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Vaga destinado ao doutor

A Internet costuma servir para enviar muitas coisas. Se fizermos uma boa triagem, até conseguiremos aproveitar muito dos inúmeros e-mails que nos mandam. Vários amigos já me enviaram um e-mail cujo conteúdo é muito didático. Conta a história de um brasileiro a trabalho na Suécia cujo companheiro de fábrica costumava levá-lo ao trabalho, uma vez que ele lá estava por pouco tempo e não conhecia bem a cidade. Em resumo: não tinha carro.
Esse sujeito ficou admirado que, ao chegarem à fábrica cedo, seu colega deixava o carro longe da porta de entrada, quando podia deixá-lo perto. Um dia, quando questionado, o colega explicou: “Nós estamos chegando cedo, se algum colega se atrasar, ele encontrará uma vaga perto da entrada e seu atraso pode ser compensado, pois não precisa caminhar muito”.
As grandes cidades estão cada vez mais congestionadas. Isso faz com que nos preocupemos cada vez mais com lugares onde deixar nossos carros, principalmente em frente às lojas, escolas ou repartições. Causa espanto a falta de sensibilidade de comerciantes que ocupam a frente de seus estabelecimentos com seu próprio carro, roubando a vaga de um provável cliente. Os inúmeros feirantes da Manaus Moderna costumavam fazer isso também, antes da Prefeitura disponibilizar um local. Atitude que pode parecer cômoda, mas é burra, porque pode diminuir o acesso de clientes, e as próprias vendas.

Gostaria de me deter em prédios públicos. Claro que estes não precisam de clientes. Por isso não é difícil ver estacionamento loteado, onde os locais mais nobres têm placas do tipo: Vaga do Diretor, vaga do vice-diretor, vaga do secretário, do ajudante, do auxiliar do ajudante etc.
O usuário dos serviços públicos não conta. Não importa se ele tem pouco tempo, se o tempo está chuvoso, se ele usaria a vaga só por cinco minutos. Quando digo “vaga” é vaga mesmo, pois o carro que deveria estar lá, normalmente não se encontra. Isso não significa sempre que o “diretor” também não esteja. Muitas vezes essas pessoas têm motoristas que poderiam ficar em qualquer lugar próximo e serem acionados sem nenhum problema.
Essas constatações discriminatórias me trazem um outro fato à lembrança. Havia em Manaus um restaurante, não muito grande, onde o proprietário tinha mesa cativa. Destoava dos seus colegas do ramo, que normalmente são uma espécie de fax totum em suas casas, porque este só exercia função de mando. Este, não. Ele tinha um cargo e o restaurante era um hobby, numa flagrante demonstração de desconhecimento interno da atividade. Entre as ordens que emanava aos seus funcionários tinha uma que proibia a ocupação da mesa do “diretor”. A exemplo de seus colegas da administração pública, ficava muitos dias sem ir ao seu trabalho. A mesa estava lá, pronta, desocupada, esperando-o.
Acredito ser supérfluo dizer que o dito restaurante foi pras cucuias. Afinal, importar vícios da administração pública para a iniciativa privada sempre deu nisso: ineficiência dos serviços e conseqüente inviabilidade do negócio.
Se os serviços públicos dependessem de seus usuários para se manterem, possivelmente muitos órgãos, fechariam por falta de clientes. Mas não se assustem: Órgãos públicos não fecham por falta de clientes, nem por aumento de despesas. Sempre há um jeito de aumentar o orçamento e conseqüentemente a carga tributária.
Não vamos ser ingênuos a ponto de podermos copiar da noite para o dia a educação dos suecos. Por enquanto apenas copiamos e superamos a regalia dos funcionários públicos. Um dia, quem sabe, copiaremos também a eficiência.

Luiz Lauschner é escritor e empresário. E-mail: [email protected] // www.luizlauschner.prosaeverso.net

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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