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Vazio tecnológico no setor primário

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Muito se fala sobre a falta de investimentos na área de ciência, tecnologia e inovação. Uma área muito importante e que influencia diretamente no desenvolvimento econômico do país. Através destes estudos é possível desenvolver tecnologias que contribuam para o crescimento de diversas áreas, entre elas o setor agropecuário. De acordo com a Embrapa/AM (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), um dos fatores que colaboram para a estagnação da evolução tecnológica é a burocracia na liberação de crédito para os produtores.

Segundo Ricardo Lopes, pesquisador e chefe adjunto de transferência de tecnologia da Embrapa, atualmente o Amazonas tem tecnologias desenvolvidas para a maior parte das cadeias produtivas, contudo, na maioria delas com produtividade baixa, em decorrência de uma baixa adoção das tecnologias disponíveis.

“Isso ocorre por diversos fatores, a falta de capital por parte dos produtores, a dificuldade de acesso a recursos, hoje uma grande dificuldade dos produtores e ter acesso a assistência técnica, de fato hoje a agência responsável por isso é o Idam (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas), que está presentes em todos os municípios, porém, a estrutura ainda é muito aquém do necessário para poder atender a quantidade de produtores que nós temos”, destacou.

De acordo com o pesquisador, hoje muitos produtores não têm acesso a alguns tipos de crédito, como por exemplo o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), devido a alta inadimplência de anos anteriores.

“Quando os produtores atingiam um determinado nível de inadimplência, os bancos autorizam o produtor a utilizar essa linha de financiamento, que é uma linha de financiamento mais adequada aos pequenos produtores, por exemplo, porque ele tem um juros mais baixo, facilidade no pagamento, existe também descontos para quem paga na data correta”, comentou Lopes.

Tecnologias para o avanço do setor
A produção na agropecuária é o resultado da combinação de fatores de produção: terra, mão de obra, recursos financeiros e tecnologia. Antigamente, na agricultura tradicional, terra e mão de obra eram o bastante. Mas, a medida em que o setor se moderniza, em que aumenta a eficiência produtiva, a tecnologia assume a liderança como o fator que mais contribui para o aumento da produção. Mas, quais foram as transformações recentes?

Segundo informações da Embrapa, na produção de grãos por exemplo, se substituiu o arado pelo trator e demais implementos, economizando mão de obra, aumentando a capacidade de cultivar mais a terra e intensificando a produção. Sementes geneticamente melhoradas, contribuíram significativamente com a produção nos últimos anos. Houve um destaque para o sistema de plantio direto que já ocupa boa parte das lavouras de grãos do país, o uso desta tecnologia permitiu elevar a produtividade com a maior conservação do solo e da água, manutenção da biodiversidade do solo e fixação de carbono.

Na piscicultura existe uma tecnologia utilizada, conhecida como biometria do pescado, que consiste na pesagem e medição de peixes. De acordo com Andréia Lima, engenheira de pesca do IDAM, o ideal nesse método é fazer a captura no período da manhã, com auxílio de uma rede de arrasto para não estressar os peixes e ocasionar lesões e doenças.

“A biometria é uma ação simples, porém essencial para o desenvolvimento da atividade, pois ao coletar as informações, os agricultores poderão calcular a quantidade certa de ração a ser fornecida aos peixes,” explicou Andréia.

De acordo com Lopes, existem ainda tecnologias avançadas do setor de citricultura, na produção de açaí, mandioca, piscicultura e hortaliças. Porém, na maioria predomina um resultado abaixo do esperado. Um dos exemplos é a produção da mandioca, com o uso das tecnologias disponíveis, a produção pode chegar entre 25 e 30 toneladas por hectares, na média estadual hoje, o Amazonas produz cerca de 12 toneladas por hectares.

“Tudo pode ser feito com práticas simples, primeiro o produtor precisa utilizar práticas de correção do solo, a maioria deles infelizmente, não realizam a análise do solo, então eles não identificam o que de fato é necessário para corrigir o solo, tanto com calagem, usando a quantidade adequada para a cultura, utilizando o espaçamento adequado, as formas de propagação adequadas, são uma série de fatores”, explicou o pesquisador.

Existe uma tecnologia chamada ‘Trio da Produtividade’ que apenas com o uso de algumas práticas como: forma de cortar manivas, formas de armazenar manivas, espaçamento do plantio e controle das plantas espontâneas até os 5 meses após o plantio, é possível aumentar significativamente a produtividade.

“Mais mesmo essas práticas mais simples, não são adotadas por grande parte dos produtores”, disse Lopes.

Contudo, apesar das dificuldades, segundo o Idam, a estrada do Engenho e comunidade Novo Remanso, é uma das principais regiões fornecedoras de abacaxi do Estado, com uma produção de até 65 milhões de frutos ao ano. Com mais de 1,4 mil hectares plantados, a região é também uma das maiores produtoras de banana, cupuaçu, farinha, maracujá e pescado. Ao todo, existem cerca de 640 agricultores em atividade na localidade.

Outras tecnologias
Produção de tambaqui em tanques escavados com aeração, diminuiu o ciclo de produção que anteriormente era de 36 meses, para 10 meses, com a aeração o rendimento do tambaqui aumentou de 18 para 22 toneladas por hectare.

Novo equipamento para desperfilar bananeiras, o desperfilador por roto-compressão é uma ferramenta manual simples e prática referente ao campo de ferramentas agrícolas manuais. É usada para eliminar as brotações “perfilhos” das touceiras de bananeiras, através da dilaceração da gema apical do perfilho. O equipamento proporciona maior rapidez, menor esforço, maior eficiência e redução da mão de obra.

Na produção do guaraná, a produção de sementes ricas em cafeína natural, aumentou a produtividade de 1,5 quilo de sementes por planta (média regional: 200 gramas).

Com o uso das boas práticas de cultivo, do cupuaçueiro, foram produzidas mudas tolerantes à vassoura-de-bruxa, a produção passou de 1.449 frutos para 8.328 frutos por hectare.

Nas seringueiras houve a produção de 6 cultivares de seringueira (copa x painel) resistentes ao mal-das-folhas (ainda sem registro RNC). Produtividade acima de 1.500 kg de borracha seca/hectare/ano.

Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), nela o pastejo foi rotacionado para produção pecuária (várzea e terra firme), houve a produção de ovinos (terra firme) e suplementação alimentar. Espécies gramíneas e leguminosas para cobertura de solos, e adubação verde e alimentação animal.

No setor de produção de grãos, arroz e milho, tiveram indicação de cultivares melhoradas com alta produtividade (até 5 ton/ha), já o feijão-caupi alcançou a produtividade de 800 a 1.500 kg/ha (média do Estado: 300 kg/ha), sendo uma cultivar biofortificada (rica em Fe e Zn).

A produção de melancia também passou por inovações tecnológicas com a irrigação por gotejamento e sistema de produção de melancia em terra firme.

Segundo o pesquisador Ricardo Lopes, essas são algumas das tecnologias que estão sendo utilizadas no Amazonas. Contudo, ele acredita que a inovação na agricultura só ocorre de fato quando as tecnologias desenvolvidas são adotadas pelos agricultores.

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Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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