A provável união do Santander com o ABN Amro Real criará o segundo maior banco privado brasileiro, à frente do Itaú e pouco atrás do Bradesco, e tem potencial para mudar a forma como a indústria bancária faz negócios no Brasil.
No domingo, a “Folha” noticiou que o presidente Lula já foi informado pelo Santander, em Madri, de que a compra está acertada.
Uma vez confirmada, a fusão chega no momento em que o Banco Central brasileiro dá sinais de suspender os cortes nos juros, até então o maior estímulo para os bancos emprestarem mais e com menores taxas.
Na opinião de alguns analistas, apesar de o negócio levar a uma maior concentração do setor, o surgimento de um banco estrangeiro de porte para fazer frente ao Bradesco e ao Itaú pode até fazer com que o consumidor seja beneficiado pela disputa, com redução de taxas e alongamentos de prazos dos financiamentos.
No entanto, eventuais benefícios não são certos, pois a concentração bancária estimulou nos últimos anos a cobrança de tarifas e juros altos ao consumidor. O negócio também deve causar demissões no Brasil devido à sobreposição de agências e equipes inteiras entre o Santander e o Real. Com uma expansão de 20% ao ano, o crédito brasileiro é visto como o de maior perspectiva no mundo. Enquanto no Brasil o crédito está em 32,7% do PIB, nos EUA chega a 288% e no Reino Unido, a 169%. Para a analista de bancos Ceres Lisboa, da Moodys, a compra do ABN Real deve duplicar os ativos e levar o Santander a ganhar escala no Brasil. “A combinação gerará sinergias geográficas e de negócios que favorecerão os ganhos (do banco espanhol)”. O banco prevê economizar US$ 1,085 bilhão em sinergias com a fusão. Segundo Luis Miguel Santacreu, analista de bancos da Austin Rating, o ABN traz uma importante carteira de clientes de alta renda e de empresas médias, além de ampliar a presença do Santander no financiamento de veículos, hoje um dos mais concorridos. “Mas haverá sobreposição de agências e de equipes em São Paulo, diferente do que ocorreria se o negócio fosse fechado com o Barclays”, disse.
O Santander afirma que os desligamentos acontecerão, na medida do possível, por meio de aposentadorias e de programas de demissão voluntária, como aconteceu após a incorporação do Banespa.
Os bancários temem mais demissões no Real, que teria uma média salarial superior à do Santander. Bradesco e Itaú poderão agora se lançar a uma caça sem precedentes por novas aquisições, sob o risco de ficarem para trás na liderança do setor de crédito brasileiro -que trabalha com grandes diferenças entre taxas captadas e repassadas ao consumidor.