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Um reator para acabar com o lixo

 Sergio Duvoisin, Douglas Castro e Nélio Teixeira, pelo fim dos resíduos sólidos

Uma parceria entre pesquisadores da UEA, UFPA (Universidade Federal do Pará) e Ulbra (Universidade Luterana do Brasil) pretende acabar com os resíduos sólidos produzidos no PIM (Polo Industrial de Manaus), e até lixo hospitalar. Os professores doutores Sergio Duvoisin Júnior, da UEA; Nélio Teixeira Machado, da UFPA; e Douglas Castro, da Ulbra, desenvolveram um reator contínuo capaz de transformar resíduos sólidos em combustível. Há cinco anos eles começaram a trabalhar no projeto do reator, que agora está testado e pronto para entrar em ação, mas precisa de investidores para se tornar efetivo, conforme falou ao Jornal do Commercio o físico-químico Sergio Duvoisin. 

Jornal do Commercio: Fale sobre esse reator que transforma resíduos em combustível. Que resíduos seriam estes, e como seria o combustível?

Sérgio Júnior: As pesquisas para desenvolver o reator começaram há uns cinco anos. É um reator voltado para a área de energia e preservação do meio ambiente através do uso de resíduos agro/industriais visando a produção de combustível líquido. O aparelho possui uma gama de utilizações maior do que apenas queimar os resíduos para gerar energia. Os resíduos sólidos podem ser os mais variados, mas focamos nos que têm os maiores impactos ambientais, como os polímeros, poliestireno (isopor), polietileno, polipropileno e PET, muito descartados no PIM. Além disso, os coquinhos de tucumã e açaí podem ser utilizados para produção de combustível verde semelhante à gasolina e diesel.

JC: Explique como é o funcionamento desse reator.

SJ: Até então os reatores utilizados em pesquisas como esta, chamados de batelada, funcionam por cargas. Você enche o reator, conduz a reação, descarrega, limpa e volta a carregar para uma próxima batelada. A nossa proposta foi a de planejar e construir um reator contínuo, ou seja, que não interrompa seu funcionamento para descarregar, funcionando continuamente enquanto é alimentado com os resíduos. Este tipo de reator é o que a indústria prefere, uma vez que os custos de manutenção são muito menores que reatores de batelada.

JC: Até lixo de Covid pode passar por essa transformação. Que lixo, especificamente?

SJ: Este foi um projeto apresentado, na época braba da Covid, para a Suframa, mas não houve interesse deles. Trata-se de transformar os resíduos hospitalares em combustível. Iríamos planejar e construir um equipamento que coletasse nos hospitais estes resíduos, com a maior segurança possível, para manuseio fora dos hospitais. Na usina de beneficiamento eles seriam transformados em combustível líquido.

JC: Como seria essa reutilização do isopor?

SJ: Com relação ao poliestireno (isopor) os resultados foram além do esperado. Conseguimos transformar o isopor no insumo para a sua re-fabricação. O reator obteve um rendimento bruto de quase 90% de isopor, sendo que, após purificado, o rendimento atingiu a marca de 50% de estireno pronto para uso novamente. O isopor é um dos grandes poluentes da natureza, pois demora muito tempo para se degradar. Nosso reator, além de retirá-lo da natureza, pode gerar renda com a produção de estireno no Amazonas. Hoje o estireno usado aqui vem do México ou do Rio Grande do Sul.

JC: Vocês precisam de quantos quilos de resíduos para transformar em qual quantidade de combustível?

SJ: Com relação ao poliestireno, se pegarmos cem quilos de isopor, conseguimos transformar em 90 quilos de estireno bruto, dos quais, por destilação, produzimos 45 quilos de estireno purificado pronto para uso na indústria. Além disto, a partir da destilação obtemos, além do estireno, um resíduo sólido que poderá ser utilizado para modificar as qualidades do asfalto (deixá-lo mais duro), bem interessante para o clima do Amazonas. Nesse processo são produzidos gases inflamáveis que podem ser usados para geração de energia da própria usina de beneficiamento.

Antes resíduo sólido; depois, combustível

JC: Que tipo de empresa pode investir nesse projeto? O combustível poderá ser utilizado por ela?

SJ: No Amazonas existe uma empresa que produz isopor. Ela poderia reutilizar seus resíduos para a produção do estireno que ela mesma consome. Os aterros sanitários e lixões deixariam de existir, pois os resíduos sólidos seriam transformados em combustível líquido, utilizado em veículos de combustão interna (gasolina) ou compressão (diesel). O reator já está testado e aprovado, agora precisamos de investidores para construir uma planta piloto de ao menos 1.000 kg processados por dia, ou dez a treze toneladas de estireno purificado por mês, o que significa retirar da natureza 30 toneladas de resíduo de poliestireno por mês.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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