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Vendas de veículos no Amazonas caem em agosto

As vendas de veículos automotores do Amazonas seguiram em marcha ré pelo segundo mês consecutivo, em agosto. O desempenho seguiu em sintonia com a crise de abastecimento nas montadoras e concessionárias, e foi novamente pior do que o da média nacional. No total, foram comercializadas 4.193 unidades, 12,02% a menos do que em julho de 2021 (4.766) e 17,77% abaixo de agosto de 2020 (5.099) –mês em que o segmento crescia e já enfrentava os primeiros sinais de escassez de produtos. Em oito meses, as vendas ainda seguem positivas em 21,30%, com 33.187 (2021) contra 29.002 (2020). 

Os dados regionais referentes ao Amazonas foram disponibilizados pelo portal da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), nesta quinta (2). As informações foram amparadas pelos emplacamentos do Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores), base de dados que leva em conta todos os tipos de veículos, incluindo automóveis convencionais, comerciais leves, caminhões, ônibus e motocicletas.

Em comunicado à imprensa, a Fenabrave aponta que este foi o pior agosto em 16 anos, mas manteve sua meta de vendas para 2021 (mais de 2,1 milhões de unidades). O problema estaria na falta de microchips e outros semicondutores, que vem reduzindo a produção de veículos a níveis insuficientes para a demanda, contribuindo para aumento nas filas de espera. “O ritmo dos emplacamentos está sendo ditado pela capacidade de entrega das montadoras. Parte dos veículos registrados em agosto são de vendas realizadas em julho”, lamentou o presidente da entidade, Alarico Assumpção Jr.

Automóveis e motocicletas

Assim como ocorrido no mês passado, o desempenho do Estado veio significativamente pior do que o apresentado pela média do mercado brasileiro, no mesmo período. De acordo com a base de dados da Fenabrave, as vendas nacionais recuaram 3,04%, na comparação de agosto de 2021 (294.086) com o mês anterior (309.479). Em relação aos resultados globais de 12 meses atrás (299.599), a retração foi de 1,84%. O acumulado do ano ainda foi positivo em 27,83%, com 2.306.373 (2021) contra 1.804.205 (2020) veículos.

Cinco das sete categorias listadas pela Fenabrave retrocederam na variação mensal – contra quatro, em julho. O pior resultado proporcional veio de “outros veículos”–que incluem tratores e máquinas agrícolas –, que encolheram 60,66%, e não passaram de 24 unidades vendidas. Foram seguidos de perto por implementos rodoviários (-56,25% e 28) e, mais de longe, por automóveis (-17,63% e 1.177), motocicletas (-13,73% e 2.049) e caminhões (-9,24% e 108). Apenas ônibus, (+27,50% e 51) e comerciais leves (+11,50% e 756) avançaram na mesma comparação.

Pela primeira vez em pelo menos dois anos, carros convencionais deixaram de ser a categoria mais vendida, em agosto, cedendo lugar para veículos de duas rodas. Em paralelo com a desaceleração mensal, os automóveis voltaram a reduzir sua participação no bolo de vendas do Estado, no confronto dos acumulados de 2020 (40,80%) e de 2021 (36,01%). Motos seguiram na segunda posição, mas avançaram na comparação dos dados de janeiro a agosto deste ano (43,12%) com igual intervalo do exercício anterior (40,27%). 

Em matérias anteriores como a reportagem do Jornal do Commercio, o Sincodiv-AM (Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos do Estado do Amazonas) reforçou que os números locais devem ser levados sempre sob a perspectiva do transit time (tempo de trânsito) entre faturamento e emplacamento, um hiato de tempo que pode durar 30 dias, em virtude da logística de translado do veículo entre a fábrica e o Estado.

Mercado gourmetizado

No entendimento do sócio diretor da Kodó Veículos, Diogo Augusto Maia da Silva, agosto conseguiu ser ainda pior do que julho e junho. O empresário ressaltou que, no mês passado, o problema de estrangulamento de oferta por desabastecimento de mercado veio acompanhado por um leve recuo na procura por automóveis zero.

“Está faltando carro na praça, pelo problema de escassez de partes e peças nas indústrias. O problema continua sendo maior para os carros populares, do que para os de luxo, como as SUVs, que estão com demanda mais aquecida e prioridade nas linhas de produção. Não está tendo oferta e os carros demoram de 15 a 30 dias a mais para chegarem na loja. Quando isso acontece, já foram vendidos em trânsito mesmo. Minhas vendas só não estão caindo, porque minha loja é multimarcas”, analisou.

Em paralelo com a gourmetização do mercado –acrescida de ágio –, o empresário lembra ainda que a escalada dos juros e das restrições bancárias contribui ainda mais para deixar o consumidor de menor renda a pé. A mais recente pesquisa da Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) indica que o CDC para financiamentos de automóveis (+1,30%) foi a segunda modalidade de crédito para o consumidor com maior alta entre junho e julho, ao passar de 1,54% para 1,56% mensais. 

Usados e seminovos

A atual dinâmica de mercado está favorecendo o segmento de usados e seminovos. O sócio e diretor administrativo da Daniel Veículos, Yuri Barbosa, conta que agosto foi um mês atípico para a loja, que vendeu 30% a mais do que no mesmo mês de 2020. “É um mês que costuma ser fraco. A espera por um carro novo de, em média, seis meses, leva o cliente a fechar a compra de um seminovo à pronta entrega. Projetamos um final de ano bastante movimentado. Mas, em 2022, já esperamos que se normalize as coisas”, conjecturou.

O aquecimento pode ser sentido não apenas pelo aumento do CDC para veículos, como também pelo nível de endividamento do consumidor com a modalidade de financiamento. Em Manaus, ela já é a segunda maior, respondendo por 37,2% do bolo das dívidas das famílias da capital –especialmente entre as que têm renda inferior a dez salários mínimos (39,3%), conforme a mais recente Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). Só perde mesmo para o cartão de crédito (83,7%).

“Realmente 75% de nossas vendas são por meio de financiamento bancário. E este mês praticamente todas as vendas foram por esta modalidade, em nossa empresa. Creio que o endividamento seja maior nesta classe da população, pois quem ganha acima disso normalmente opta por fugir dos juros e pagar à vista. Creio que isso deve contribuir mais para o afunilamento do mercado do que para aumento de inadimplência, pois os bancos estão muito criteriosos na aprovação do crédito”, concluiu. 

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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