atitude. Não é uma questão simples ter o PPB pra obter os incentivos do modelo Zona Franca, sempre demora.

A fixação dos PPBs deveria ser feita pelo próprio Amazonas, porém essa questão fica nas mãos de técnicos do ministério que decidem o que deve ou não ser produzido aqui, sem conhecer as realidades locais.

Essa mudança é necessária pra atrair investidores. O Amazonas tem estatura de chegar ao presidente da República e ao ministério pra pleitear isso. Tudo isso acaba sendo  resolvido lá em Brasília, isso impacta em muitos custos

JC – E acaba criando barreiras….

Wilson Perico – Exatamente, existe um miolo no ministério que define se o produto é ou não para Manaus. Quem deve dizer isso é o próprio investidor.

O investidor só não pode produzir aqui armas, munições, automóveis de passeio e derivados de álcool e fumo. Está na Constituição. O resto pode. Então quem decide onde vai aportar os recursos é o investidor. Não é um técnico de ministério.

Já perdemos muitos investimentos no Brasil por causa disso. Esses investimentos foram para outros países. Não concorremos com outros Estados da União. O modelo ZFM tem 54 anos, tem 436 empresas incentivadas, isso é 0,006% do total de indústrias do País. Não causamos desigualdade. Se isso fosse verdade, as indústrias não estariam instaladas aqui. Não temos grandes indústrias nacionais no Amazonas.

Temos grandes indústrias multinacionais gerando empregos pra brasileiros. Isso tem que ser entendido – essas multinacionais têm tanta a tecnologia de produtos como a de manufaturas que são replicadas aqui. O Brasil não dita tendência em coisa alguma em termos de tecnologia no mundo. A nossa indústria não é competitiva no mercado mundial. Não é com a política do Paulo Guedes que vamos conseguir ser competitivos. Exportamos os insumos primários e importamos os produtos como o leite da soja.

JC – O sr. apontou cinco restrições em produtos na ZFM, como produzir automóveis de passeio. A ZFM já produziu utilitários…..

Wilson Perico – Sim, tivemos só para veículos utilitários. Mas o grande mercado consumidor não está aqui, e sim no Sul, Sudeste, Centro-Oeste e outros. Quando se vai negociar com o ministério, esses produtos maiores acabam encarecendo.

Não temos condições de enviar cegonheiras a outros mercados, e acaba ficando mais caro. Não temos uma matriz que consiga ser competitiva. Em geral, quando uma fábrica tem uma planta para produzir carros de passeios, tem também uma para utilitários. E acaba sendo inviável aqui.

JC – Já dá para mensurar o baque sofrido pela indústria com a pandemia….?

Wilson Perico – Vimos como imponderável essa questão da pandemia, nem mesmo a cabeça mais brilhante poderia quantificar isso.

Utilizamos a expertise das indústrias para produzir aquilo que nosso Estado estava precisando em termos de EPIs, álcool em gel, tentamos desenvolver um respirador aqui. Foi uma batalha grande. Esse período parado causou uma demanda reprimida.

Graças a Deus, o Estado bateu recorde em faturamento e arrecadação. Hoje, estamos gerando mais empregos que gerávamos no final de 2019.

A pandemia foi um aprendizado pra todo mundo. Todos estão muito mais preparados pra enfrentar desafios no futuro. Não foi fácil e não está sendo fácil.

Este ano, as indústrias repassaram para a sociedade mais de 240 toneladas de alimentos. É um grupo chamado ação social integrada. Levamos centenas de milhares de kits escolares. Temos um trabalho para o Dia das Crianças pra tentar ajudar umas 2 mil crianças. Não vai parar. Nosso desafio é ser agente de transformação com a educação, estamos buscando formas para contribuir com isso  também.

JC – Como está o relacionamento com a Suframa?

Wilson Perico –Nunca tivemos qualquer problema com órgãos do nosso Estado. E com a Suframa não é diferente. O general Algacir Polsin é de extrema educação, muito solícito, muito aberto ao diálogo.

Temos uma relação excelente com a Suframa. Com as gestões passadas também. Essa nova gestão da Suframa caminhou conosco atrás das soluções. Vejo hoje a Suframa em boas mãos. Mas no ministério, a postura do Carlos da Costa em relação a nossa indústria, é difícil. Isso me dói no estômago, tive muitas discussões com ele.

Mas abaixo dele temos pessoas cujo diálogo é muito mais acessível. É um processo de construção. Os ataques ao modelo ZFM são constantes.

Temos subsídios que comprovam a assertividade do modelo, sejam nas questões tributárias, sociais e ambientais.

Antes de ser um peso para o Brasil, a ZFM traz contribuições. Nosso Estado carrega boa parte das soluções dos problemas atuais e futuros do País.

JC – As obras de revitalização da estrada do Distrito Industrial contemplaram as expectativas, como também a interlocução com a prefeitura melhorou nessa nova gestão?

Wilson Perico – Há muito tempo vínhamos brigando com isso, mas o prefeito David Almeida honrou e abraçou o Distrito Industrial como ele realmente é, como um bairro.

Todo o Distrito 1 já foi pavimentado, iluminado, não é tapa-buracos, estamos trabalhando agora no paisagismo, embelezamento.

Todo mérito ao atual prefeito de Manaus e a Suframa pelas obras que foram concluídas. E agora vem a licitação das obras do Distrito 2.

JC – Temos notícias de casos de assaltos, como o empresariado está agindo para enfrentar essa  questão?

Wilson Perico – A pandemia refletiu na questão da segurança pública no Estado, na nossa cidade, temos visto isso todos os dias. E nas rotas também não foi diferente.

Os trabalhadores estão muito vulneráveis nas paradas, principalmente o pessoal do segundo e terceiro turnos.  Temos um trabalho muito forte junto à Secretaria de Segurança Pública trabalhando na inteligência e no mapeamento dos pontos mais sensíveis. A maioria das rotas conta hoje com sistemas de câmeras

JC – O Brasil ainda não conseguiu avançar na automação da indústria 4.0. Qual a dificuldade do Distrito Industrial de Manaus para chegar a esse patamar?

Wilson Perico – As indústrias que estão aqui replicam tecnologia embarcada de seus produtos e as tecnologias de manufaturas. Essas multinacionais nos colocam em pé de igualdade na tecnologia 4.0 com aquilo que elas têm com o resto do mundo.

Hoje, temos inteligência, institutos capacitados, pra pegar e promover essas inovações na busca da inserção da melhoria do raqueamento da indústria dentro da filosofia 4.0 que nos permitem dizer que não estamos muito atrás na indústria 4.0 de outros Estados do País.

Temos Santa Catarina, que tem um grande centro e desenvolve isso há muito tempo, e São Paulo, que estão avançados.

Mas nós, como segundo maior polo industrial e a maior concentração de indústrias do País, não estamos muito atrás não. Passamos por dificuldades porque nenhuma região do Brasil é tão fiscalizada como a nossa.

Vejo com muito otimismo que aqui possa ser um celeiro de inovação e capacitação de pessoas para a atividade industrial. Quando falamos de mercado 4.0, o mercado tem 600 vagas abertas para pessoas qualificadas na tecnologia de inovação. Temos que investir na qualificação de pessoas.

Foto/Destaque: Danilo Rodrigues

Marcelo Peres

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