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Um olhar crítico sobre o estágio supervisionado

O que é Estágio Supervisionado? Para o professor Carlos Roberto Jamil Cury “Qualquer dicionário pedagógico diz que o primeiro objetivo do estagio é isso: o mergulho que o novato, que o aprendiz tem que ter com relação à situação existente dentro de um determinado âmbito da área de conhecimento naquela profissão”. Conclui-se, portanto, que o Estágio Supervisionado se caracteriza como uma articulação entre a teoria e a prática, uma divisão de responsabilidade entre a instituição universidade e/ou as instituições públicas ou privadas escolhidas para que o estudante realize tal atividade. Não significa, como alguns estudiosos pensam, segmentar os cursos em dois polos isolados entre si: um caracterizando o trabalho de sala de aula e outro, caracterizando as atividades de estágio.
Os autores entendem que a teoria e a prática constituem uma práxis indissociável de um mesmo objeto, importantes para se entender o processo de construção do conhecimento. Quando se dicotomizam estas realidades simultâneas, separa-se o que é inseparável, pois não existe teoria sem prática e nem prática sem teoria. O eminente educador Paulo Réglus Neves Freire (1921*1997†) salienta que não há dicotomia entre teoria e prática; há síntese do diverso: a teoria caminha e serve como guia da ação, e a prática, como processo dialético, confirma, desmente ou acrescenta elementos no universo teórico, num movimento de constante superação. O educador ressalta, ainda, que uma verdadeira educação se fundamenta na unidade entre teoria e pratica, entre o trabalho manual e o intelectual e que, por isso, incentiva o educando a pensar de maneira lógica.
Podemos afirmar, a partir desses enfoques, que a teoria não mais preside a prática, da mesma maneira que a prática não significa mais a aplicação da teoria. “Nessas visões, toda teoria é elaborada a partir e em função da prática e sua verdade se verifica em constante confronto com a prática” (ADOLFO SANCHES VASQUEZ). Para que se concretize essa articulação é imprescindível que se opere uma mudança de epistemologia da prática para a epistemologia da práxis, pois esta é um movimento de ação e reflexão, onde não existe separação entre teoria e prática. Da mesma maneira pensa o professor Evandro Ghedin, ao afirmar que “a separação de teoria e prática se constitui na negação da identidade humana. Quando tal movimento permite-se o retorno a negação do ser, em seu interior, aquilo que tornou o ser humano possível: a reflexão instaurada pela pergunta. A alienação se encontra justamente na separação e dissociação entre teoria e prática”.
Ainda, constatou-se, com raras exceções, que ainda persiste a concepção equivocada de que o Estágio Supervisionado é a aplicação da teoria na prática. Não temos dúvida em afirmar que as relações entre teoria e prática continuam a se estabelecer de maneira mecânica desvinculadas entre si. Em outras palavras: os cursos são segmentados em dois polos isolados entre si: um referente a parte teórica em sala de aula e o outro, que caracteriza o estágio propriamente dito.
O primeiro pólo dá muito valor aos conhecimentos acadêmicos, deixando em plano secundário a prática como aspecto importante na formação dos alunos; enquanto que o segundo polo dá ênfase ao fazer, não levando em conta a dimensão teórica dos conhecimentos como fator de extrema importância na análise contextual da realidade.
Na tentativa de desvendarmos a dicotomia entre teoria e prática e entender os valores explícitos e implícitos nas Resoluções de Cursos que disciplinam o Estágio Supervisionado em IES (Instituições de Ensino Superior), buscamos o racionalismo cartesiano, no qual predomina a divisão das coisas para se compreender e chegar ao conhecimento.
René Descartes (1596*1650†), filósofo, físico e matemático francês, postulava que tudo estava sujeito à revisão, uma vez que nada era verdadeiro e que a verdade era relativa. Afirma, ainda, que ao se modificar determinada situação, mudava-se também a resposta. Para ele, o intelectual tinha que ver além de seus horizontes por meio do racionalismo metódico.
Para o referido filósofo, a ciência tentava explicar seu ponto de vista, reduzindo a realidade, dentro do seu campo especifico de demonstração. Tentou demonstrar não só o real, mas também a divisão corporativista criada para se chegar ao conhecimento.
Não temos dúvida em dizer que a fragmentação do saber está presente desde o início da história da educação, não só na nossa, mas em toda a história educacional do Ocidente. Essas reflexões nos permitem afirmar que, no processo educacional, sempre trabalhamos numa visão teórico-linear, caracterizada pelo raciocínio cartesiano e pragmatismo utilitário. Ao examinarmos algumas Matrizes Curriculares de alguns cursos de nível superior (as licenciaturas e bacharelados), verificamos que a estrutura das mesmas é muito semelhante ou até mesmo idêntica.
Em síntese, pensar o Estágio Supervisionado como resultado da ligação entre ensino e aprendizagem requer um currículo redimensionado, no qual todo o conhecimento ajudará a instrumentalizar o indivíduo enquanto sujeito que atua corretamente, articulando o pensar com a dimensão técnica do fazer e com o saber sistematizado, para interferir na natureza e na sociedade em que vive, uma vez que a estrutura interna dos currículos é do tipo teórico-dedutivo, partindo de fragmentos das teorias gerais das ciências, para depois abordar situações práticas.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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