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“Várzeas da Amazônia” é tema de novo livro do Inpa

“Várzea da Amazônia” é abordado em novo livro do Inpa

O Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) acaba de lançar o livro ‘Várzeas amazônicas: desafios para um manejo sustentável’ em comemoração aos 50 anos do convênio bilateral entre o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), o MCTI (Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações), do Brasil, e a Sociedade Max-Planck, da Alemanha, em estudos de Áreas Alagáveis. A colaboração foi estabelecida no início dos anos 1960, e oficializada em 28 de maio de 1969, liderada por Djalma Batista, então diretor do Inpa, e Harold Sioli, do Instituto Max-Planck de Limnologia.

Em entrevista ao Jornal do Commercio, a pesquisadora 1(nível mais alto de produtividade dos cientistas brasileiros) do Inpa, Dra. Maria Teresa Fernandez Piedade, uma das 21 autoras do livro, explicou de forma bem didática o que são várzeas e qual sua importância para a Amazônia e a economia da região.

Pesquisadora Maria Teresa explicou de forma bem didática o que são várzeas 

Jornal do Commercio: O que são várzeas?

Maria Teresa Fernandez: Várzeas são as áreas alagáveis ao longo dos rios de água branca da região amazônica, como o Amazonas/Solimões. Esses rios de água-branca são turvos, têm uma cor branca/acinzentada pela alta carga de sedimentos em suspensão, que vêm da erosão dos Andes e da região pré-andina. Esses sedimentos e as águas dos rios associados são relativamente férteis, pois essas regiões são geologicamente recentes, em comparação a outras áreas ao longo de rios da bacia amazônica, como os igapós da bacia dos rios Negro (água preta) e Tapajós (água clara), ambos provenientes de regiões geológicas antigas em comparação às várzeas.

JC: Qual a importância das várzeas para o bioma amazônico?

MTF: Devido a sua maior fertilidade, durante séculos as várzeas amazônicas têm sido utilizadas e habitadas por altas densidades de populações humanas praticando agricultura, pecuária, pesca e caça, bem como a extração de madeira e produtos florestais não-madeireiros. Os ecossistemas de várzea em geral fornecem múltiplos serviços ecossistêmicos e ambientais de importância para as populações humanas locais e para a sociedade em geral, como a regulação do ciclo hidrológico reduzindo a energia da água e a erosão. Elas são também habitats de espécies vegetais e animais altamente adaptadas, muitas delas endêmicas

JC: É verdade que as nossas várzeas são as mais ricas do planeta?

MTF: Sim. As florestas de várzea da Amazônia são as florestas alagáveis mais ricas em espécies em comparação a outras florestas alagáveis do mundo, com mais de 1.000 espécies. Comparando as florestas alagáveis ao longo dos rios de águas pretas e claras (igapós), a similaridade de espécies com a várzea é em geral baixa, raramente ultrapassando 30%. As várzeas cobrem uma área ao redor de 450.000 km2 da região amazônica.

JC: As várzeas também estão sendo afetadas junto com a derrubada da floresta amazônica?

MTF: Com certeza. As florestas de várzea estão entre os ecossistemas mais impactados na Amazônia devido a sua conversão em áreas para agricultura e pastagem, bem como pela exploração não sustentável da indústria de madeira e compensado. Novas ameaças têm surgido, como por exemplo, a implantação de usinas hidrelétricas nos grandes rios amazônicos e em suas cabeceiras.

JC: O que fazer para conter essa destruição?

MTF: Existe um grande potencial para a silvicultura no reflorestamento de áreas degradadas, por meio do plantio de espécies de madeira nobre. As árvores nativas são bem adaptadas à cheia de longo prazo e mostram taxas de produção que são tão altas quanto, ou até mesmo mais altas do que outras florestas tropicais. O manejo florestal na várzea tem sido limitado à extração de madeira, mas não é o melhor caminho, pois leva à exaustão de espécies de madeira valiosa em poucos anos, com exceção, de algumas Reservas de Desenvolvimento Sustentável como, por exemplo, A RDS Mamirauá.

JC: Quais descobertas mais relevantes sobre as várzeas foram feitas nessa parceria de 50 anos entre o Inpa e a Sociedade Max-Planck?

MTF: A biodiversidade da várzea é fortemente ligada à alta diversidade dos diferentes tipos de floresta alagáveis dentro da própria várzea (macrohabitats). Essas diferenças devem ser consideradas pelos diferentes sistemas produtivos, pois além do grande número de espécies de árvores, eles oferecem habitats para inúmeros invertebrados terrestres, que vivem no solo da floresta e periodicamente ou permanentemente na sua copa, e para muitas espécies de pássaros, anfíbios, répteis e mamíferos, além dos peixes, base alimentar proteica das populações amazônicas.

JC: Como as várzeas podem ser exploradas economicamente, de forma sustentável?

MTF: A preservação e manejo adequado da floresta de várzea é um dos grandes desafios para seu manejo sustentável, pois uma vez destruída, vai necessitar de séculos para se recuperar. Para melhorar a eficiência dos diferentes sistemas de produção, projetos pilotos são necessários, combinando desenho experimental científico com execução orientada na prática. Os projetos deveriam ser realizados em intensiva cooperação entre instituições científicas, os diferentes grupos de usuários e os governos dos estados. Os aspectos chaves deveriam ser a viabilidade econômica, o impacto ambiental reduzido e a aceitação social. Isso irá aumentar a produtividade da terra e do trabalho e justificar economicamente o melhoramento da infraestrutura na várzea, para o bem da população local.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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