O varejo do Amazonas teve vendas positivas pelo segundo mês seguido em abril, mas a taxa de crescimento foi a mais baixa da região Norte. Sem contar com datas comemorativas para alavancar a demanda, o setor subiu 0,4% em relação a março –que teve dois dias úteis a menos. Foi um resultado bem mais fraco do que o anterior (-1,4%). O confronto com o mesmo período de 2023 mostrou expansão de 3,1% no volume comercializado pelos lojistas amazonenses, alimentando o quadrimestre (+4,2%) e o acumulado dos últimos 12 meses (+3,2%). É o que revelam os números da Pesquisa Mensal do Comércio, divulgados nesta quinta (13), pelo IBGE.
A aceleração do Amazonas veio em ritmo inferior ao capturado pelo varejo brasileiro, que saiu da estabilização para um acréscimo de 0,9%. Cinco dos oito segmentos acompanhados pelo órgão de pesquisa progrediram nesse tipo de comparação, com destaque para hiper/supermercados e material de escritório, informática e comunicação. Os comerciantes brasileiros conseguiram crescer 2,2% sobre abril de 2023, graças aos bons resultados de artigos farmacêuticos/perfumaria e mais cinco atividades. Com isso, os acumulados do ano e dos 12 meses, alcançaram expansões de 4,9% e 2,7%, respectivamente.
O varejo avançou em 18 das 27 unidades federativas, entre março e abril. A elevação de 0,4% fez o Amazonas descer da sétima para a 14ª posição. O melhor desempenho veio de Rondônia (+5,1%) e o pior, do Maranhão (-1,4%). O acréscimo de 3,1% atingido pelo Estado no comparativo com o mesmo mês de 2023 foi apenas o 16º melhor do país, em uma lista encabeçada pelo Amapá (+21,7%) e encerrada por Santa Catarina (-2%). No acumulado do ano (+4,2%), o varejo amazonense subiu da 22ª para a 19ª posição, com os extremos ocupados por Amapá (+16,6%) e Espírito Santo (+0,8%). Em 12 meses (+3,2%), ocupa o nono lugar.
Inflação e crédito
A aceleração do IPCA de março (+0,38%) manteve o descolamento da receita nominal – que não leva em conta a inflação do período –em relação às vendas efetivas. Com isso, a variação do faturamento bruto ficou positiva em 0,3% na passagem de março para abril, em desempenho inferior ao do levantamento anterior (+1,9%). O confronto com o quarto mês de 2023 resultou em aumento de 5,5% nos resultados nominais, mantendo o quadrimestre (+6,1%) e o aglutinado dos 12 meses (+4,6%) à tona. As respectivas médias nacionais (+0,3%, +4,6%, 7,3% e +4,3%) também seguiram no azul.
Em razão do tamanho da amostragem, o IBGE ainda não segmenta o desempenho do comércio no Amazonas. Sabe-se apenas que, diferente do ocorrido com o dado brasileiro, os subsetores de veículos e material de construção ajudaram o setor de forma significativa. O varejo ampliado cresceu 2,4% na variação mensal, depois do tropeço de março (-1%). A escalada de 10,2% frente ao mesmo mês de 2023 assegurou incremento de 7,2%, no trimestre, e alta de 5,1%, na variação anualizada. O Estado se saiu bem melhor do que a média do país (-1%, +4,9%, +4,7% e +3,3%) nesse quesito.
O comércio brasileiro registrou mês positivo para cinco dos oito segmentos investigados pelo IBGE: hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (+1,5%); e equipamentos e material para escritório informática e comunicação (+14,2%); móveis e eletrodomésticos (+2,4%); combustíveis e lubrificantes (+2,2%); e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (+0,6%). Artigos de uso pessoal e doméstico (-0,1%) ficaram estatisticamente estáveis, enquanto tecidos, vestuário e calçados (-0,7%); e livros, jornais, revistas e papelaria (-0,4%) amargaram quedas.
Expectativa incerta
O chefe de Disseminação de Informações do IBGE-AM, Luan da Silva Rezende, avaliou que, embora o desempenho de vendas do varejo amazonense tenha sido “modesto” e abaixo da média nacional em abril, demonstra “certa estabilidade” nas vendas do comércio local. E acrescenta que, no contexto regional, o Amazonas superou apenas o Pará. “No acumulado do ano, o Estado apresentou estabilidade nas variações do índice desde janeiro, sinal de um cenário com poucas alterações substanciais nas vendas ao longo dos primeiros meses do ano. Amapá e Acre, tiveram desempenhos significativamente melhores no mesmo período”, comparou.
O pesquisador salientou, contudo, que o comércio amazonense se saiu bem em outras frentes. “O acumulado dos últimos 12 meses posiciona o Estado entre os dez melhores resultados de volume de vendas no Brasil, evidenciando um crescimento consistente ao longo de 2023. Também se destacou no varejo ampliado, apresentando crescimento mais robusto em comparação ao resultado nacional. A média móvel trimestral possibilita uma expectativa positiva para os próximos meses. Embora o crescimento tenha sido modesto, o histórico do ano sugere que as vendas podem continuar a crescer”, amenizou.
Em texto postado no site da Agência de Notícias IBGE, o gerente da pesquisa, Cristiano Santos, ressalva que os últimos levantamentos foram positivos para o varejo brasileiro. “Esse comportamento de quatro pontos não negativos seguidos também aconteceu no ano passado, entre junho e setembro, mas com amplitudes menores. Neste ano, o varejo veio com resultados mais expressivos e, nos últimos três meses, vem alcançando o último recorde da série com ajuste sazonal, que havia sido em outubro/novembro de 2021”, detalhou.
Conforme o pesquisador, segmentos de maior valor agregado sofreram influências distintas e pontuais. “No caso de equipamentos e material para escritório, informática e comunicação, algumas grandes marcas deram descontos nos produtos e, apesar da estabilidade do dólar, o setor conseguiu se recuperar”, apontou. “Em 2023, especialmente no segundo semestre, móveis e eletrodomésticos tiveram resultados muito ruins para grandes cadeias, com posterior fechamento de lojas. No início deste ano, estamos observando uma recuperação, inclusive com abertura de novas unidades locais”, emendou.
Endividamento e vazante
O presidente em exercício da Fecomércio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, lembrou à reportagem do Jornal do Commercio que um dos principais fatores que comprimem as vendas do varejo é a limitação da renda disponível das famílias pelas elevadas taxas de juros, endividamento e inadimplência, em que pese o fato de uma relativa melhora nos últimos meses.
“Apesar de algumas anomalias em termos de instrumentos de pagamento, o endividamento caiu um pouquinho. Aos poucos, a população está recuperando poder de compra. É claro que os números ainda são muito perigosos. E ainda temos, no lastro de tudo isso, uma crise que breca as famílias. Isso só vai ser resolvido quando tivermos estabilidade econômica em nível de país. O certo é que ainda estamos vivendo crises que remontam a pandemia e ainda temos as estiagens. Isso tudo vai criando dificuldades para o comércio”, finalizou.