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Um refúgio para o passado

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Em Manaus as pessoas não têm o costume de dar antiguidades de presente, talvez, até porque não saibam onde encontrar um antiquário. Mas eles existem. Pouquíssimos, mas existem, e com um público seleto, que gosta de colecionar objetos de décadas, até séculos passados.
O DJ Nilson Barbosa já foi matéria, em uma outra entrevista realizada em maio do ano passado, para o Jornal do Commercio e agora, dois anos depois de iniciar o empreendimento, num espaço maior e em local à altura de seu negócio, um casarão secular, volta a ser destaque pela quantidade de peças que passou a disponibilizar.
“Não tenho ideia de quantas peças têm espalhadas pelas salas, mas tenho certeza que são milhares”, falou, bem mais do que na última entrevista, proporcionando ao visitante uma viagem através do tempo. Nas estantes e nas mesas, telefones, uma série deles, ainda de disco, de uma época em que se discava o número desejado. E os bibelôs, com os mais diversos formatos, de anjinhos, de animais, para serem colocados sobre os móveis da sala, além dos castiçais com seus belos formatos, os porta-joias, os cristais. E tudo vende. Pode demorar, o objeto ficar ainda mais antigo, mas vende. “Lembra daquela cadeira de barbeiro da marca Ferrante, que chamou sua atenção, da vez passada? Pois é, vendi por esses dias”, riu.
Agora, com tantos objetos a mais, fica difícil algum chamar a atenção, mas uma eletrola bem no meio do caminho, não passa em branco. Nilson ainda tenta colocar um disco de vinil, apenas para fazer pose, mas não acerta encaixá-lo no pino central. “Antigamente as pessoas não deveriam ter essa dificuldade”, brincou.
“Os preços, aqui, são os mais variados. Tem peças de R$ 50, R$ 100, R$ 1.000, R$ 3.000, depende da raridade. Também não posso vender as coisas muito caras senão fica difícil a rotatividade. A eletrola custa R$ 1.000, e é a única da loja”, explicou. Diferente das máquinas de costura com pedal, com algumas unidades espalhadas pelo casarão, mas com os móveis em péssimas condições. “Até conheço pessoas que restaurariam esses móveis, mas aí a peça ficaria muito cara. Prefiro que quem compre mande restaurar”, disse.

Um aparador por R$ 3.000

Atualmente a peça mais cara do Refúgio, já vendida, mas ainda em exposição, é um aparador com espelho, móvel que pode ser usado em vários ambientes da casa. Custou R$ 3.000, e mesmo que não seja tão antigo, é muito bonito, todo em madeira de lei, com um grande espelho de fundo e tampo sustentado por duas estátuas, também de madeira.
“Todo dia recebo clientes, tanto para comprar quando para vender objetos antigos”, falou. É assim que cada espaço do antiquário permanece ocupado, somente com um caminho para se andar. Nas prateleiras, rádios da época da válvula, quando se esperava vários minutos (enquanto a válvula esquentava) para se ouvir o som de alguma emissora; um solitário rádio amador; santuários abarrotados com imagens de santos; máquinas de datilografia, para as quais se era necessário fazer um curso até se tornar um datilógrafo. As empresas daquela época exigiam o diploma do curso; celulares, não tão antigos, mas já motivo de graça, os tijolões iniciais, levados pendurados na cintura. “Também vasculho objetos para cá. Ando olhando pelas ruas para ver se alguém joga fora algo valioso, mas é como garimpar”, explicou.
Mas se muitos dos clientes de Nilson são colecionadores, ele também não fica atrás e guarda algumas peças. “Estou com pena de vender essa placa da Texaco, e já recusei algumas ofertas. Se me derem R$ 1.000, talvez eu venda, porém, o boneco do Tchuck, pelo qual paguei R$ 750, não sai mais da minha coleção”, garantiu.

Evaldo Ferreira
[email protected]

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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