O primeiro mês cheio de fábricas paradas e distanciamento social proporcionou o maior recuo na história do setor automotivo. As vendas de automóveis em abril foram de apenas 39.480 unidades, queda de 79% em relação ao mesmo mês de 2019. Os caminhões foram menos afetados pela pandemia, mesmo assim seus emplacamentos encolheram 53,5%. O maior tombo ocorreu no segmento de ônibus (81%).
Já os comerciais leves (picapes, vans e furgões) tiveram queda de 63%, não tão drástica na comparação com os 79% de automóveis e SUVs. A explicação pode estar na região onde as picapes mais vendem, geralmente no interior, onde a pandemia não chegou com tanta força quanto nas grandes metrópoles. Prova disso é que a Toyota Hilux, líder entre as picapes médias, teve mais emplacamentos do que qualquer SUV e muito próximos dos hatches mais populares (o ranking será divulgado no dia 4 de maio). Furgões também estão tendo boa demanda por conta da alta nos serviços de entrega.
No total de autoveículos, o emplacamento de quase 56 mil unidades representou uma queda de 76% sobre abril de 2019 e de 66% na comparação com março, mês que ainda teve uma ótima primeira quinzena, antes do fechamento das concessionárias. A média diária de vendas em abril foi de apenas 2,8 mil unidades, quando o ritmo normal é de 11 mil emplacamentos por dia.
A Anfavea (associação das montadoras) divulgará na próxima semana os números de produção, que deverão ser ainda piores que os de vendas, já que quase todas as fábricas passaram quase todo o mês de abril com portas fechadas, ou no máximo reparando respiradores e produzindo máscaras para ajudar no combate ao coronavírus.
Caminhão: elétrico mais vantajoso que diesel e hidrogênio
O setor automotivo tem passado por enorme transformação nos últimos anos. A eletrificação de carros, picapes, caminhões e ônibus acelerou em um nível nunca visto anteriormente. Mesmo com a Covid-19, essa tendência não deve ser alterada e, em alguns casos, até acelerada.
No setor de caminhões, existe enorme preocupação em relação ao futuro. Com a crise atual, que provocou até cotação negativa do petróleo, o diesel poderia se beneficiar com preços muito baixos e, naturalmente, o setor de transporte.
Contudo, a pressão ambiental e os custos estão pesando na balança dos transportadores, pelo menos os europeus. Um estudo do especialista holandês Auke Hoekstra, aponta que a eletrificação é o futuro para os caminhões, mas não o hidrogênio.
Em sua pesquisa, ele indica que um caminhão elétrico é mais rentável que um movido por hidrogênio e até mais que o atual, abastecido por diesel. Hoekstra apontou que no segmento até 40 toneladas, um veículo movido a energia tem um custo operacional menor e gera um impacto ecológico bem inferior ao caminhão térmico.
A estimativa é que em 2025, um caminhão diesel, na Europa, tenha um custo por km rodado de US$ 1,00, enquanto no elétrico será de US$ 0,70 e no hidrogênio em US$ 1,40/km. Isso significa o dobro do custo no último caso.
Como já falamos anteriormente, poucas empresas apostam atualmente no hidrogênio. Honda, Toyota e Nissan estão praticamente sozinhas, uma vez que a Daimler recentemente abandonou seu programa com esse combustível.
O motivo são os altos custos com células de combustível e uma infraestrutura complexa e cara, que demanda nível de segurança e investimento elevados. No setor de caminhões, algumas empresas ainda focam nisso, como a Nikola Motors, por exemplo.
Manaus: mesmo em colapso, Yamaha e Harley-Davidson retomam produção
Com a produção paralisada desde março, Yamaha e Harley-Davidson estão voltando a produzir nas fábricas de Manaus (AM). A Harley retomou a fabricação de motocicletas na última segunda-feira (27), enquanto a Yamaha voltou com as na última quinta-feira (30/4).
O Amazonas é um dos estados mais atingidos pelo novo coronavírus (COVID-19) e passa por dificuldades para conter o avanço do vírus. Além dos números de infectados e mortos, a região vive um colapso no sistema funerário.
Ao Portal G1, as duas fabricantes ressaltaram que estão tomando medidas para proteger os funcionários. No caso da Yamaha, a empresa está fornecendo máscaras, álcool em gel além de medir a temperatura de todos os trabalhadores, incluindo terceirizados e os visitantes. A Yamaha ainda informou que está investindo em equipe de limpeza e saúde. Para evitar aglomeração, a marca está adotando medidas de distanciamento entre os trabalhadores. Os colaboradores que não fazem parte do setor de produção seguem trabalhando em sistema home office.
Já a Harley-Davidson disse que “continua monitorando a situação de perto e fará ajustes adicionais conforme necessário”. A montadora também reforçou que está seguindo as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Ainda em Manaus, outras fabricantes não pararam a produção mesmo com o avanço do coronavírus. É o caso da Kawasaki, que disse estar trabalhando em escala reduzida durante a crise. Parada desde 30 de março, a BMW, que também possui fábrica na região, planejava retomar as atividades na próxima segunda-feira (4 de maio), mas com a situação crítica, o grupo preferiu adiar o retorno para o dia 18 de maio.
Fonte: Lilian D′Araujo