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Um amante e defensor da Amazônia

Um amante e defensor da Amazônia

Desde que o primeiro conquistador pisou na Amazônia (em 1637 Portugal organizou a primeira expedição de reconhecimento à região), países europeus (principalmente Inglaterra, França e Holanda) e depois os Estados Unidos (a partir de 1849, quando americanos passaram a ficar de olho na bacia amazônica) não mais pararam de ambicionar as riquezas existentes nesse nosso pedaço do planeta. E tem sido assim até os dias de hoje, agora com mais países europeus interessados, e os Estados Unidos.

Mas assim como existiram, e existem, maus brasileiros que, de alguma forma, ajudaram e ajudam os estrangeiros nas suas tentativas contra a Amazônia, há vários outros que, mesmo de longe, a defendem. Uma destas pessoas foi Frederico José de Sant’Ana Nery, paraense de Belém, mas com fortes raízes em Manaus, onde está enterrado depois de ter vivido boa parte de sua vida em Paris, de onde sempre ecoou para a Europa sobre as belezas da Amazônia. Uma das formas que Sant’Ana Nery encontrou para divulgar a Amazônia foi através do que escrevia. Seu primeiro livro, e o mais conhecido, é ‘Les Pays des Amazones – L’El-Dorado, les terres a cautchouc’ (O país das Amazonas – o Eldorado, as terras da borracha), de 1885.

Sant’Ana Nery nasceu em 1848, na capital paraense, filho de Silvério Nery. Uma curiosidade. Quando Silvério casou com Maria Antony Nery, levou consigo os filhos do casamento anterior, Sant’Ana Nery e Ana de Sant’Ana Nery. Com Maria, teve dois filhos que marcaram na política do Amazonas como governadores: Silvério José Nery (1900/04) e Antônio Constantino Nery (1904/08) que, como veremos mais adiante, pareciam não nutrir uma boa amizade com o irmão por parte de pai.

Amigo de José Patrocínio

Ainda criança, Sant’Ana Nery estudou no Seminário de São José, em Manaus, em prédio hoje demolido, então localizado onde também existiu a praça General Osório em frente ao atual Colégio Militar.

Em 1862, quando da presença em Manaus do bispo do Pará, Dom Antônio de Macedo Costa, conforme escreveu Sant’Ana Nery em seu outro livro ‘Folk-lore Brésilien’, de 1889, aquele religioso patrocinou sua viagem a Paris com a condição dele se tornar um religioso. O garoto, então com 14 anos, até cursou o Seminário de Saint-Sulpice, mas logo percebeu que aquele não era o caminho que desejava seguir. Se formou em Letras, em 1867, depois Ciências. Na Itália doutorou-se em Direito, pela Universidade de Roma.

Em seu livro ‘Dicionário Amazonense de Biografias’, Agnello Bittencourt escreveu: ‘a biografia de Sant’Ana Nery é vultosa, versando sobre os mais variados assuntos, principalmente a respeito do Brasil, e mais, do Amazonas. Divulgou na imprensa, com autoridade e seriedade, assuntos brasileiros. Em artigos, livros e conferências procurou sempre criar uma boa imagem de sua pátria. Durante a Guerra do Paraguai (1864/1870) escreveu artigos de defesa do Brasil perante o público europeu’.

Apesar de morar na distante Europa, Sant’Ana Nery sempre vinha ao Brasil, e ao Amazonas, rever parentes e amigos e, com certeza saber das notícias daqui para poder falar sobre a região em suas palestras por aquele continente.

No livro ‘José do Patrocínio – a pena da abolição’, o autor Tom Farias contou que quando o jornalista José do Patrocínio, um dos grandes batalhadores pela libertação dos escravos, resolveu morar em Paris para se tratar de problemas de saúde, seu grande cicerone foi Sant’Ana Nery.

Escreveu Tom: ‘foi quando surgiu em sua vida um anjo providencial: o brasileiro Frederico José de Sant’Ana Nery. Durante o ano de 1883, Sant’Ana Nery fizera várias viagens pelo Brasil, tendo tido, provavelmente, algum contato com Patrocínio, uma vez que era colaborador do ‘Jornal do Commercio’ (do Rio). Autor aclamado de diversas obras, todas publicadas em língua francesa e italiana, Sant’Ana Nery, que chegou a ter o título de barão, era conhecedor profundo da cultura francesa, e graças a ele é que Patrocínio se viu, pode-se dizer, salvo de um verdadeiro fiasco em terras estrangeiras. Por seu intermédio, começou, finalmente, a se movimentar em Paris, participando da vida parisiense tanto na esfera política, quanto na cultural’.

Esquecido pelos amazonenses

Não se sabe como Sant’Ana Nery ganhou o título de barão, mas Agnello Bittencourt acredita ter sido dado pelo papa Leão XIII (1810/1903) devido Sant’Ana Nery ter defendido, em algum momento, o papado.

Outra curiosidade. Em 1889, estando no Rio de Janeiro, Sant’Ana Nery foi preso e desterrado na ilha de Fernando de Noronha a mando do presidente Prudente de Morais (1894/98) acusado, junto com outros nomes, pelo atentado e morte, no ano anterior, contra o ministro da Guerra, marechal Carlos Machado Bittencourt.

Sant’Ana Nery morreu em Paris, em 3 de junho de 1901, com 53 anos, e seu corpo foi trazido para Manaus, onde está enterrado no cemitério São João Batista.

Monumento em homenagem a Sant’Ana Nery foi demolido na gestão do prefeito Jorge Teixeira

De acordo com o historiador Ed Lincon Barros, em 1904, o escultor Sebastião Diniz de Carvalho construiu um monumento em homenagem a Sant’Ana Nery, posicionado na praça 15 de Novembro (hoje transformada em estacionamento), sob a promessa do então governador Silvério Nery de pagá-lo, o que não aconteceu. Durante todo o mandato seguinte, de Constantino, o outro meio-irmão de Sant’Ana Nery, Sebastião Diniz tentou receber o pagamento, o que também não aconteceu nem depois de sua morte quando seus filhos continuaram com a cobrança. O monumento foi totalmente demolido na gestão do prefeito Jorge Teixeira (1975/1979) e somente o busto encontra-se exposto no Centro Cultural Palácio Rio Negro.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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