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Um olhar de compaixão sobre os menos favorecidos

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Se todo aquele que fosse bem sucedido na vida ajudasse o próximo, com certeza o mundo seria bem melhor, mas somente uma parcela pequena de pessoas acredita que precisa ‘devolver’ a quem precisa o que de bom ganhou na vida.
A professora Martha Falcão teve uma infância muito pobre. Perdeu a mãe ainda criança sendo criada pela avó, que conseguia o sustento das duas cozinhando nas casas dos abastados de Manaus.
“Mas ela teve a sorte de encontrar pela frente o juiz, depois deputado federal, André Araújo, que a ajudou com livros e até deu-lhe um trabalho com o qual ela conseguiu pagar seus estudos”, lembrou a professora Nelly Falcão, filha de Martha.
“Minha mãe foi professora por 70 anos tendo dado aulas em todos os níveis de ensino, do básico ao superior. Mas, perto de se aposentar, não tinha realizado seu maior sonho, que era ter uma creche, exatamente porque tinha tido uma infância pobre e queria ajudar crianças pobres, como fora ajudada”, contou.
“Na década de 1980, meu pai tinha um terreno no chamado Planeta dos Macacos, hoje Redenção. Eu pedi o terreno dele pra construir a creche, ele me deu, mas sem minha mãe saber. Na época eu já tinha o Pinocchio Centro Educacional, e foi com o dinheiro de lá que comecei a construir a creche”, contou.
“Mandei cercar e terraplanar, pois era um terreno no barro, todo irregular. Coloquei uma placa com as inscrições: ‘Futuras instalações da creche Santa Martha. Preserve este local’, e as pessoas respeitaram, como respeitam até hoje”, recordou.
O arquiteto Cláudio Nina fez o projeto da creche e ao longo de uns quatro anos as instalações foram sendo construídas.
“Quando a creche ficou pronta, em 1991, eu já tinha inaugurado o Colégio Martha Falcão, com o nome da minha mãe, então resolvi homenagear minha sogra Zezé Pio de Souza. A inauguração aconteceu no dia 12 de agosto de 1991, aniversário do meu marido Geraldo, que me ajudou demais e sem o qual a instituição não teria existido”, revelou.
 
Uma creche de presente
“Minha mãe vibrou de emoção quando a levei para a inauguração. Nem acreditou no que viu. Até sua morte, em 2016, aos 87 anos, ela foi a diretora da creche. No começo ela ficava aí na porta chamando as mães para trazerem seus filhos pequenos, depois começou a ir nas ‘bibocas’ atrás das crianças que ficavam ‘presas’ em casa enquanto seus pais iam para o trabalho”, informou.
“Uma vez encontrou um pai chegado do interior com três filhos, separado da mulher, morando debaixo de uma barraca, com os filhos jogados pelo chão. Trouxe as três crianças para cá. Também trouxemos alguns dedicados funcionários do Pinocchio para nos ajudar, e foram de grande importância para a creche naquele momento”, recordou.
Hoje, às portas de completar 28 anos de existência, com sete professoras, onze estagiárias, coordenadora pedagógica, psicóloga, merendeira e cozinheira, cada dia é uma nova conquista para os funcionários da Zezé Pio de Souza e Nelly Falcão, que assumiu a direção do estabelecimento desde a morte da mãe.

Estrutura
A creche possui sete salas de aula, ludoteca, refeitório, playground, cozinha, horta, sete banheiros adaptados para as crianças, secretaria e diretoria dispostos num amplo terreno na Redenção. 
Atende crianças de dois a seis anos, do bairro, durante o dia inteiro, com café da manhã, almoço e lanche. Elas aprendem letras, números; as maiores, ler e escrever e têm até aulas de inglês. “Lidamos com pessoas muito carentes, em todos os sentidos. Às vezes pais, ou mães, vêm para a reunião de pais com tornozeleira eletrônica. Outras vezes as crianças são agredidas por pais alcoólatras e muitas mães são adolescentes ausentes. Começamos atendendo 60 crianças, hoje são 140, e as histórias sempre se repetem”, disse.
“É um árduo trabalho, cuidar dos filhos alheios, mas tem valido a pena nesse quase 28 anos”, completou Nelly.
 
Os bem agradecidos
As provas de que seu trabalho tem valido a pena aparecem esporadicamente para Nelly Falcão.
“Um dia um rapaz se apresentou para uma vaga no departamento financeiro do Colégio Martha Falcão. Pelas qualificações, foi admitido. Perto do Natal, ele soube que seriam distribuídos brinquedos para as crianças na creche e se ofereceu para ajudar. Só então falou para mim que havia sido uma das crianças da creche. Fui procurar sua ficha, e lá estava ele, ainda criancinha”, riu.
De outra feita, o rapaz, representante de uma empresa de programas de intercâmbio de alunos, foi pedir autorização de Nelly para oferecer os programas para os alunos do Colégio Martha Falcão.
“Ele me olhou nos olhos e, de imediato eu reconheci aquele olhar. Ele me perguntou se eu lembrava dele. Eu disse que lembrava do olhar. Então ele contou que sempre que eu chegava à creche, o colocava no colo, e ele gostava muito de sentir o cheiro do perfume que eu usava. Agora era um rapaz que falava inglês fluentemente e até morara no exterior”, contou.
“Já tive uma professora no Pinocchio que foi aluna da creche e mais recentemente um pai veio agradecer que a filha, agora adolescente, tinha estudado aqui enquanto ele e a esposa puderam trabalhar tranquilos. Disse que a filha é obediente e muito estudiosa e ele próprio está cursando a faculdade de pedagogia para um dia se formar e vir ajudar na creche”, finalizou.
 

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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