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Wilson Perico: ‘O Amazonas precisa mudar atitude’

 

Wilson Périco enfatiza que é necessário gerar empregos e renda (Foto: Jefferson Viegas)

MARCELO PERES

Face: marcelo.peres  Twitter: @JCommercio 

O empresário Wilson Périco é uma grande liderança empresarial no Amazonas, mas agora parte para o seu maior desafio –disputar uma vaga para deputado estadual nas próximas eleições, concorrendo pela sigla que abraçou, o Avante, o mesmo partido do atual prefeito de Manaus, David Almeida.

Périco quer emprestar sua experiência empresarial de mais de 15 anos em defesa da ZFM (Zona Franca de Manaus), que hoje vive em sobressaltos pelas mudanças em torno da redução do IPI, extremamente prejudicial às mais de 500 empresas que operam no Polo Industrial. E ressalta não ser político, mas lembra que só a legitimidade de um mandato público o investirá de maior potencial para defender medidas essenciais ao Estado

O empresário, que já dirigiu o Cieam (Centro da Indústria do Amazonas), faz parte da Fieam (Federação das Indústria do Estado do Amazonas), estando agora à frente do Sindicato de Eletroeletrônicos, pretende estrear na política com o mesmo empenho e a filosofia que sempre marcaram a sua atuação como cidadão amazonense ao longo de mais de uma década –promover desenvolvimento através de novas alternativas econômicas que se somem à ZFM, gerando mais empregos e renda à população.

O pré-candidato alerta que o Parque Industrial de Manaus vive um novo momento, precisando se ajustar às exigências do mercado para continuar competitivo e atrair novos investimentos. A automação reduziu o número de empregos, obrigando as indústrias a acompanhar a evolução de novas tecnologias.

Ele aponta uma condição imprescindível para manter essa competividade. “Nosso maior desafio é a inovação tecnológica”, ressalta Wilson Périco. O empresário também é grande defensor de novas matrizes econômicas, corroborando para fortalecer o raio de ação e o protagonismo da Zona Franca como modelo incentivador do desenvolvimento regional.

No entanto, lamenta que 90% da riqueza gerada pela ZFM continue se concentrando apenas em Manaus em detrimento dos demais 61 municípios do Estado. “Precisamos mudar esse cenário. A população ribeirinha ainda vive em condições de extrema pobreza”, afirma ele.

Para o empresário, a atual bancada do Amazonas em Brasília perdeu a interlocução com o governo federal, abrindo precedentes para a equipe econômica decretar medidas sem ouvir as principais vozes do Estado. “É imperiosa a necessidade de nós mesmos decidirmos pelo nosso próprio futuro”, destaca.

Wilson Périco participou da live ‘JC às 15h’, comandada pelos jornalistas Caubi Cerquinho e Fred Novaes, diretor de redação do Jornal do Commercio.

Jornal do Commercio – Como ventilou a ideia de sair candidato a deputado estadual?

Wilson Périco –Por conta da minha militância há mais dez anos no  Cieam, defendendo a entidade de classe Sindicato de Eletroeletrônicos e também a Federação das Indústrias, tenho recebido essas provocações e até convites de vários partidos para ingressar na carreira política.

Antes não fazia sentido por conta da minha atividade profissional. Hoje, estou aposentado, estava à frente do Centro da Indústria, sou segundo vice-presidente da Federação das Indústrias e estou à frente do Sindicato de Eletroeletrônicos

Por conta de todo esse problema do IPI, nós participamos de várias reuniões com o governo do Estado e a Prefeitura de Manaus. E o prefeito de Manaus, David Almeida, me fez um convite para eu me filiar ao Avante.

Como essa atividade é voluntária, não tem remuneração nenhuma, eu faço pela convicção que tenho da assertividade do modelo Zona Franca e pela preocupação de nosso Estado deixar de ser tão dependente desse modelo.

Nós precisamos gerar empregos, renda. E temos potenciais. Gerar isso nos demais municípios do nosso Estado.

JC – Dentro desse desafio de se lançar candidato pela primeira vez a um cargo eletivo, qual seria a sua estratégia para chegar à vitória nas eleições deste ano?

