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Uma breve história da riqueza

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Os noticiários dos últimos meses colocaram em circulação o resultado de uma pesquisa da OXFAM sobre riqueza e desigualdade no sistema econômico mundial. De todas as informações ventiladas pelo relatório foi constatado que apenas 1% das pessoas mais ricas do mundo detém o equivalente a 50% das mais pobres, ou seja, a economia mundial estaria passando por um monumental processo de aprofundamento das desigualdades.

Como era de se esperar, estas informações passaram pelo crivo jornalístico sem o devido cuidado, fazendo com que alguns estereótipos rasteiros ganhassem força e os discursos de objeção ao sistema capitalista e à economia de mercado transformassem-se em um senso comum da retórica ideológica.
Levando em consideração que os pesquisadores utilizaram largamente os dados do Credit Suisse, que mensura a riqueza per capita de todos os cidadãos do planeta, cujas falhas metodológicas já foram detectadas anteriormente, as estatísticas foram superestimadas em hipóteses não comprovadas em estudos empíricos.

Além do Credit Suisse, os pesquisadores do OXFAM utilizaram como fonte dados providos da Revista Forbes, que contabiliza a riqueza dos magnatas mundo afora. De um jeito ou de outro, a restrição metodológica é claríssima, pois computa apenas os dados oficialmente declarados, esquecendo-se de toda a dinâmica da econômica informal, que hoje é um dos alicerces da economia de mercado realmente existente, em especial nas economias emergentes.

A mistificação com as estatísticas econômicas em muitos casos – e aí está a verdadeira razão para termos muito cuidado com as informações que circulam – é puro exercício de má-fé cognitiva e ideológica. A desigualdade no mundo não aumenta, e sim diminui de maneira consistente nos últimos dois séculos, incluindo cada vez mais países outrora excluídos dos bens materiais produzidos pela economia global.

Devemos entender a história da riqueza pelos seus erros e acertos. Sim, pelos seus erros e acertos que se repetem insistentemente ao longo da longa marcha do capitalismo. A grande revolução intelectual causada por Adam Smith, em sua Riqueza das Nações, publicada pela primeira vez em 1776, curiosamente no mesmo ano da Declaração de Independência dos Estados Unidos, explicita a necessidade de que o mercado funcione num princípio de concorrência auto-reguladora, onde os agentes econômicos, buscando satisfazer as suas próprias ambições – a avidez pelo lucro – e em livre negociação, acabam por equilibrar a demanda e a oferta.

A “mão invisível” é a tradução perfeita desse espírito comercial que deu início ao boom econômico do mercantilismo condicionando assim os primeiros passos da Revolução Industrial. Realizada a acumulação primitiva do capital, no dizeres de Marx, o capitalismo expandiu-se por todo o globo modificando a infraestrutura geográfica de continentes inteiros. Países das Américas, África e Ásia passaram a fazer parte do circuito global do capitalismo coroando assim a lógica do sistema.

Hoje certamente atravessamos mais uma interessante fase da revolução econômica dos últimos cinco séculos. O advento da nanotecnologia deu um novo significado à divisão internacional do trabalho com o aumento da produtividade e popularização dos produtos. A revolução nanotecnológica já está nos celulares, computadores, indústria química, medicina, farmácia entre outros setores.Ao longo dos séculos, conseguimos identificar o caminho para a prosperidade ou para o abismo no que diz respeito à modernização econômica. Países que adotaram o Estado de Direito, economia de mercado, responsabilização pública e livre iniciativa conseguiram alcançar patamares de efetivo desenvolvimento econômico com inclusão social.

À guisa de exemplo, posso citar Taiwan, Cingapura, Coreia do Sul, Chile, Costa Rica, África do Sul, Portugal, entre outros. O abismo econômico é a afirmação da irracionalidade que normalmente passa por desmantelamento do Estado de Direito, desincentivo à livre iniciativa, economia estatizada e falta de investimentos em educação. Países como Venezuela, Argentina, todas as experiências comunistas do Leste Europeu mostram que a irresponsabilidade econômica poder levar os países a aprofundar ainda mais as desigualdades.

O mundo poderia muito bem está celebrando a criação da riqueza que ajudou muitos países a escaparem do clube dos excluídos e periféricos do sistema internacional. Mas hoje prefere-se lembrar que o mundo tem níveis de desigualdade provocados na maioria das vezes por irresponsabilidades dos próprios governos com políticas de gastos descontrolados, autoritarismo e distributivismo eleitoral. Em economia o recado é claro: se não fizer a lição de casa nem pode sonhar em acusar os outros. Definitivamente, na lógica da economia de mercado, o inferno não são os outros.

*é cientista político

Breno Rodrigo

É cientista político e professor de política internacional do diplô MANAUS. E-mail: [email protected]
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