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Venda de veículos no Amazonas segue derrapando

As vendas de veículos automotores do Amazonas voltaram a derrapar, entre setembro e outubro, eliminando os ganhos do mês anterior. O volume comercializado caiu nas variações mensal e anual, de forma mais intensa do que na média nacional, impactado pela crise de abastecimento e as altas dos juros e do IOF. No total, foram comercializadas 4.409 unidades no Estado, 14,85% a menos do que em setembro de 2021 (5.178) e 18,28% abaixo do dado de outubro de 2020 (5.395). Em dez meses, as vendas ainda seguem positivas em 6,60%, com 42.774 (2021) contra 40.126 (2020). 

Os dados regionais referentes ao Amazonas foram disponibilizados pelo portal da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), nesta quinta (4). As informações foram amparadas pelos emplacamentos do Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores), base de dados que leva em conta todos os tipos e veículos, incluindo automóveis convencionais, comerciais leves, caminhões, ônibus e motocicletas.

A queda experimentada pelo segmento de revendas de veículos no Estado seguiu na mesma trajetória registrada pela média brasileira, mas com índices piores. O setor como um todo registrou retração de 1,78% em todo o país, entre setembro (281.026 unidades) e outubro (276.033) – que contou com um dia útil a menos. Em relação ao mesmo mês do ano passado (332.852), a retração foi de 17,07%. O acumulado do ano ainda se manteve positivo em 16,15%, com 2.863.349 (2021) contra 2.465.260 (2020) veículos. Apesar da nova retração, a Fenabrave manteve suas projeções para 2021.

Automóveis e motocicletas

Cinco das sete categorias listadas pela Fenabrave afundaram na variação mensal, em resultado diametralmente oposto ao de setembro. O melhor desempenho proporcional veio dos ônibus, que expandiram as vendas em 56,67%, mas com apenas 47 unidades comercializadas. Foram seguidos de longe por “outros veículos”, que incluem tratores e máquinas agrícolas (+6,25% e +34 veículos). Na outra ponta, caminhões (-56,98% e -77), comerciais leves (-25,17% e -559), automóveis (-23,80% e -1.114), implementos rodoviários (-12,50% e -28) e motos (-5,42% e -2.550) engataram marcha a ré.

O cenário foi idêntico, quando se leva em consideração a comparação com o desempenho de outubro do ano passado. Apenas motocicletas (+26,55%) e caminhões (+14,93%) conseguiram aumentar vendas neste cenário, no mês passado. Em contraste, ônibus (-64,66%), automóveis (-55,90%), implementos rodoviários (-37,78%), “outros veículos” (-10,53%) e comerciais leves (-2,10%) seguiram com dados negativos.

Pelo terceiro mês seguido, os carros convencionais cederam lugar para os veículos de duas rodas, no ranking das categorias mais vendidas. Em paralelo com a desaceleração mensal, os automóveis voltaram reduzir sua participação no bolo de vendas do Estado, no confronto dos acumulados de 2020 (42,47%) e de 2021 (33,96%) – em resultado ainda pior do que o de setembro (34,96%). As motos sustentaram a primeira posição, avançando na comparação dos dados de janeiro a outubro deste ano (45,72%) com igual intervalo de 2020 (39,55%) – em número ainda mais encorpado do que o anterior (44,32%). 

Vale notar que os números também refletem, em parte, a dinâmica do mês anterior, em virtude dos entraves logísticos do Estado. Em matérias anteriores como a reportagem do Jornal do Commercio, o Sincodiv-AM (Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos do Estado do Amazonas) reforçou que os números locais devem ser levados sempre sob a perspectiva do transit time (tempo de trânsito) entre faturamento e emplacamento, um hiato de tempo que pode durar 30 dias, em virtude da logística de translado do veículo entre a fábrica e o Estado.

Juros e IOF

Em entrevistas anteriores à reportagem do Jornal do Commercio, o sócio diretor da Kodó Veiculos, Diogo Augusto Maia da Silva, já havia assinalado que o problema de estrangulamento de oferta por desabastecimento de mercado veio acompanhado por um leve recuo na procura por automóveis zero, na categoria de “carro popular”. O oposto ocorreria nos produtos de luxo, como SUVs, onde a oferta é comprometida por um tempo acional de espera de 15 a 30 dias, já que não é incomum a venda ocorrer com o veículo ainda em trânsito. 

O empresário avaliou que, em paralelo com a escalada dos juros e os maiores rigores na concessão de financiamentos bancários, o encarecimento do crédito por um IOF mais encorpado deve contribuir para uma aceleração dessa tendência e redução das vendas globais. O sócio diretor da Kodó Veiculos assinala que seu cenário é “um pouco diferente” da “situação crítica” das concessionárias, porque a empresa trabalha com multimarcas e consegue permanecer abastecida. Mesmo assim, já corrigiu a projeção de crescimento para 2021, de 30% para 10%, e espera um cenário semelhante em 2022.

“Isso vai acontecer até o ano que vem e provavelmente até o final de 2022. Principalmente pela crise de abastecimento. As concessionárias estão ‘zeradas’ de carros e vão vendendo tudo o que vai aparecendo no sistema. A gente mesmo vai comprando, assim que entra carro e chassi no sistema, para chegar aqui em 25 dias, 30 dias. O negócio é ter a mercadoria. A tendência do mercado é cair, porque não tem carro e os juros aumentaram. O pessoal deu uma segurada e só compra quem tem um dinheirinho para pagar à vista ou um carro para dar na troca”, lamentou. 

“Baixos estoques”

Em comunicado à imprensa, a Fenabrave informa que o setor em geral continua sendo afetado pela crise global de abastecimento de componentes para a produção industrial. De acordo com o presidente da entidade, Alarico Assumpção Júnior, os emplacamentos de todos os segmentos automotivos vêm oscilando em todo o país, de acordo com o fluxo de produção – que apresenta descontinuidades, em razão da falta de insumos. 

Diante de um cenário econômico “ainda instável”, com a alta nas taxas de juros já podendo comprometer o crédito, os impactos da crise hídrica, o aumento dos preços dos combustíveis e as continuas dificuldades para regularização da produção industrial, a Fenabrave manteve as últimas projeções para 2021, divulgadas no início de outubro. Na análise divulgada em julho, havia expectativa de expansão de 13,6% sobre 2020, mas as empresas esperam agora uma alta mais modesta para todo o setor, de 11,1%.

“A demanda se mantém alta, mas há segmentos em que a espera por um veículo pode levar meses, em função dos baixos estoques das concessionárias, que não estão conseguindo ter todos os pedidos atendidos pelas fábricas, devido à falta de insumos e componentes. Esperamos pela normalização da produção, mas acreditamos que isso só ocorra em meados de 2022, na melhor das hipóteses”, encerrou Alarico Assumpção Júnior.

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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