WP – Nós temos que trazer o Estado para ficar à frente do fortalecimento das atividades do Polo Industrial, alavancar mais empregos em Manaus. E, não menos importante que isso, olharmos para as potencialidades do Estado, gerando mais renda.

Não podemos achar que essa cesta de produtos que temos hoje será suficiente para nos dar a sustentação social que o Polo Industrial dá hoje.

A inovação tecnológica é o nosso maior desafio. No setor de duas rodas, temos o incremento das motocicletas elétricas. E isso vai  trazer diferença nos quadros de funcionários para os que produzem hoje motos a combustão.

Já vivenciamos, hoje, uma redução grande de empregos na produção de televisores. E cada vez mais pessoas são menos demandadas por conta da automação nas indústrias,

Então, essa atenção nós devemos ter. E a mudança que proponho é a seguinte: hoje se você quiser atrair alguém que produz um produto que não é produzido no Brasil, esse investidor ganha uma prenda, ele  tem que ir a Brasília para ter o PPB e produzir com esses incentivos.

Ora, o governo do Estado pode e deve estar junto dessa demanda e pleitear dez PPBs de dez produtos que não são produzidos no Brasil. E os consultores saírem atrás dos produtos no mundo, recebendo esses investidores aqui, recebendo todas as alternativas e facilidades para que eles aportem os recursos, consequentemente gerando empregos para nós

JC – é uma inversão….

WP – Sim, é uma inversão. Esta é uma demanda que nós precisamos como Estado, que tem obrigação de fazer isso, conhecendo os riscos que temos de um esvaziamento caso a gente não consiga atrair novos investimentos para cá.

A mudança parece ser difícil, mas não é. Não acontece do dia pra noite. Precisa ter compromisso, inteligência e vontade política para que aconteça.

JC – Observa-se ainda que o Estado, a prefeitura e a Suframa não têm uma relação íntima sobre a Zona Franca. É possível que uma maior interação possa gerar cada vez mais empregos e renda no Amazonas?

WP – Claro, não só na capital como também no interior. Quando falamos de Polo Industrial, também é um grande desafio pela concentração de riquezas e renda na capital em detrimento dos outros 61 municípios do interior.

Então, é uma mudança que requer que os dois poderes, prefeitura e governo do Estado,  somem esforços para termos uma infraestrutura adequada. Você não atrai investimentos para preparar infraestrutura depois. A matemática é ao contrário. Você oferece a infraestrutura para atrair investimentos.

Temos que reconhecer o compromisso do prefeito de Manaus em cuidar do Distrito Industrial como um bairro da cidade, que verdadeiramente o é. Quem circulou pelo Distrito Industrial dois anos atrás, percebe hoje a melhoria das vias, isso foi um compromisso do prefeito David Almeida com a classe industrial quando ainda estava em campanha.

Ele cumpriu esse compromisso nos primeiros seis meses do seu mandato. Quando se fala do interior, dizem que é mais difícil trazer o pescado, a fruta. Mas desculpa, a China é muito mais distante que Manaus. E eles atendem ao mercado brasileiro.

Requer, sim, vontade política e investimentos e infraestrutura para alavancar as atividades no interior com uma única diferença de raciocínio e pensamento.

Falamos da mineração, da energia através do gás, mas falamos também da proteína animal através do peixe, das farinhas, do potencial de bionegócios. Não é biotecnologia, porque biotecnologia não gera empregos. O que vai gerar empregos é o bionegócio oriundo desse conhecimento.

Isso, sim, é o que nós precisamos buscar com investimentos em infraestrutura para atender não a demanda da capital –é a demanda do Brasil e a demanda do mundo.

O mundo está à procura de alimentos, o mundo precisa de proteína animal. E podemos muito bem alavancar essa atividade aqui e fornecer ao mundo o produto que eles estejam buscando.

Nada do que nós falarmos para o desenvolvimento do interior pode estar limitado à demanda da capital. Quando falarmos de desenvolvimento e atividades no interior, a demanda é, no mínimo, o Brasil, e preferencialmente o mundo.

Precisamos trabalhar com o poder concedente e oferecer a infraestrutura para que isso possa acontecer, redundando em geração de empregos de qualidade também no interior.

