Apesar do início da vacinação contra a Covid-19 estar acontecendo em todo país, os setores da economia estimam que ainda está distante uma possível retomada das atividades em sua normalidade. Representantes dos segmentos consideram que os efeitos a longo prazo do imunizante e a quantidade de vacinas insuficiente devem demandar grandes desafios para os setores ao longo deste ano.
O presidente em exercício da Fecomércio, Aderson Frota, considera que essa largada rumo à imunização, é um alento para este momento tão grave no setor da saúde, na sociedade e na economia provocado pela pandemia. E que gera uma pacificação dos ânimos da sociedade. “Há um clima de inquietação, de incertezas e preocupações acentuadas não só aos próprios efeitos da economia, mas acima de tudo a crise que atinge vidas e que realmente está gerando efeitos devastadores à sociedade”. Para ele, o início desse processo representa uma retomada do aspecto à normalidade. “É um primeiro grande passo e cria novas perspectivas para o retorno da economia, e isso é muito saudavel”.
Frota avalia que à medida que as imunizações ampliem deve surgir um clima de confiança para a sociedade. “Quando a atividade econômica se sentir menos atingida por todos esses efeitos, e nós compreendermos o momento que o governo vem atravessando com todas as dificuldades com a rede de Saúde colapsada e os números passarem a reverter aí nós vamos ter uma retomada, embora lenta, mas ainda com a consistência que a gente espera que ia alcançar aos poucos. A economia precisa voltar porque cresce-se o desemprego”.
Ele lembra que assim como retomaram com a crise dos cem dias com as atividades suspensas, ocasião em que o mês de junho teve um crescimento das vendas, ele acredita que em alguns meses acontece a retomada com vigor e com números positivos, embora o setor tenha finalizado o ano com dificuldades e ingressado 2021 num período, ainda mais desafiador.
Na mesma direção, o presidente da Aca (Associação Comercial do Amazonas), Jorge Lima, considera um avanço, mas ressalta que é uma medida a longo prazo e que a imunização de toda população vai demandar tempo. “Vamos precisar ter paciência porque até chegar no nível geral de imunização é um longo caminho”. Quanto a abertura do comércio ele lamenta que as atividades sigam suspensas, mas declara que o momento é de salvar vidas. “Eu não acredito numa abertura após a extensão do decreto, devido ao cenário atual do nosso Estado. Mas vamos torcer para que os números de casos, internações e óbitos baixem e possamos ter em fevereiro uma abertura gradual”.
Imagem preocupa
A retomada destoa do setor de turismo que além de lidar com as perdas após um ano de pandemia, se depara com um desafio -de reverter a imagem negativa do Estado, estampando manchetes no mundo todo nas últimas semanas. “O nosso trabalho é divulgar a cidade. Aí surge uma situação que envolve novas cepas da doença. Isso ainda é mais aterrorizante. Realmente essa imagem é muito ruim pra nós”, diz Roberto Bulbol, presidente da Abih-AM (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Amazonas).
Conforme o representante da entidade, o setor de turismo e o de serviços estão entre os segmentos mais afetados durante a pandemia.”Viemos de uma crise anterior e agora encaramos uma ainda mais forte. Se não tiver receita, não tem como manter. É complicada a nossa situação. Não vamos conseguir reverter essa imagem criada nos últimos dias imediatamente”. Conforme Bulbol, o início da imunização já estabelece um equilíbrio e volta a reestruturar o mercado, o que já traz um efeito positivo, mas ele reitera que provavelmente o setor tenha lenta recuperação. O retorno vai ser lento. Primeiro vamos precisar demonstrar segurança para que os turistas venham a Manaus. Vamos precisar motivar. Estimular o trabalho dentro do país e incentivar o mercado regional. Teremos um ano sofrido”, afirma.
Opinião
Tida como uma luz no fim do túnel num cenário de incertezas, apesar do impacto da vacinação ser positivo, a imunização será por etapas e ainda tem questões como tempo de imunização para que as pessoas voltem à normalidade das suas rotinas.
O consultor econômico e conselheiro do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia Amazonas), Francisco Mourão, avalia que é preciso considerar que no Amazonas os números de casos explodem e isso conduz a um longo caminho totalmente desafiador. Porém, no aspecto geral, dá um novo ânimo para a volta do mercado. “Essa volta da normalidade são as voltas dos negócios atendendo também ao aspecto econômico de que nós ainda estamos com o juros baixo, inflação controlada e também a questão das ajudas do governo, principalmente no Amazonas, com o lançamento de várias linhas de crédito”.
Para Mourão, a iniciativa vai motivar novos negócios, além da permanência de novas empresas que se encontram com dificuldades devido aos estragos causados pela pandemia.
Vacinação
Na segunda-feira (18), o Amazonas recebeu 256 mil doses enviadas pelo Ministério da Saúde. A Prefeitura de Manaus deu largada nesta terça-feira (19), à vacinação contra a Covid-19. Nesta quarta-feira, as 50 equipes de vacinadores da Semsa (Secretaria Municipal de Saúde) iniciam a vacinação volante em unidades de urgência e emergência da rede pública.
Os profissionais de saúde que atuam na linha de frente no atendimento à população representam o grupo prioritário da primeira fase de vacinação, conforme definido pelo Ministério da Saúde. O outro grupo a ser vacinado nesta primeira fase são os povos indígenas aldeados.
Um total de 40.072 doses do imunizante da marca Coronavac, produzido pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac, foram destinadas ao município de Manaus na primeira remessa enviada na última segunda-feira (18), pelo Ministério da Saúde.
Com o quantitativo recebido, a meta é vacinar 34% dos 56.618 trabalhadores da saúde, incluindo os da rede pública e privada, o que corresponde a 19.250 profissionais que atuam na capital, além de 100% dos 386 indígenas aldeados na área rural do município. A estes dois grupos serão aplicadas as duas doses de vacina necessárias para completar o esquema vacinal, com o intervalo de duas a quatro semanas entre a primeira e a segunda dose.
Os demais grupos da população-alvo serão vacinados na ordem de prioridade e de acordo com fases pré-definidas e que incluem pessoas acima de 60 anos internadas em instituições de longa permanência, pessoas com deficiências que moram em instituições de assistência (ainda Fase 1); pessoas que têm entre 60 e 74 anos, grupos de risco a partir de 60 anos (fase 2), pessoas de qualquer faixa etária com comorbidades (fase 3), professores, força de segurança e salvamento, funcionários do sistema prisional e pessoas privadas de liberdade (fase 4).