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Wupi Dias transforma reciclagem em arte

Mais de um ano depois de a pandemia ter chegado a Manaus e as atividades culturais continuam sendo uma das mais afetadas pela situação. Como canta Milton Nascimento, ‘todo artista tem de ir aonde o povo está’. Mas isso, agora, não é aconselhável. Alguns artistas até têm conseguido exercer suas atividades, porém, a maioria não, como é o caso do artista plástico Wupi Dias, que foi matéria no JC, em 16 de junho de 2015, quando contou sua história de superação e mostrou alguns dos belos e coloridos quadros que pinta, coisa que ele não faz há mais de um ano.

Sua última exposição aconteceu em setembro de 2019, no Sesc, e quando ele preparava quadros para as próximas, tudo fechou.

“Aí não tive mais condições de comprar tintas. As telas e as molduras eu até faço, mas as tintas são bem caras. Há mais de um ano eu não pinto uma única tela”, lamentou.

Artista plástico Wupi Dias está reciclando sua própria arte nesta pandemia
Foto: Divulgação

Wupi tem 75 anos e vive de sua aposentadoria. Começou desenhando e pintando ainda criança. Na escola, com sete, oito anos, desenhava tão bem que a professora Lurdes pediu que ele o fizesse na sua frente, pois não acreditava que aquele menininho desenhasse daquela maneira. Chamou até o padre para confirmar o feito.  

Com doze, treze anos Wupi foi incentivado por amigos a oferecer seus trabalhos nas lojas S. Monteiro, Credilar, Moto Importadora e Pernambucanas.

“Era para abrir letreiros e fazer desenhos. Eles gostaram do meu trabalho e com isso passei a ganhar um bom dinheiro, que ajudava bastante em casa”, lembrou.

Uma grande evolução para o menino que vendia bananas, pupunhas, picolés e garapa, para ajudar nas despesas de casa. Até numa olaria o garoto trabalhou.

Renascimento de um artista  

Um dia, Wupi estava pintando propagandas nos muros do campo de futebol do Olímpico Clube quando uma pessoa, que o observava, o indicou para pintar um quadro para o dono de um restaurante, localizado na av. Sete de Setembro.

“Eu nunca havia pintado um quadro na vida e, como não tinha pincel, usei capim desfiado para fazer uma paisagem. Com o quadro pronto, caminhava pela Getúlio Vargas rumo ao restaurante quando um carrão parou ao meu lado. O homem que dirigia perguntou se eu havia pintado aquele quadro. Eu disse que sim e ele pediu que o procurasse no restaurante Gabriela, no Boulevard”, contou.

O homem que falara com Wupi era o dono do restaurante Gabriela. Pediu que o rapaz pintasse 14 quadros para decorar o ambiente.    

“Ganhei um bom dinheiro. Depois de algum tempo li no jornal que o restaurante havia incendiado. Todos os meus quadros queimaram junto”, recordou.

Parecia um prenúncio do futuro do rapaz. Nos anos seguintes ele enveredou pelo mundo das bebidas e por mais de 30 anos o artista deixou de existir.

“Todo o dinheiro que ganhava pintando, gastava com bebidas, até que não consegui mais pintar e foram décadas assim”, revelou.

Um dia, em 2000, então com 54 anos, Wupi decidiu que deveria deixar de vez aquela vida de vícios. Se tornou evangélico, largou a bebida e voltou a pintar exatamente como havia deixado de fazer há 30 anos, a mesma pintura abstrata, não aprendida na escola, mas em livros sobre arte. Wupi não usa pincéis. Pinta com espatula, imagens da Amazônia, com textura em alto relevo.

É só ter paciência

Luminária feita com peças reutilizadas
Foto: Divulgação

Outra arte que Wupi fazia, além da pintura, e voltou a fazer, é a confecção de abajures e luminárias a partir de material reciclado. Copo de liquidificador, pote de creme, garrafas de guaraná, refrigerante e iogurte, coador de arroz, balde de pipoca, e lixeira, entre outros, viram belos abajures ou luminárias.

Luminária construída com pote de creme
Foto: Divulgação

“Tanto a pintura quanto a confecção de abajures e luminárias funcionam como terapia para mim. Como não estou conseguindo pintar, restam os abajures e luminárias cuja matéria prima é encontrada facilmente no nosso dia a dia”, explicou.

Wupi produz incessantemente, e vende o material para os interessados. Com a ajuda da filha Lohhana, recentemente o artista entrou no mundo da internet. É ela quem movimenta suas redes sociais e acaba de lançar seu canal no YouTube, onde ele realiza tutoriais ensinando a fazer os abajures e luminárias.

Abajur com cesto de lixo
Foto: Divulgação

“São fáceis de fazer e acabam sendo um passatempo para esses momentos em que vivemos. Como tenho 75 anos, não posso ficar andando por aí, então, a arte é a saída. A luminária que está conseguindo mais sucesso no momento é uma feita com barbante. No meu canal eu ensino o passo a passo e o resultado final é muito bonito”, avisou.

Peça decorativa iluminação feita com barbante
Foto: Divulgação

Quem quiser conhecer mais os trabalhos de Wupi, pode acessar o Face, o Instagram e o YouTube com seu nome, Wupi Dias. Suas obras podem ser solicitadas pelos: 9 9288-1497 e 9 9490-8323.

“Para quem viveu mais de 30 anos no submundo das bebidas, passar por essa pandemia não é problema. É só ter paciência, que tempos melhores virão”, garantiu.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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