JC – Há muito tempo, fala-se da necessidade de uma nova matriz econômica, diversificar o portfólios além da Zona Franca de Manaus. Porém, não se prepara terreno para que isso aconteça.  Por que não se consegue uma estratégia para propostas, que não sejam apenas um discurso de campanha?

WP – Precisamos mudar de mentalidade e filosofia. Não podemos olhar o poder concedente visando apenas a receita. É mandatório, e é burrice se assim não o for, olhar o retorno social. E é fácil de explicar.

As pessoas que trabalham no Distrito Industrial têm plano de saúde diferenciado, têm condições de deixar o filho numa escola particular e também creche. Não demandam do transporte público. Têm alimentação, consequentemente não causam custos aos serviços públicos.

Então, essa dicotomia tem que ser vencida. Você precisa também primeiro saber aonde precisa chegar. Isso se chama planejamento. É sobre isso que me proponho com o governo do Estado para planejar o futuro e trabalhar na pavimentação desses caminhos.

JC – Você é bastante conhecido no meio empresarial. Quais suas estratégias para atingir outros segmentos da população? É fazendo reuniões….?

WP – Eu não sou político. Estou tentando entrar nessa atividade, e vou aprender.  Como não sou político, não consigo prometer aquilo que não posso honrar.

Não estou prometendo nada para ninguém. Falo que existem alternativas e soluções para o nosso Estado. E que vou continuar trabalhando da forma como trabalho hoje.

Porém, com a legitimidade de um cargo eletivo para que esses objetivos sejam atendidos. Hoje, não tenho uma projeção no interior. E não há tempo e nem recursos para eu me fazer conhecer nos municípios.

Mas eu tenho o meu compromisso com o Estado. É tirar o Estado da dependência que tem hoje da capital, 90% do ICMS é arrecadado em Manaus. A pobreza não pode continuar nos municípios. Eles precisam gerar riquezas dando oportunidades às pessoas de outras cidades.

O meu foco nesse momento é muito mais trabalhar com as indústrias do Distrito Industrial e o público que tem maior conhecimento do meu nome. Podem não saber o que faço, mas o nome Wilson Périco não é  desconhecido de grande parte dos trabalhadores do Distrito.

Quero levar a essas pessoas o conhecimento daquilo que eu gostaria para o desenvolvimento de nosso Estado. E tudo isso independe de eu ter sucesso ou não nas eleições. Vou continuar brigando por isso e contribuindo com o governo do Estado, a prefeitura em tudo aquilo que me for possível.

JC – A insegurança jurídica vem sendo um dos grandes venenos para a ZFM. De que forma pode contribuir na Assembleia sobre essa questão?

WP – Nós tivemos um momento político causado por uma série de fatores. O imponderável também. A Covid acirrou mais essa situação.

Perdemos a interlocução com o governo federal. Não temos nem no Senado e nem na Câmara Federal um diálogo forte para que as sugestões estejam dentro de uma política do Estado brasileiro.

E daí provém toda essa insegurança causada pelas mudanças mais recentes em relação ao IPI, que trazem risco ao modelo Zona Franca.

Essas mudanças não servem para o Amazonas, como pensa o ministro Paulo Guedes, só servindo para os demais Estados.

A ZFM é isenta e seus produtos já chegam ao consumidor com zero de IPI. Então, não é essa redução que vai favorecer os consumidores. A maioria dos nossos produtos não compete com outros Estados. Ninguém produz motocicletas fora de Manaus, ar-condicionado também.

Então, você poderia excepcionalizar esses produtos. Baixando o IPI, você está favorecendo os produtos importados. Ora, se o objetivo é gerar empregos e reduzir o preço do produto, nenhum desses dois objetivos foi atingido pelo governo federal.

E digo mais –o governo pode baixar a zero o IPI porque esse produto importado não vai ficar mais barato, mas vai afetar os empregos que geramos hoje.

Isso deveria ser do conhecimento e entendimento da equipe econômica. Precisamos resgatar essa estatura e estratégica política para restabelecer o relacionamento do parlamento federal com o governo federal.

O Estado do Amazonas precisa mudar a atitude e ter a altivez do seu tamanho para decidir sobre o futuro que queremos. Não devemos aceitar que pessoas de outros Estados decidam sobre o que queremos.

