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Violência não se combate com violência

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Neste Domingo de Páscoa, as Igrejas Cristãs fazem um balanço da Campanha da Fraternidade, cujos resultados são dramáticos, mas não podem ser desanimadores. O tráfico, a corrupção e a exclusão social estão matando uma Hiroshima e Nagasaki a cada ano em estatística e sem perspectiva de solução. No documento, entregue na Cerimônia das Cinzas, “Fraternidade e Superação da Violência”, a Conferência dos Bispos aponta a violência no Brasil contra as crianças, os negros, os jovens e as mulheres.
Atualmente, os mais pobres arcam com sacrifícios maiores e pagam a conta da corrupção com o aumento da cesta básica, das tarifas de energia e do aviltamento dos combustíveis, já que, ao desviar recursos que deveriam ser usados em favor da população, os políticos acabam por promover outra forma de violência contra o ser humano: a miséria.

Dados do Instituto de Pesquisa Aplicada divulgaram o Atlas da Violência de 2017, cujos resultados apontaram o perfil das vítimas e como a violência está separada no Brasil. Mais de 318 mil jovens foram assassinados no Brasil entre 2005 e 2015. Os homens jovens continuam a ser as principais vítimas: mais de 92% dos homicídios atingem essa parcela da população, com idade entre 15 e 29 anos. Os jovens negros também estão mais sujeitos à violência visto que, de cada cem pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras.

Segundo a professora do Curso de Segurança Pública da UCB (Universidade Católica de Brasília), Marcelle Gomes Figueira, “esses resultados apontam o perfil das vítimas e como a violência está distribuída de forma desigual”. E complementa: “O que é assustador é ver que, mesmo com este cenário, o Estado brasileiro continue omisso ao debate qualificado e não proponha ações que possam, de fato, produzir efeitos sobre o problema”, frisou.

A violência contra as crianças está impregnada de Norte a Sul do Brasil. Levantamento da OIT (Organização Internacional do Trabalho) informa que ocorrem no país, por ano, cerca de cem mil casos de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes, enquanto, menos de vinte por cento desses casos chegam ao conhecimento das autoridades. Em Manaus, dos 788 casos de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes registrados em 2016, 481 foram denúncias de estupro e a maioria das vítimas, 618, era do sexo feminino, com idade entre 12 e 17 anos.

Esse cenário trágico, sejamos honestos, conta com o silêncio obsequioso das autoridades, de adultos omissos, da conivência absurda até de familiares, a par de boicote explícito à CPI da Pedofilia quando aqui esteve para apurar denúncias. “Deixai vir a mim as crianças porque delas é o Reino dos Céus”, disse Jesus de Nazaré para ilustrar a importância superior das crianças e o respeito que a elas devemos dedicar.

Corremos sério risco de naturalizar o absurdo, a ponto de o ser humano passar a ser o lobo sanguinário de outro ser humano. A raiz da violência também começa com os castigos corporais, na escolha dos super-heróis, nos filmes de guerra, recheados de agressões espetaculares, nos jogos eletrônicos, na disseminação desses parâmetros de agressividade e de retaliação de desafetos ou adversários nas redes sociais. Resta claro como os problemas enfrentados no Brasil decorrem da própria violência em seus vários formatos.

É imperioso estancar o crescimento da violência da qual temos sido vítimas diárias e que se tornou banal. Em 2017, foram mais de 60 mil homicídios, com apenas 15% de elucidação e punição, número maior que as vidas humanas perdidas na Guerra da Síria. Parar significa fazer um exame de consciência, dos nossos valores e condutas, identificar onde estamos errando, o que estamos consumindo, ou permitindo que nossos filhos, alunos e pessoas do convívio diário consumam, sem saber o que estão fazendo contra elas.
A luta pela paz e harmonia social é insana, sem trégua e obstinada, de modo que ninguém fique de fora.

Gina Moraes

é advogada, presidente da Comissão da Zona Franca de Manaus da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seccional Amazonas
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