JC – O Amazonas tem dimensões continentais. Hoje, o Estado é o segundo mais pobre do Brasil, com populações vivendo abaixo da linha de pobreza. É possível levar empregos para o interior?

WP – Hoje, 90% da riqueza do Estado é gerada na capital. Se pegarmos todo o faturamento da Zona Franca e dividir com o total de habitantes de Manaus, veremos que a renda per capita se assemelha a de países mais ricos do mundo.

O que precisamos fazer é utilizar dessa condição socioeconômica que o Polo Industrial dá para reduzirmos as desigualdades com os demais municípios.

Alternativas nós temos. E já existem. A Eneva quebrou o monopólio do gás, gerando mais de mil empregos em Autazes. Temos o potássio, mas não podemos voltar ao erro com o extrativismo de antigamente.

É o potássio que pode viabilizar a atração de quem produz fertilizantes e atender ao mercado brasileiro. Hoje, 93% do fertilizante que o Brasil consome é importado.

Então, é agregar valor a esses insumos que a natureza nos deu no subsolo.

Para o bionegócio, temos essências, óleos, mas não adianta a Natura pegar e fazer produtos colocando na embalagem que são feitos com insumos amazônicos.

Temos que trazer pra cá esses investimentos, convencendo a produzir e gerar empregos aqui. E não precisa ser em Manaus. Pode ser em qualquer município do entorno da cidade ou mesmo mais distante se oferecermos a infraestrutura para o escoamento da produção, não impactando em custos. E tudo  isso de forma sustentável.

JC – Temos uma malha hidrográfica tão fantástica, mas a gente ainda importa o tambaqui, não conseguimos produzir o nosso peixe. É algo que nos envergonha. Até quando vamos continuar com essa situação?

WP –  Já chegamos a exportar o tambaqui para Rondônia. Mas hoje importamos de Rondônia e Roraima. Isso foi um erro cometido lá atrás que pode ser solucionado fomentando essa atividade comunitária no interior.

Para que os peixes sejam consumidos não em Manaus, mas no Brasil e no mundo, sendo cultivados no Amazonas.

Precisamos olhar e oferecer a infraestrutura  para fomentar essa atividade que é cooperativista, mostrando ao  pescador que é mais  vantajoso produzir que tirar o peixe da natureza.

Com isso, fomentamos duas atividades –primeiro, o peixe de consumo e o turismo de pesca. Podemos fazer isso também com as frutas. A forma que vemos hoje para trazer o pescado até Manaus é a mesma de 50 anos atrás

Temos a informação que 100% do tambaqui consumido em Brasília é oriundo hoje de Rondônia. Se esse Estado conseguiu, temos muito mais condições de atingir isso por termos mais recursos aquaviários. Basta ter isso na lista  de prioridades para os desafios futuros.

JC – Você acredita que a gente vai sair comemorando essa novela da BR-319?

WP – Isso já vai por mais de 20 anos. Não conseguimos entender o porquê de aquele trecho de 400 quilômetros não poder ser pavimentado, impossibilitando a circulação de veículos durante os 12 meses do ano.

Se o problema é o desmatamento, o Estado brasileiro tem papel de polícia para fiscalizar e punir quem o fizer. Não é uma equação simples. Outras pessoas prometeram a solução, mas a única coisa que a gente não pode é desistir.

Se isso é uma coisa importante para a população dessa região do país, temos que continuar brigando para encontrarmos a forma de viabilizar.

JC – Você já é cidadão amazonense?

WP – Eu sou, recebi o título em 2011, uma propositura do então deputado estadual Arthur Bisneto no governo do Eduardo Braga.

JC – Temos muitas potencialidades regionais. Todo esse menu de alternativas será levado pelo ainda pré-candidato para debates na Assembleia Legislativa?

WP – Serão levados ao governo do Estado eu estando ou não na Assembleia Legislativa.  Estando, tenho a legitimidade política para que isso aconteça dentro dos trâmites políticos.

Eu me ofereço para continuar contribuindo com o nosso Estado, seja o governo que for, tanto municipal como estadual, naquilo que julgo serem as alternativas que trarão as soluções sociais para o nosso Estado.

Não somente na capital, mas também oportunizar alternativas de empregos e renda no interior do Estado. Farei,sim.

Marcelo Peres

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